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Por que os médicos do SUS no Distrito Federal estão em greve?

O DF tem mais de 1,9 milhão de pessoas que dependem exclusivamente do SUS. E, para atendê-los, apenas 4 mil médicos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
"Nos últimos dez anos, o número de médicos na rede pública do DF tem caído drasticamente, com uma redução de 27% em relação a 2014." - Foto: Ascom SindMédico-DF

A saúde pública do Distrito Federal está em colapso. Por isso, a greve dos médicos não é uma opção. Trata-se de uma reação à falta de condições mínimas para salvar vidas.

A realidade é dura: hospitais sem recursos básicos, como medicamentos e materiais de proteção; equipamentos essenciais quebrados ou ultrapassados, colocando vidas em risco e profissionais sobrecarregados, sem reforço de pessoal e sem salários adequados.

Estamos de luto pela saúde pública!

Você, que depende do SUS, sente na pele que a situação é crítica. Neste contexto, a greve dos médicos da rede pública não é apenas uma reivindicação por melhores condições: é um ato de responsabilidade e um grito de alerta sobre o caos que tomou conta do sistema de saúde do DF. Ela é um sintoma de um problema maior: a “greve branca”, imposta pelo próprio governo do DF, que, ao negligenciar a saúde, compromete toda a população.

O conceito de “greve branca” se refere à prática de um governo quando, deliberadamente, corta recursos, reduz pessoal e suspende atividades essenciais. Ou seja, em teoria, a gestão está trabalhando. Na prática, cruza os braços para os problemas reais da população. Você, cidadão, vive isso quando procura um hospital público. Não é verdade?

Os médicos da rede pública do DF têm trabalhado em condições precárias há anos. Apenas no ano passado, foram realizadas 1.548.388 consultas médicas nas UBSs; 1.817.252 consultas e atendimentos na atenção secundária; 12.754.444 procedimentos em hospitais; 3.105.906 atendimentos nas UPAs e 2.418.233 consultas, atendimentos, avaliações e acompanhamentos ambulatoriais. Isso tudo com falta de recursos, escassez de profissionais e estruturas deficientes.

Hoje, o Distrito Federal tem mais de 1,9 milhão de pessoas que dependem exclusivamente do SUS. E, para atendê-los, a rede pública conta com apenas 4 mil médicos. Isso em um cenário de 18.045 profissionais ativos, o que representa um índice de 6,31 para cada 1 mil habitantes: a maior média do Brasil. Na rede pública, no entanto, são 2,03 médicos para cada 1.000 habitantes. Faltam médicos? Não! Falta vontade política de mudar essa realidade.

Neste contexto, quero ressaltar, o Sindicato dos Médicos do Distrito Federal tenta, há seis anos, conversar com o Governo do DF. Apontar soluções e mostrar saídas para a situação. Por isso, nós, médicos, estamos cientes das consequências de uma paralisação. No entanto, continuar trabalhando nessas condições seria uma irresponsabilidade. Esta greve é, sobretudo, um ato de responsabilidade. Uma ação que traz à luz um sistema que está falhando tanto com os profissionais de saúde quanto com os pacientes.

O déficit de profissionais, por exemplo, não é uma questão recente. Nos últimos dez anos, o número de médicos na rede pública do DF caiu drasticamente, com uma redução de 27% em relação a 2014. Em recente relatório, o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) informou que 22 das 33 Regiões Administrativas (RAs) possuem quantidade de equipes menor nos postos de saúde do que o preconizado para a população desses locais: o que compromete o atendimento prestado à população.

Em representação feita ao TCDF, em agosto deste ano, o Ministério Público de Contas do DF aponta que há indícios de irregularidades na política de gestão de pessoas na Secretaria de Estado de Saúde do DF. E aponta também um saldo negativo de 537 médicos da carreira pública, entre 2019 e 2024. Saiu mais gente do que entrou e, desses que saíram, 84,8% pediram demissão porque não lhes foram dadas condições de trabalho adequadas.

Ou seja, a “greve branca” do GDF resultou em uma rede pública de saúde à beira do colapso, com médicos e outros profissionais de saúde trabalhando em condições cada vez mais precárias. O resultado? Hospitais com bandeira vermelha, superlotação, falta de insumos, incapacidade de resposta às demandas dos cidadãos.

O GDF, ao não dialogar com os representantes de diversas categorias e ao não tomar medidas para suprir a falta de médicos e recursos, é o verdadeiro responsável pela situação crítica que levou à greve dos médicos. A má gestão e a inércia do governo colocaram o sistema de saúde pública nesta situação. Portanto, esta greve não é um problema isolado. É um sintoma de uma crise maior.

É hora de nos unirmos para exigir que o GDF tome medidas imediatas para reverter essa situação. A saúde pública não pode mais esperar.

Por que precisamos da sua ajuda?

A greve é pela saúde de todos nós. Sem condições adequadas, nossos médicos e profissionais de saúde não conseguem prestar o atendimento que você merece.

Exigimos mais investimentos na saúde pública. Contratação imediata de novos profissionais para aliviar a sobrecarga. Revisão dos salários e das condições de trabalho para garantir atendimento seguro.

Não é apenas uma greve, é uma luta pela vida! Uma luta que também é por você, usuário do SUS. Cada dia de paralisação é uma escolha dolorosa, mas necessária para mudar o rumo da saúde pública.

*Gutemberg Fialho é presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Márcia Silva