ANÁLISE

Kamala precisa recuperar eleitor historicamente democrata para derrotar Trump, diz especialista

Fernando Brancoli comenta pesquisa que mostra empate entre a democrata e o republicano após debate da semana passada

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Candidatos se concentram com campanhas em estados-pêndulos, considerados decisivos nas eleições dos EUA - Fotos: John Tully e Mario Tama/Getty Images via AFP

Uma nova pesquisa sobre a eleição presidencial dos Estados Unidos, divulgada nesta quinta-feira (19), apontou que os candidatos Donald Trump, do Partido Republicano, e Kamala Harris, do Partido Democrata, estão empatados: ambos têm 47% das intenções de voto. O levantamento que mostra a disputa acirrada é do jornal The New York Times e do Siena College.

Com isso, a estratégia de campanha dos dois se torna ainda mais importante, diz Fernando Brancoli, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que conversou com o jornal Central do Brasil

As campanhas têm se voltado aos chamados estados-pêndulo. Nesses estados, o eleitor às vezes vota nos Democratas, às vezes nos Republicanos. Por isso, são considerados decisivos nas eleições do país.

"Nas eleições dos Estados Unidos, as campanhas estão basicamente centralizadas em poucos estados. A gente tem estados que tradicionalmente votam para Democratas, por exemplo, a Califórnia. Então, nem se faz campanha lá. Outros vão sempre votar em Republicanos: o Texas, por exemplo. Agora, [em] alguns estados, como o Wisconsin e Pensilvânia, a gente tem esses chamados estados-pêndulos onde, basicamente, estão sendo feitas campanhas nos últimos meses", explica.

E para fazer a diferença nesses estados e se destacar, Kamala e Trump precisam se voltar a públicos específicos, conforme as pesquisas apontam.

"Se reparou, ao longo das últimas semanas, que Kamala Harris teria como crescer ainda entre candidatos de determinadas esperas e determinados espaços. Por exemplo, homens brancos com ensino superior. Lá, as pesquisas são tão detalhadas que a gente consegue ver isso", pontua. 

"Então, o que a gente espera ao longo das próximas semanas é, por exemplo, a Kamala na Pensilvânia fazendo uma campanha específica para atingir esse eleitor. Eu lembro que lá, a pessoa que ganha mais votos recebe o valor inteiro do Estado. Ou seja, pode ser que a Kamala tenha só um voto a mais da Pensilvânia, mas ela leva todos os delegados. No lado do Trump, o que a gente vem acompanhando é que ainda há, por exemplo, espaço para ele crescer entre a população latina e negra, que tradicionalmente, historicamente, votava em democratas, mas que ao longo dos últimos anos vem tendendo aos republicanos", argumenta. 

Outro público-alvo que deve ter peso importante no resultado final das eleições estadunidenses, em 5 de novembro, é o de jovens, negros e mulheres, que ajudaram o atual presidente Joe Biden, do partido de Kamala, a derrotar Trump nas eleições de 2020. 

Pesquisas apontam que Kamala recuperou o apoio desse público, mas ainda não o suficiente para garantir a vitória, segundo Brancoli.

"Quando o Biden ainda era o candidato [antes da desistência da disputa pela reeleição], as pesquisas mostravam que dentro desses setores ele vinha perdendo uma série de votos. Então, o que a gente tem com a Kamala é uma certa retomada, mas se a gente olhar os dados da Kamala, ela ainda não é o equivalente ao que o Biden teve, quatro anos atrás, para ganhar do Trump. Ela teria ainda espaço para crescer. A eleição, no final das contas, vai ser disputada entre esses grupos indecisos", argumenta.

As campanhas também serão decisivas porque não deve haver mais novos debates entre Trump e Kamala até novembro. No único até agora que os dois se enfrentaram, promovido pelo canal ABC na semana passada, o republicano ficou na defensiva diante da democrata

Até por isso, o ex-presidente fugirá de futuros embates, explica o professor da UFRJ. Esse cenário é prejudicial para Kamala, porque no debate ela mostra quem é para um público que ainda não a conhece.

"Quando a gente olha as pesquisas, o debate não tem um impacto tão grande assim, dificilmente ele vai gerar grandes comoções. O que ele teve capacidade de fazer é [mostrar] a Kamala, que, por incrível que pareça, ainda é vista como uma candidata não muito reconhecida. Apesar de durante quase quatro anos ter sido vice-presidente, ela ainda não tem um acesso tão grande a parte importante da população."

"Então, apesar de não ter uma mudança tão grande de votos, o que se notou ao longo desse processo foi a ideia de que isso pode gerar cortes, pode gerar movimentações que vão apresentar a Kamala como uma ex-procuradora e ex-senadora para o resto da população. No caso do Trump, os indicativos que a gente tem a respeito da campanha é que ele não vai fazer mais debate. O debate, claramente, foi favorável a Kamala, que conseguiu fazer com que Trump ficasse nervoso em alguns momentos. Provavelmente esse foi o último debate, a gente não vai ter outro, Trump não vai aceitar", afirma o especialista.

A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta sexta-feira (20) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, às 13h10, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Thalita Pires