Extrema direita

'Fujimori está morto, mas precisamos seguir combatendo suas ideias', diz educador peruano

Ditador foi acusado pelo plano de esterilização forçada de 350 mil mulheres e 25 mil homens camponeses e indígenas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Keiko Fujimori, filha do falecido ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, chora ao lado do caixão durante seu velório no Ministério da Cultura em Lima, em 12 de setembro de 2024 - CRIS BOURONCLE / AFP

O Peru se despediu nesta quinta-feira (12) de Alberto Fujimori, ex-presidente que marcou as últimas três décadas da política do país sob a sombra das violações dos direitos humanos, corrupção e repressão aos movimentos populares, sindicais e camponeses.

“Fujimori está morto, mas suas ideias não, precisamos seguir combatendo.O fujimorismo continua governando o Peru com outros rostos”, aponta o educador popular peruano Raúl Alberto Chirinos Ponce, da Rede de Docentes da América Latina. 

Em julho, Keiko Fujimori, filha do ex-ditador,  insinuou que seu pai seria candidato às eleições gerais de 2026, após ter sido libertado da prisão em dezembro através de um perdão humanitário quando cumpria uma pena de 25 anos por corrupção e por violações de direitos humanos nos massacres de Barrios Altos (1991) e La Cantuta (1992), nos quais os militares mataram cerca de 20 pessoas. Ele passou 16 anos preso.

Há pelo menos 30 partidos políticos registrados para a eleição de 2026 no Peru e a Fujimori filha tenta restabelecer o seu partido como a força dominante na direita. Keiko tentou a presidência do país em três ocasiões diferentes e perdeu todas.

A maioria das candidaturas, aponta Ponce, são de fujimoristas ideológicos de direita e os setores progressistas do país devem apresentar apenas duas candidaturas.

“O sindicato de professores peruanos com consciência de classe definirá mais uma vez, como em 2021, o segundo turno contra a candidata fujimorista de linha dura Keiko. Se Vladimir Cerron, treinado em Cuba, conseguir escapar da perseguição política, teremos mais uma vez a oportunidade eleitoral de vencer as eleições, agora que aprendemos com o governo fracassado de Pedro Castillo.”

Eleito em 2021, o ex-presidente de esquerda Pedro Castillo, do partido Peru Livre, foi cassado e preso em 2022 após tentativa de autogolpe, na qual chegou a ordenar a dissolução do Congresso. Quem assumiu o governo foi sua vice, Dina Boluarte, para um mandato que vai até 2026. “A vitória do partido Peru Livre, de ideologia marxista leninista, em 2021, foi um evento histórico com o qual nós, forças progressistas, não soubemos como lidar”, avalia Ponce.

Herança maldita

Ponce destaca que o modelo econômico implementado no país durante a ditadura Fujimori resultou na demissão em massa de funcionários públicos, no fechamento de fábricas, no assassinato e a perseguição de sindicalistas, além da “compra de jornalistas e linhas editoriais da TV, rádio e imprensa escrita.” “Fujimori representa o modelo econômico imperialista que nos vê como provedores de matérias primas e reprime o povo.” 

Durante o regime ditatorial, partidos políticos tradicionais foram dissolvidos e o Serviço de Inteligência, sob o comando de Vladimiro Montesinos, assumiu o controle do Judiciário e do Ministério Público do país. “O Partido Comunista do Peru foi derrotado militarmente com o apoio das patrulhas de camponeses e, nas áreas urbanas, foram criados comandos paramilitares para assassinar presos políticos e líderes sindicais nas prisões.”

Em um dos inúmeros processos que respondia na Justiça peruana, Fujimori foi acusado pelo plano de esterilização forçada de 350 mil mulheres e 25 mil homens camponeses e indígenas, prática prevista pelo Programa Nacional de Planejamento Familiar. Além do ex-presidente, também foram acusados três ex-ministros da Saúde: Eduardo Yong Motta, Marino Costa Bauer e Alejandro Aguinaga.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho