Disputa no MAS

Marcha de Evo Morales chega à capital da Bolívia e governo Arce responde: 'Ameaça'

Apoiadores do ex-presidente marcharam 280km para manifestar apoio a Evo e pedir candidatura em 2025

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Manifestantes deixaram a cidade de Caracollo a 280km de La Paz e chagaram a capital nesta segunda-feira - Jorge Bernal / AFP

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales pediu a troca de ministros “corruptos e traficantes” em até 24 horas. Ele participou da marcha que começou na última semana e chegou nesta segunda-feira (23) à capital La Paz. Segundo o ex-mandatário, o presidente Luis Arce tem 24 horas para fazer as mudanças “se quiser continuar governando”.

Milhares de bolivianos participaram da marcha que partiu da cidade de Caracollo, a 280km da capital, em 17 de setembro. Chamada de “Marcha para salvar a Bolívia”, o ato teve 36 feridos depois de confrontos com a polícia. Evo Morales disse ao final da manifestação que o objetivo era acabar com a “traição e acima de tudo a corrupção, a proteção do tráfico de drogas e a má gestão”.

A marcha tinha como destino a sede do governo boliviano, mas as forças de segurança fecharam os acessos ao centro de La Paz para evitar contato entre os manifestantes e o palácio presidencial. O protesto terminou em frente ao edifício da Cervecería Boliviana Nacional (CBN), com um palco onde Evo discursou.

O Ministério das Relações Exteriores respondeu às declarações de Evo Morales. Em nota, a chancelaria chamou a postura de Morales de “ultimato”, disse que o pedido para trocar ministros “ameaça interromper a continuidade da ordem democrática” e chamou os envolvidos para um diálogo. O governo ainda condenou “qualquer tipo de extorsão ou condicionamento contra a vontade do povo manifestado nas urnas”. 

Depois dos confrontos durante a última semana, o presidente Luis Arce fez um pronunciamento na TV afirmando que não daria “o gosto de uma guerra civil para Evo Morales”. Apoiadores do mandatário também se reuniram em um movimento nesta terça para prestar apoio a Arce

A marcha teve como estopim a escassez de combustíveis no país. A Bolívia enfrenta desde o ano passado problemas com fornecimento de gasolina e gás, além da falta de dólares. A exportação de gás para o exterior passou por uma queda, o que levou a um problema na entrada de dólares. A produção de gasolina e diesel também sofreu uma queda, o que fez com que o preço dos combustíveis subissem. Com isso, a importação de gasolina chegou a 56% e a de diesel a 86%. 

Para economistas bolivianos, o subsídios aos combustíveis nessas condições representa um gasto de US$ 3 bilhões (R$ 16 bilhões, aproximadamente) para o governo boliviano. Para custear essas importações, Arce usou parte das reservas internacionais, o que levou a falta de dólares e, consequentemente, a desvalorização do peso boliviano.

Disputa no MAS

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales enfrenta Luis Arce em uma disputa política pela candidatura nas eleições presidenciais de 2025. 

Em 2023, Morales foi inabilitado pelo Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia (TCP) a concorrer à Presidência em 2025. A Corte decretou em dezembro daquele ano que presidentes e vice-presidentes só poderiam exercer o cargo por dois mandatos, de forma seguida ou não. 

Essa era uma lacuna que já existia na Constituição boliviana. Antes, a Carta Magna afirmava que o presidente não poderia exercer o cargo por mais de dois mandatos, mas não especificava se eram seguidos ou não. Com a sentença judicial 1010, Evo Morales, que foi presidente por quatro mandatos, não poderia voltar ao poder.

Os apoiadores de Evo consideram que, com um novo Tribunal Constitucional, essa norma poderia cair e ele poderia voltar a ser candidato em 2025. Morales tenta reverter o impedimento por meio de manifestações populares e da eleição de novos juízes eleitorais que revisariam essa decisão.

A disputa interna entre apoiadores de Evo Morales e de Luis Arce começou quando Evo voltou à Bolívia em 2020, após passar um ano exilado na Argentina por conta do golpe de Estado que levou à derrubada de seu governo, em 2019. O ex-presidente começou a criticar algumas decisões de Arce e seu apoiadores.

O MAS está dividido entre a ala que apoia Luis Arce e um grupo favorável à volta do ex-presidente. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho