Guilherme Boulos (Psol) esteve no Brasil de Fato, nesta quarta-feira (4), para a terceira entrevista do ciclo de sabatinas com os candidatos à prefeitura de São Paulo (SP) nas eleições de 2024.
Nascido na capital paulista, Boulos ganhou destaque nos movimentos populares por moradia. Professor e ativista político, em 2020 concorreu à Prefeitura de São Paulo, mas não chegou a ser eleito. Em 2022, foi o deputado federal mais votado do estado.
Durante a sabatina, o psolista prometeu encerrar o contrato com as cinco empresas que controlam o sistema funerário na capital paulista. "Minha atuação será integralmente para retomar o controle público e acabar com essa indústria da morte em SP", afirmou.
O candidatou ressaltou que a privatização pela qual o setor passou aumentou o valor cobrado da população para realização de velórios. Em fevereiro deste ano, reportagem do Brasil de Fato mostrou que os sepultamentos ficaram cerca de 11 vezes mais caros na cidade após a concessão da gestão dos cemitérios à iniciativa privada, realizada em março de 2023 pela gestão do atual prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB).
Ele também definiu como um "escândalo" a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) sem consulta pública, mas admitiu que o prefeito não tem poder de reverter o processo, que só pode ser revisto por vias judiciais.
Extrema direita
O candidato elegeu "dois adversários" principais nas eleições: o bolsonarismo e o banditismo miliciano, que Boulos associa com seus principais oponentes, Nunes e Pablo Marçal (PRTB).
"Foi na gestão Nunes que a gente viu a penetração do crime no sistema de transporte de São Paulo", afirmou. Sobre Marçal, disse que o candidato "é um problema de quem defende a democracia".
Boulos aparece em empate técnico com Nunes e Marçal em pesquisa mais recente do instituto Datafolha, divulgada em 22 de agosto. O psolista tem 23% das intenções de voto; Marçal, 21%; e Nunes, com 19%. A margem de erro é de três pontos percentuais.
Justificando a sua entrada na política institucional, o deputado federal afirmou que a força do movimento popular é necessária, mas insuficiente para conter o deslocamento à direita nas instituições.
"É preciso fazer a disputa dentro da instituição, não dá para deixar só para os caras", afirmou. "Se tem a bancada ruralista, tem que ter uma bancada da reforma agrária", exemplificou.
Transporte e cracolândia
Sobre o transporte público, o candidato propôs rever contratos para mudar os gargalos enfrentados pelo setor. Segundo ele, enquanto o subsídio da prefeitura ao setor quase dobrou, as empresas diminuíram em quase 20% as viagens na cidade.
A criação de unidades móveis do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), com consultórios de rua nas regiões de uso de crack, foi defendida pelo candidato para atuar na questão da Cracolândia.
Boulos propôs ainda o tratamento de saúde mental utilizando experiências que deram certo em outros lugares do mundo, além de assistência social e programa de acolhimento com moradia e geração de renda e o combate ao crime organizado.
Pautas da esquerda
Confrontado sobre a ausência de candidatos negros à Prefeitura de São Paulo, o candidato prometeu que, caso vença as eleições, seu mandato trará a "maior representação negra no secretariado da história de São Paulo".
Uma eventual gestão ainda incluiria, segundo o candidato, abordagem antirracista nas forças de segurança, incluindo câmaras corporais em policiais metropolitanos e educação antirracista nas escolas, além da recriação da Secretaria Executiva de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
Já quando questionado sobre sua defesa do armamento da Guarda Civil Municipal (GCM), diante da bandeira histórica de desarmamento na esquerda brasileira, o candidato disse que é preciso diferenciar a segurança menos militarizada e não armada. "Numa cidade da dimensão de São Paulo e para o que a GCM tem que fazer, ela tem que ser armada."
No encerramento da entrevista, Boulos criticou a negativa de candidatos do campo da direita de não participarem do ciclo de sabatinas do Brasil Fato.
"Quando a gente vai para algumas sabatinas de órgãos de imprensa com jornalistas que têm posições mais à direita, a gente é questionado por questões que vêm com viés mais à direita, e eu vou para todas elas", afirmou. "Por isso eu acho muito ruim que os candidatos de direita não venham para uma sabatina de um órgão que é reconhecidamente progressista."
A conversa foi transmitida ao vivo nos canais do Youtube do Brasil de Fato e da Rede TVT. Participaram da bancada de entrevistadores, além de Igor Carvalho e Nara Lacerda, que apresentam semanalmente o podcast, a repórter Caroline Oliveira.
Assista ao debate na íntegra:
Sabatinas BdF
As sabatinas do Três por Quatro já receberam os candidatos Altino Prazeres Jr. (PSTU) e Ricardo Senese (UP). As entrevistas estão disponíveis no YouTube, nos canais do Brasil de Fato e da TVT. O podcast Três por Quatro pode ser acessado nas principais plataformas de streaming.
Também foram convidados para as sabatinas os candidatos Ricardo Nunes (MDB), José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB) e Pablo Marçal (PRTB), que estão entre os cinco mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto. Os quatro, no entanto, ainda não confirmaram presença.
Edição: Nicolau Soares
