A presidenta de Honduras, Xiomara Castro, voltou a denunciar na terça-feira (3) o que chamou de um "golpe de Estado" em andamento contra seu governo após a decisão de cancelar o tratado de extradição com os Estados Unidos.
"Ratifico que a paz e a segurança interna da República estão em risco [...] por um novo golpe de Estado que o povo deve deter", disse Xiomara em rede nacional de rádio e televisão. Xiomara encerrou o tratado com os Estados Unidos há seis dias, argumentando que buscava evitar que Washington o utilizasse contra militares hondurenhos e facilitasse uma tentativa de golpe de Estado.
No dia 30 de agosto, o chanceler hondurenho, Enrique Reina, afirmou que fontes da inteligência do país detectaram um plano articulado pela embaixadora dos Estados Unidos em Honduras, Laura Dogu, para supostamente dividir as Forças Armadas e destituir o chefe militar Roosevelt Hernández.
Ainda segundo o governo de Honduras, o plano estaria ligado a declarações dadas pela diplomata dos EUA após autoridades hondurenhas terem se reunido com o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López.
A oposição hondurenha, por sua vez, acusa Castro de cancelar o tratado para proteger membros de seu governo e de sua família.
No sábado, renunciaram um cunhado e um sobrinho da presidenta: o secretário do Congresso, deputado Carlos Zelaya, após admitir perante o Ministério Público que se reuniu com narcotraficantes em 2013, e seu filho, o ministro da Defesa, José Manuel Zelaya. Nesta terça-feira, o portal especializado InSight Crime publicou um vídeo dessa reunião.
"Em relação ao vídeo [...] condeno qualquer tipo de negociação entre narcotraficantes e políticos", afirmou a presidenta em sua mensagem ao país na terça-feira. "O plano para destruir meu governo socialista, democrático, e o próximo processo eleitoral estão em andamento", acrescentou.
Entenda o caso
O acordo era considerado pelos EUA e antigos governantes hondurenhos uma ferramenta para desmantelar o "narco-Estado" que, segundo a Justiça estadunidense, foi criado em Honduras sob o governo anterior de Juan Orlando Hernández (2014-2022). O próprio ex-presidente de direita foi extraditado em 2022, após deixar o poder, e condenado em junho, em Nova York, a 45 anos de prisão.
No entanto, autoridades do governo de Castro denunciaram que Washington estaria utilizando o acordo para desestabilizar o país, principalmente por conta de sua relação com a Venezuela.
Após passar por um governo aliado aos Estados Unidos, Honduras retomou relações com Caracas a partir do governo atual de Castro. A reunião com o ministro da Defesa venezuelano, portanto, foi considerada normal por Honduras, mas como a autoridade venezuelana é sancionada e classificada sem provas como "narcotraficante" pelos EUA, o acordo serviria para acusar também as autoridades hondurenhas de cumplicidade.
O chefe da diplomacia hondurenha explicou a decisão de rompimento do tratado "para que a extradição não seja utilizada como arma político-eleitoral, contra a instituição e os funcionários do governo".
"Aqui pode estar neste momento sendo gestada uma tentativa de golpe de Estado" e o tratado de extradição "pode ser como [...] uma arma política nesse embate" contra o governo de Castro, disse Reina em um programa da emissora local Canal 5.
"Essas acusações que a embaixadora faz de praticamente ligar o ministro da Defesa [José Manuel Zelaya] e o chefe do Estado-Maior Conjunto [das Forças Armadas, general Roosevelt Hernández] com o narcotráfico, pode ser o passo de acusá-los para poder extraditá-los", acrescentou o chanceler.
O diplomata apelou ainda ao respeito pela autodeterminação dos povos, à soberania do Estado, ao princípio da não interferência em assuntos internos, e às decisões do governo hondurenho de manter relações com qualquer país do mundo, tal como estipulado na Carta das Nações Unidas.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito