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Dias melhores virão?

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Em 2025, governo deve pisar no acelerador - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil/Arquivo
É nas eleições municipais e dentro do Congresso que o futuro do governo está para ser definido

Olá!


A economia melhora, mas é nas eleições municipais e dentro do Congresso que o futuro do governo está para ser definido.

.Promessa de ano novo. As expectativas do governo de que 2025 será o ano para pisar no acelerador estão todas expressas na peça orçamentária que o Planalto enviou para o Congresso na última semana. Na proposta, estão previstos o aumento no salário mínimo (R$ 1.509) e o reajuste dos servidores federais, mas não do Bolsa Família. O combate às desigualdades sociais deverá receber R$170 bilhões e o novo PAC outros R$61 bilhões, além de quase 60 mil vagas em concursos. Apesar dos discursos prioritários, a nova industrialização tem previsão de R$8 bilhões, cinquenta vezes menor que o Plano Safra, e o combate ao desmatamento e à crise climática um pouco mais de R$1 bi. As emendas parlamentares vão consumir outros R$39 bilhões, o que é um avanço, já que o valor deste ano ultrapassou R$53 bilhões. E, claro, o governo garante que atingirá o déficit zero. Mas, para isso, prevê novas medidas de arrecadação, todas mexendo no bolso do andar de cima da sociedade e no setor financeiro, além da extinção da desoneração da Folha. A proposta de orçamento também prevê bons sinais no PIB, com crescimento de 2,64%, inflação em 3,3% e a taxa Selic em 9,61%. A proposta chega embalada pelas comemorações com o resultado do PIB, o melhor triênio desde 2013 e superando a Itália entre as maiores economias do mundo. O crescimento veio graças à combinação de crescimento do mercado de trabalho, aumento de consumo, disponibilidade de crédito e investimento estatal. E, como sempre, as boas notícias só não foram bem recebidas no Primeiro Comando do Capital, a Faria Lima. No seu delírio particular, a turma que vive do parasitismo da especulação chiou que ao invés da tributação, o governo deveria cortar nos investimentos e na previdência em 2025 e que tanto crescimento é ruim, ameaça o equilíbrio fiscal e o melhor seria… adivinhem… aumentar a taxa de juros.


.Duplo twist carpado. O crescimento do PIB deu gás para o governo enfrentar outro incômodo deste mandato, o parlamentarismo orçamentário e a relação com o Congresso. A correlação de forças já havia melhorado quando o STF obrigou um freio de arrumação no pagamento das emendas, enfraquecendo Arthur Lira e recuperando parte do protagonismo do Executivo. Sem as emendas, sua principal fonte de prestígio, Lira perdeu o impulso para emplacar Elmar Nascimento (União Brasil) como seu sucessor na presidência da Câmara. E, Lula, ao contrário do que havia dito, entrou em campo pessoalmente para definir um nome com mais trânsito com o governo. Numa reviravolta, o veto de Lula a Nascimento deu início a uma verdadeira operação de costura, incluindo especulações de que Lira e Rodrigo Pacheco podem trocar de endereço numa reforma ministerial, negociações em torno da próxima vaga no TCU e a desistência de Marcos Pereira (Republicanos). Os movimentos resultaram no lançamento de Hugo Motta (Republicanos), próximo de Lira, bem avaliado por Lula, com trânsito com o PP e fortalecendo seu correligionário Tarcísio de Freitas. Ao mesmo tempo, o nome de Motta isola e enfraquece o PSD de Gilberto Kassab, irredutível na manutenção da candidatura de Antônio Brito, e o União Brasil, que sonhava em ter o comando das duas casas, já que Davi Alcolumbre é quase candidato de consenso no Senado. Na queda das peças de dominó, Jair Bolsonaro, já comprometido com Elmar Nascimento, também entra na lista dos derrotados pelo movimento de Lula. Porém, a disputa está longe de terminar e deve ser marcada pela instabilidade, como analisa Maria Cristina Fernandes. Afinal de contas envolve ainda o xadrez para as eleições de 2026, no Planalto e no Palácio dos Bandeirantes, e o grupo dos escanteados pela candidatura Motta - União, MDB, PSD e Bolsonaro - pode articular uma reação.

.Dia da dependência. A suspensão de X de Elon Musk por decisão do STF e o alvoroço que isso causou, inclusive com ataques hacker a instituições do Estado brasileiro, mostra até onde vai o poder dos bilionários que controlam as redes. Nesse quesito, o Brasil é apenas uma peça no jogo do tabuleiro global, que inclui também a aliança de Musk com Donald Trump e o embate do megaempresário com instituições europeias. Por aqui, o playboy gringo conta com uma surpreendente simpatia, segundo pesquisa Atlas/Intel, e o viralatismo de Bolsonaro e companhia, que não veem problema na ditadura real das grandes corporações, e sim na imaginária ditadura de Alexandre de Moraes e do STF. Sem contar o apoio silencioso dos militares brasileiros, dependentes da tecnologia de comunicação da Starlink, com estranhas coincidências com a defesa jurídica da empresa e sempre dispostos a servir às forças estrangeiras. Ironicamente, a oposição deve concentrar seus esforços no “dia da independência” para denunciar Moraes e o Supremo e, mesmo com as tergiversações do capitão, o sonho é abrir caminho para um impeachment do ministro. Em resposta, Lula pretende isolar o bolsonarismo dando uma demonstração de unidade entre os poderes. Mesmo que a proposta de um impeachment de Alexandre de Moraes seja fantasiosa, o importante é que o assunto gera engajamento nas redes da extrema direita, o que em períodos eleitorais alimenta aventureiros como Pablo Marçal. Por isso, o ato também será definidor do voto do eleitor de direita, segundo o ex-marqueteiro de Bolsonaro, Sérgio Lima. Nesse sentido, a eleição de São Paulo será também um grande teste para o embate nacional de 2026, e a Faria Lima já inclui o coach dentre os presidenciáveis. Porém, não só de absurdos nas redes vive a direita, mas também de neoliberalismo, desestruturação do mundo do trabalho e incapacidade da esquerda de oferecer respostas alternativas a este quadro, ressalta Igor Felippe. Caso contrário, não seria possível entender porque, pela primeira vez em 20 anos, a esquerda não vai disputar mais da metade dos municípios do país.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.Como petroleiras gringas usaram um think tank para apoiar a Lava Jato e tomar o pré-sal.. No Intercept, como Chevron, ExxonMobil, Shell e BP financiaram um instituto americano para impulsionar a Lava Jato.

.‘Pastel de vento’, política de transição energética chega vazia – e na companhia do gás. Porque a política de transição energética traz boas intenções e pouca prática na opinião de especialistas e ambientalistas. No ResetCapital.


.Mais de metade da população global sem acesso a água potável. Estudo mostra que crise hídrica global é mais grave do que o previsto. No DW Brasil.

.Privatização: falta água, jorram lucros. Quatro anos depois, os efeitos do marco regulatório do saneamento que abriu caminho para a privatização da água. No Outras Palavras.

.'Rei das sementes' e magnata da mineração: quem são os 2 maiores doadores de campanha do Brasil. Conheça as estratégias do agronegócio e do extrativismo para manter seu poder local. No Brasil de Fato. 

.Qual é o Brasil que emerge de Pablo Marçal? Fabiano Lana escreve sobre a classe C que não se entusiasma com o Estado porque se considera esquecida.

.De Lula a Marçal: o que mudou nas campanhas. Em entrevista para Carta Capital, o marqueteiro da campanha de Lula, Sidônio Palmeira discute como enfrentar a extrema-direita. No YouTube.

.Marcelo Rubens Paiva encontra sua infância congelada em set de filme. O filho do deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura, comenta os bastidores do filme “Ainda estou aqui”. Na Folha.

Edição: Nathallia Fonseca