Em Antônio João (MS)

Adolescente indígena é encontrado morto em área de conflito no Mato Grosso do Sul; é a segunda morte em 5 dias

Encontrado na rodovia, o jovem Kaiowá vivia na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, palco de tensão desde meio de setembro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O jovem morreu na MS-384, mesma rodovia onde os Guarani Kaiowá protestaram por justiça na última quinta (19) - Divulgação

Um adolescente de 15 anos do povo Guarani Kaiowá, Fred Souza Garcete, foi encontrado morto na manhã desta segunda-feira (23) nas margens da rodovia MS-384, na cidade de Antônio João (MS). Este é o segundo indígena que morre na região em apenas cinco dias. No último 18 de setembro, o jovem Neri Ramos, de 23 anos, foi assassinado com um tiro na cabeça, disparado pela Polícia Militar do Mato Grosso do Sul.

As circunstâncias da morte de Fred ainda não foram elucidadas. De acordo com lideranças indígenas, o Conselho Indigenista Missionário e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a principal suspeita é de que ele tenha sido atropelado. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil do município de Antônio João.

Um vídeo com mulheres Kaiowá chorando ao lado do corpo do adolescente na beira da rodovia circula pelas redes sociais. Fred vivia em uma retomada da Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, palco de tensão desde o último 12 de setembro, quando os indígenas tentaram recuperar uma área da Fazenda Barra, de propriedade de Roseli Ruiz e Pio Queiroz.

A fazenda está sobreposta ao território Guarani Kaiowá, que foi demarcado em 2005 e teve a homologação suspensa em seguida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Desde o último dia 12, a comunidade vive sitiada por cerca de 100 policiais militares, respaldados por uma decisão judicial impetrada pela advogada Luana Ruiz, filha dos fazendeiros. De lá para cá, entre feridos por balas de borracha, os indígenas contabilizam uma mulher, Juliana Gomes, alvejada por um tiro de bala letal no joelho, e a morte de Neri Ramos, que as lideranças classificam como uma execução.

Nesta segunda-feira (23), a Aty Guasu, Grande Assembleia Guarani Kaiowá, alertou que está evidente "a crescente violência contra as comunidades indígenas na região": "A situação é alarmante e exige uma resposta urgente das autoridades".


Mulheres choram ao lado do adolescente Guarani Kaiowá na rodovia MS-384 / Comunidade TI Nhanderu Marangatu

O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do governo do Estado, sob comando de Eduardo Riedel (PSDB), e não teve resposta até o fechamento desta matéria. Caso seja enviado um posicionamento, o texto será atualizado.

Morte ocorre após visita do governo federal

A morte de Fred acontece dois dias depois da visita de uma comitiva de entidades governamentais e de defesa dos direitos humanos ao território. No último sábado (21), estiveram na TI Nhanderu Marangatu representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), do Ministério do Desenvolvimento Agrária e Agricultura Familiar (MDA), da Funai, do Ministério Público Estadual, da Defensoria Pública Estadual, além do Cimi e da Aty Guasu.

No domingo (22) a comitiva visitou a retomada Yvy Ajherê, que integra a TI Panambi Lagoa-Rica na cidade de Douradina (MS), alvo de ataques de fazendeiros em julho e agosto e também sob risco iminente.

Na próxima quarta-feira (25), acontece, em Brasília, uma audiência judicial com o ministro do STF Gilmar Mendes sobre o processo demarcatório da TI Nhanderu Marangatu.

"Somente a conclusão do processo demarcatório e a posse plena dos territórios podem garantir a segurança e a vida dos indígenas", informou o MPI em nota.

Edição: Nicolau Soares