O governo da Venezuela suspendeu neste sábado (7) a custódia do Brasil sobre a embaixada da Argentina em Caracas. Segundo o Ministério das Relações Exteriores venezuelano, a medida foi tomada porque o lugar está sendo usado para preparar ataques terroristas e "planos de magnicídio [assassinato de figuras importantes por motivos políticos]" contra o presidente Nicolás Maduro e a vice Delcy Rodríguez.
O Itamaraty afirmou que a notícia foi recebida com "surpresa" e que a representação da embaixada argentina continuará com o Brasil até que Buenos Aires indique um novo representante. Agentes das forças de segurança da Venezuela se posicionaram à frente da embaixada da Argentina por volta das 20h desta sexta-feira (6). Em comunicado, o governo brasileiro reforçou a "inviolabilidade das instalações da missão diplomática argentina".
A embaixada brasileira na capital venezuelana está negociando uma forma de contornar a situação e evitar sua escalada.
Desde março, a embaixada da Argentina na Venezuela está sendo usada como asilo para seis venezuelanos opositores que afirmam estar sendo "perseguidos". Eles são ligados ao grupo de extrema direita Vente Venezuela e à coalizão Plataforma Unitária, que teve o ex-embaixador Edmundo González Urrutia como candidato das eleições de 2024, cujo vencedor foi Maduro.
A custódia é uma ferramenta para que um país assuma a representação diplomática de outro governo. O Brasil havia assumido a embaixada da Argentina e do Peru no começo de agosto atendendo a um pedido do presidente Javier MIlei, após o governo de Maduro ter determinado a expulsão do corpo diplomático de sete países da América Latina que acusaram fraude na eleição presidencial sem apresentar provas.
Reação argentina
Depois da publicação da medida, o governo argentino contestou a decisão de revogar a representação brasileira. Em nota, a Casa Rosada agradeceu o Brasil, "denunciou" a presença de policiais na frente da embaixada e criticou o que disse ser uma "medida unilateral do governo" venezuelano.
"A República Argentina rejeita esta medida unilateral e alerta o governo venezuelano que deve respeitar a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, que consagra a inviolabilidade das instalações da missão. Qualquer tentativa de intromissão ou sequestro dos requerentes de asilo que permanecem na nossa residência oficial será duramente condenada pela comunidade internacional", afirmou o governo argentino.
Essa não é a primeira vez que o Brasil assume a representação diplomática argentina na história. Em 1982, durante a Guerra das Malvinas, o governo brasileiro ficou sob a custódia da embaixada da Argentina no Reino Unido.
Dessa vez, a crise tem como origem a contestação dos resultados eleitorais pela oposição. O grupo liderado pela ultraliberal María Corina Machado afirma ter recolhido mais de 80% das cópias das atas eleitorais e que a soma desses resultados garantiria a vitória de Edmundo González. Mesmo com a judicialização do processo eleitoral, os opositores não apresentaram as atas ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).
Depois disso, a Justiça emitiu um mandado de prisão contra Edmundo González pela publicação das supostas atas em dois sites.
Milei x Maduro
Venezuela e Argentina cortaram relações diplomáticas depois da eleição do atual mandatário argentino e têm trocado farpas pela imprensa. Milei já chamou Maduro de "ditador" e disse que encabeçaria uma articulação contra a Venezuela para que as sanções contra o país aumentassem.
A relação entre os dois países piorou desde o envio do avião da estatal venezuelana Emtrasur aos Estados Unidos. A aeronave estava retida desde junho de 2022 em Buenos Aires por uma cooperação judicial entre Argentina e Estados Unidos. Cerca de dois meses depois da posse de Milei, o avião foi confiscado pelos EUA e enviado para a Flórida. O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela disse que o avião havia sido "roubado".
Depois disso, a Venezuela fechou o espaço aéreo para voos que tenham como origem ou destino a Argentina.
Edição: Martina Medina