Coluna

Terminar estas eleições com importantes vitórias políticas

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A duas semanas do fim do primeiro turno, qual é o programa popular que disputa as cidades brasileiras? - Pedro Stropasolas/Brasil de Fato
Não temos controle sobre o resultado nas urnas, mas é momento de oportunidade de luta

*por Wallace Oliveira

Dois anos após comemorarem a volta de Lula à Presidência, as forças populares se reencontram com a dura realidade das eleições municipais. Desde o golpe de 2016, o PT, um dos maiores partidos da América Latina, perdeu mais de 70% das prefeituras que ocupou em seu auge, em 2012, quando chegara à condução de 637 cidades. 

Nenhum dos atuais 183 prefeitos petistas governa um município com mais de 1 milhão de habitantes e apenas 7 destes governam mais de 200 mil. E, pela primeira vez após a ditadura militar, nenhuma capital com prefeito petista e apenas Belém sob comando do Psol.

O imenso espaço deixado pelo PT não foi ocupado por outras forças progressistas, tampouco por um projeto mais avançado. Pelo contrário, no ocaso do Partido dos Trabalhadores, cresceram legendas como o PSD, de Gilberto Kassab, atual secretário de Governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). 

Pesquisas de intenção de voto – guia quase exclusivo da esquerda nos últimos anos – indicam, por enquanto, chances de vitória progressista em Fortaleza, Goiânia, Natal, Porto Alegre, Teresina e São Paulo. Nem mesmo nessas capitais, todavia, os números apontam favoritismo no segundo turno. 

Que pragmatismo é esse?

A explicação mais repetida para esse difícil quadro é a ideia de uma opção pragmática. Em nome de uma política de alianças visando ao governo federal e à governabilidade no Congresso, dizem: "é necessário abdicar do protagonismo no âmbito regional (estados e municípios)". De resto, ressaltam que, em algumas grandes cidades, os favoritos são aliados da esquerda, isto é, candidatos que dependem enormemente do voto e do apoio da esquerda.

Todo pragmático que se preze deveria ao menos perguntar: essa política tem dado resultados? Tantas concessões generosas viabilizam, de fato, o governo Lula e sua reeleição? A cada sucesso eleitoral, a direita fisiológica não aumenta sua capacidade de chantagear o presidente da República? 

Eleição tem que ser luta

Outra pergunta que se deve fazer é acerca do programa que governa as prefeituras. Ele atende aos interesses dos trabalhadores ou à agenda neoliberal de desmonte do serviço público, privatizações, desinvestimentos na área social, precarização do trabalho, expulsão dos pobres da cidade e exploração predatória da natureza? 

Hoje em dia, a extrema direita é facilmente identificada pelos seus apoiadores como representante do conservadorismo e da violência na política. Como as periferias enxergam as forças populares? Nas eleições municipais, que costumam ser as mais despolitizadas, a classe trabalhadora consegue diferenciar a esquerda da direita?

Nos anos 90, o PT se destacou promovendo a participação popular e políticas públicas inovadoras nas áreas de habitação, segurança alimentar, saúde, educação, entre outras. Essa prática foi batizada de "modo petista de governar". Sem dúvidas, havia muitos limites nesse modo de governar, mas é inegável que ele configurava um programa de esquerda, reconhecido como tal pela população ou, no mínimo, por sua parcela mais politizada.

A duas semanas do fim do primeiro turno, qual é o programa popular que disputa as cidades brasileiras? Ele empolga, mobiliza e unifica as lutadoras e lutadores das vilas, favelas e ocupações, a juventude dos bairros periféricos, os servidores e empregados públicos, os trabalhadores do setor privado, formais e informais? Como, enfim, ele se articula com a disputa nacional?

Não temos controle sobre o resultado nas urnas, mas podemos fazer desse momento uma oportunidade de luta nas ruas. Para tanto, é preciso romper com qualquer imediatismo. Importa abordar as questões que realmente interessam à ampla maioria da população, com propondo saídas próprias, que não sejam apenas um aceno à dita opinião pública, mas um programa fundado na ação e reflexão coletiva de décadas. 

Se conseguirmos colocar isso em prática, é possível que terminemos estas eleições com algumas vitórias políticas importantes, que muito contribuirão com a luta política dos próximos anos. 

*Wallace Oliveira é comunicador popular e militante do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Thalita Pires