Com Stedile

Encontro de movimentos no Vaticano discute combate às desigualdades, ao fascismo e proteção do meio ambiente

João Pedro Stedile participou do evento que marcou 10 anos do encontro e elencou as prioridades para os próximos debates

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Em seu discurso, o papa disse que os movimentos também precisam manter a esperança e os sonhos para continuar lutando - Filippo MONTEFORTE / AFP

Movimentos populares se reuniram com o papa Francisco nesta sexta-feira (20) no Vaticano, para celebrar os 10 anos do primeiro Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP). Lideranças de diferentes grupos falaram sobre o compromisso com a luta por terras, moradia e trabalho durante o evento chamado “Plantar a bandeira contra a desumanização”. 

Um dos participantes foi o dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile. Ele falou sobre a importância do encontro promovido pelo papa no que chamou de um ato “revolucionário” para os padrões do Vaticano. Segundo Stedile, ouvir ou movimentos populares é fundamental para um diálogo amplo sobre as necessidades concretas dos povos. 

Em sua participação, o dirigente do MST falou também sobre as mudanças em relação ao primeiro encontro realizado em 2014, também no Vaticano.

“Nesses 10 anos, trocamos muitas ideias, o mundo ficou muito pior. Porque o capitalismo como modo de organização da produção e da renda do trabalho entrou em uma crise terminal. Os capitalistas seguem acumulando, concentrando e se transformando em bilionários, mas as pessoas estão mais empobrecidas, com mais necessidades”, afirmou. 

Ele também afirmou que os capitalistas aumentaram seus lucros a partir do estímulo às guerras e conflitos armados para a venda de armas e munições pelos EUA e Otan. De acordo com Stedile, os próximos encontros deveriam focar em três pontos centrais: meio ambiente, paz e combate ao fascismo.

“Para os próximos encontros, deveríamos focar nossas preocupações em temas candentes e prioritários: primeiro a defesa da natureza, não podemos aceitar os crimes ambientais cometidos pelo agronegócio. Focar com força o tema da paz, não podemos aceitar o genbocídio na Palestina, por exemplo. O terceiro é como enfrentar os métodos fascistas e, para isso, é preciso recuperar a democracia popular. As pessoas têm que desenvolver métodos para a participação efetiva na política”, afirmou.  

Outro a falar durante o evento foi o fundador do Sindicato dos Trabalhadores da Economia Popular, Juan Grabois. Ele é uma figura próxima do papa Francisco e falou sobre a importância de continuar defendendo as bandeiras dos movimentos populares. Para ele, a luta por terra, moradia e trabalho são os eixos fundamentais para a garantia dos direitos. 

“Recebemos uma bandeira para defendê-la e um sentido de propósito. A verdade é que a melhor coisa que pode acontecer com você é ter algo pelo que lutar. Quando falamos de moradia, terra e trabalho, estamos falando de quem não tem nenhum desses direitos. Pessoas deslocadas, pessoas que dormem nas ruas ou que perderam o emprego. Não é algo muito complexo, é bastante elementar”, disse. 

Outro ponto destacado por ele foi a “integração sócio urbana”. De acordo com Grabois, o trabalhador gasta muito tempo se deslocando nas cidades por uma exclusão espacial e por ter que pagar aluguel para viver. “É uma loucura que tenhamos naturalizado o fato de pagar para dormir”, disse. Para ele, é preciso que sejam pensadas alternativas para evitar que se amplie a exclusão. 

Em seu discurso, o papa Francisco também falou sobre os três eixos abordados por Grabois. Para ele, os movimentos também precisam manter a esperança e os sonhos para continuar lutando. 

“Terra, moradia e trabalho são direitos sagrados. Que ninguém tire de vocês essa convicção, que ninguém roube essa esperança, que ninguém tire de vocês os sonhos. Acumular não é virtuoso, não é virtuoso, distribuir é. Jesus não acumulava, multiplicava, mas multiplicava e seus discípulos distribuíam”, afirmou.

Edição: Rodrigo Durão Coelho