Eu estar fazendo cinema hoje, devo a ele, com certeza
Estreia nesta quinta-feira (5) o documentário Otelo, o Grande, uma biografia contada a partir de relatos do próprio artista com trechos inéditos da vida e do trabalho do próprio ator consagrado como um dos maiores comediantes do país. O filme chega em 25 cidades do país e foca em mostrar a múltipla expressão artística dele, que enfrentou o racismo para desenvolver o cinema, teatro e televisão na primeira metade do século 20 no Brasil.
O longa, dirigido por Lucas H. Rossi dos Santos e produzido por Ailton Franco Jr, levou dez anos para ser feito. No ano passado o filme venceu o Prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio.
Nascido em Uberlândia, em 1915, Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo, notabilizou-se como um dos fundadores do cinema nacional, trabalhando ao lado de importantes figuras da cena internacional, como Orson Welles, Marcel Camus e Werner Herzog.
No cinema nacional, ficou famoso por contracenar com Oscarito e também ter atuado no filme Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade.
"É muito importante observar que, historicamente, Otelo é um Exu, entendeu? É um cara que abre os caminhos", afirma o diretor em entrevista ao programa Bem Viver desta quarta-feira (4).
"Eu acho que é muito bonito olhar para ele como um cara que queria abrir os caminhos e que conseguiu isso. Brigar por pessoas negras trabalhando com cultura no Brasil, sobretudo atores. Mas pessoas negras em geral. Eu estar fazendo cinema hoje, devo a ele, com certeza."
O diretor explica que há tempos tinha a vontade de produzir o filme. Ele relata que, assim como boa parte da população, conhece Grande Otelo "apenas" como um grande comediante, sem saber da trajetória que ele desenvolveu em outras expressões artísticas.
"Para mim, Otelo era isso. Como um ator cômico, como uma espécie de gênio da arte, da interpretação, sabe? Como um nome importante da cultura negra, mas eu não tinha a dimensão de quem era Otelo."
O diretor lembra que o primeiro contato que teve com Grande Otelo foi por conta de um filme que seu pai lhe apresentou, dizendo se tratar do "Chaplin brasileiro".
Após ter tido contato com essa produção do artista brasileira, Lucas H. Rossi dos Santos afirma ter "mergulhado" na biografia de Otelo, investigando detalhes da carreira dele e das manifestações públicas que fez ao longo da vida.
"Fiquei 12 anos conhecendo ele e em 82 minutos eu vou mostrar um pouquinho do que dá para conhecer nesse tempo, para que as pessoas entendam quais foram os caminhos desse homem, da onde ele veio, para onde ele vai, qual a importância dele para a cultura brasileira e, sobretudo, o que esse cara pensa, o que acha do mundo, o que acha do tempo em que ele vive, o que ele acha da profissão dele no Brasil, o que ele acha do próprio país."
O documentário acaba se transformando em um relato autobiográfico, por recuperar entrevistas do artista a diversos programas de TV. Tudo isso encaixado com trechos de filmes e outras aparições públicas do artista.
No entanto, o projeto inicial era diferente. O diretor conta que a princípio o filme se estruturaria de forma mais clássica, ou seja, mesclando registros históricos com entrevistas feitas para o documentário.
"Eu tinha entrevistado o Paulo José, Ruth de Souza, Zé Celso, Sérgio Cabral, os filhos... Entrevistei essa galera e fui para montar inicialmente um piloto, um teaser, né? Dessas entrevistas com alguns materiais de filmes que eu já tinha assistido."
O corte foi apresentado para a produtora que aprovou a ideia, mas o diretor disse que resolveu mudar o "leme" do filme ao se deparar com todo o acervo histórico levantado pela equipe. Foram mais de 300 horas de arquivos recuperados.
"Então eu mostrei o teaser e falei 'Pô, beleza, dá para fazer um documentário assim, desse jeito, com entrevista e arquivo histórico e tal'. Só que quando eu fui ver essas coisas da pesquisa, eu falei 'caramba cara, eu acho que dá para o cara contar a própria história dele. Não sei de que jeito que eu vou fazer isso, mas eu acho que eu vou fazer.'"
Entre os trabalhos mais recentes, Grande Otelo atuou, no início da década de 1990, na Escolinha do Professor Raimundo, com Chico Anysio. Seu último trabalho foi na telenovela Renascer, em 1993, pouco antes de morrer.
O filme tem estreia marcada para as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Aracaju, Balneário Camboriú, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Caxias do Sul, Cuiabá, Fortaleza, João Pessoa, Leme, Londrina, Maceió, Niterói, Palmas, Paulista, Poços de Caldas, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Salvador, Santos, São José dos Campos e Vitória.
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Edição: Nathallia Fonseca
