O público da Mostra também foi brindado com serviços voltados à saúde e bem estar
A 3ª Mostra Nacional da Produção das Margaridas, edição de 2024, reuniu e apresentou ao público de Brasília um pouco da produção das mulheres trabalhadoras rurais do campo, da floresta e das águas.
Um espaço importante para trocas de experiências entre as produtoras de diferentes regiões e realidades, além de uma janela de oportunidade para chamar atenção do governo e do público em geral.
“É a nossa luta por fomento, por assistência técnica que chegue lá no campo para poder também facilitar com que essas mulheres possam também fazer a escoamento dos seus produtos, que muitas vezes elas produzem e nem tem para quem vender”, explica Mazé Moraes, secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), que organiza a mostra.
A exposição contou com o apoio das federações e sindicatos filiados e das organizações parceiras da Marcha das Margaridas, que, a cada quatro anos, coloca milhares de mulheres nas ruas de Brasília para revivificar o mês em que Margarida Alves foi assassinada em 1983.
A agricultora e líder sindical foi morta na porta de sua casa por latifundiários por defender os direitos das mulheres e a reforma agrária, mas seu legado segue vivo. Além de conhecer quem coloca a mão na terra de fato para cultivar comida saudável ou quem cria maravilhas artesanais com habilidade e conhecimentos ancestrais, o público da Mostra também foi brindado com serviços voltados à saúde e bem estar.
Também é oportunidade de conhecer produtos cobiçados e multiutilitários, como os óleos de Andiroba, Patauá e Inajá, típicos da região amazônica. Como os apresentados por Sandra Gonçalves, agricultora familiar de Limoeiro do Araju, no Pará. “Desde meus ancestrais a gente já usava esses óleos, já era comum na nossa família. Eu herdei isso dos meus avós e dos meus pais”, conta.
Sandra afirma que o trabalho é desenvolvido por ela com muita dificuldade porque não há equipamentos para extração, que são as prensas. “A gente extrai manualmente, o que demanda muito tempo e bastante semente, e a quantia é bem reduzida. Mesmo assim, a gente faz com muito amor, com muito carinho”, acrescenta.
Cobiçados em todo mundo, mas ainda pouco conhecidos pelos brasileiros, os produtos das florestas possuem características únicas. Porém, o interesse de corporações pelas propriedades medicinais e cosméticas contidas em sementes, cascas de árvore, raízes e outros componentes vegetais ainda não se materializou em oportunidades e renda para as comunidades locais.
Foram esses fatores que motivaram Sandra e seus conterrâneos a se mobilizar. “As empresas contribuem muito pouco, não trazem soluções adequadas para a gente, porque elas vêm buscar, utilizam nossos conhecimentos e depois fazem como se fossem delas, como se fossem um patrimônio delas, e isso desvaloriza o nosso trabalho e o nosso conhecimento”, desabafa.
Sandra revela que seu sonho é ter os equipamentos, para que as próprias margaridas produzam dentro de suas comunidades. “Em vez de nós estarmos vendendo a semente, poderíamos vender os nossos óleos para as pessoas que ainda não conhecem. porque isso sim agrega valor”, afirma.
O sonho de Sandra e de milhares de outros pequenos produtores do campo espalhados pelo país depende de renovação e perpetuação das suas práticas. Por isso, elas fazem questão de valorizar os programas federais de crédito rural direcionados às novas gerações, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf Jovem.
É o caso da bioagricultora e artesã Francimara Santos de Acosta, que projeta o futuro do Quilombo de Picadas, em Ipanguaçu, no semiárido do Rio Grande do Norte.
“Os produtores conseguiram acessar o Pronaf, que é pelo Banco Nordeste. A comunidade quilombola e o entorno também, mas, a luta continua sempre. E uma das coisas que a gente está tentando agora é a sucessão rural, para manter o jovem no campo e a agricultura familiar no futuro. Se nossos jovens não permanecerem, as empresas vão invadir nossas terras novamente”, alerta.
A ameaça constante do agronegócio monocultor é repelida pela produção agroecológica de homens e mulheres do Quilombo de Picadas, reconhecido oficialmente pelo Incra apenas em 2015. Os produtos são vendidos em feiras, pela internet e também abastecem instituições de ensino - através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Sem desperdiçar nada, 25 mulheres artesãs aproveitam a fibra da bananeira e a palha da carnaúba para criar materiais e utilitários diversos. As Margaridas estão espalhadas em todo o país e ajudam a levar alimento saudável, saboroso e fresco à mesa dos brasileiros.
Edição: Douglas Matos