Infraestrutura

China promete ampliar cooperação com África e investir R$ 285 bi no continente até 2027

Pequim já possui parcerias estratégicas com 53 dos 54 países africanos; investimentos vão da indústria à agricultura

Brasil de Fato | Pequim (China) |

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Xi Jinping cumprimenta o presidente nigeriano, Bola Tinubu, durante o Fórum de Cooperação China-África 2024, no Grande Salão do Povo. - GREG BAKER / POOL / AFP

Após manter reuniões bilaterais com 25 chefes de Estado do continente africano em menos de uma semana, o presidente da China, Xi Jinping, anunciou nesta quinta-feira (05) o projeto de implementar dez ações de parceria com a África que contarão com o financiamento do governo chinês no valor de 360 bilhões de yuans - cerca de R$ 285 bilhões.

Segundo o mandatário, os projetos devem impactar diversas áreas de infraestrutura e os repasses devem ser executados até o ano de 2027. Xi Jinping está desde segunda-feira (2) se reunindo com presidentes de países africanos em Pequim, antes e durante o Fórum de Cooperação China-África (Focac, na sigla em inglês), que começou na quarta-feira (4) e vai até amanhã (6).

Nesta edição, a China decidiu passar a ter parcerias estratégicas com todos os países africanos com quem tem relações diplomáticas, ou seja 53 dos 54. A elevação do nível das parcerias é uma prática crescente da política externa chinesa para estreitar laços com países, principalmente do chamado Sul Global. 

O investimento total estará dividido em uma linha de crédito de 210 bilhões de yuans (cerca de R$ 165 bilhões), 80 bilhões de yuans (R$ 63 bi) em assistência, e 70 bilhões de yuans (R$ 55 bi) de investimento de empresas chinesas na África.

Na área da cooperação em saúde, foi projetada a criação conjunta de uma aliança de hospitais e centros médicos. A China prometeu enviar 2 mil agentes sanitários ao continente e lançar 20 programas de instalações de saúde e tratamento da malária. Segundo a OMS, em 2022, a África teve 94% dos casos de malária (233 milhões) do mundo e 95% das mortes pela doença (580 mil).

Já na área da agricultura e alimentação, a China disponibilizará aos países africanos 1 bilhão de yuans (cerca de R$ 787 milhões) para assistência alimentar emergencial, construção de áreas demonstrativas agrícolas padronizadas de mais de 6,6 mil hectares, envio de 500 especialistas agrícolas e criação de uma "aliança de inovação científica e tecnológica agrícola China-África".
 
Neste setor, o presidente chinês disse que serão "incentivados os investimentos de dois sentidos para novos negócios de empresas chinesas e africanas", para contribuir para que os países africanos ganhem valor agregado e criem, pelo menos, 1 milhão de postos de trabalho locais.

Segurança comum é a décima área de cooperação anunciada. Xi afirmou que a China oferecerá 1 bilhão de yuans para treinar 6 mil militares e mil policiais, "e convidar 500 jovens oficiais militares para visitar a China". Também foi anunciada a criação de um centro de cooperação de tecnologia digital para dar início a 20 projetos digitais e 30 projetos de conectividade de infraestrutura na África.

Nesta semana, os presidentes e chefes de Estado da Líbia, Mali, Comores, Togo, Djibouti, Seychelles, Chade, Malaui e Mauritânia firmaram a elevação das relações diplomáticas com a China para o nível de parcerias estratégicas. Outros países, como Nigéria e Camarões, passaram a ter parcerias estratégicas abrangentes. O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, firmou uma "parceria cooperativa estratégica completa na nova era" com o gigante asiático (leia a declaração conjunta), agora a mais alta relação com a China entre os países da África.   

Além disso, foram assinados dois documentos, a "Declaração de Pequim sobre a construção conjunta de uma comunidade China-África com um futuro compartilhado para a nova era" e o "Plano de Ação de Pequim (2025-2027)" do Fórum sobre Cooperação China-África. O nome longo desta Declaração de Pequim faz parte da terminologia diplomática da China, e é o mais alto usado para uma parceria com uma região inteira.

Direito à modernização

Nesta quinta (5), Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, junto a sua homóloga do Senegal, Yassine Fall, e da República do Congo, Jean-Claude Gakosso, realizaram uma coletiva para comentar as parcerias, resultados e perspectivas. 

Wang Yi enfatizou a necessidade de construção conjunta do multilateralismo com a África. "Precisamos ouvir sempre a voz da África [...] sem sermos condescendentes". 

O documento de Pequim defende que os africanos "são qualificados para servir como chefes de organizações e instituições internacionais". Nele também os países África apreciam que a China tenha sido o primeiro país a apoiar a entrada da União Africana ao G20. A China celebra que mais países africanos possam se unir aos Brics, já que além da África do Sul, no ano passado, Egito e Etiópia se uniram ao grupo.

Na coletiva, Wang Yi, ainda pediu que a China e a África enfrentem juntos desafios como os de "jardins pequenos e cercas altas", em referência à estratégia estadunidense de protecionismo contra a China. Em relação à cooperação com o continente, Wang Yi disse que o país não quer "jogar jogos geográficos, nem enfrentamento de blocos". "Queremos chegar a um consenso na comunidade internacional [...] todos têm direito à modernização".  

Por sua vez, Yassine Fall, destacou o compromisso da China de aumentar a oferta de exportação dos países africanos para a China, a eliminação de barreiras alfandegárias para os países menos desenvolvidos, que incluem 33 países africanos, e o apoio financeiro a pequenas e médias empresas.

Edição: Lucas Estanislau