ELEIÇÕES 2024

Em Porto Alegre, dois debates marcaram a agenda de candidatas e candidatos à prefeitura

Tema das enchentes e reconstrução volta a ganhar destaque nos confrontos promovidos pelas rádios Gaúcha e Guaíba

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Os quatro candidatos mais bem colocados participaram de debates nesta quarta-feira (25) - Reprodução Youtube

Os quatro principais candidatos à prefeitura da capital gaúcha passaram praticamente toda a quarta-feira (25) debatendo propostas que têm para o próximo mandato. Maria do Rosário (PT), Sebastião Melo (MDB), Juliana Brizola (PDT) e Felippe Camozatto (Novo) passaram duas horas pela manhã num debate promovido pela Rádio Gaúcha, na sede da RBS TV, e quase três horas pela tarde em outro debate promovido pela Rádio Guaíba, no salão nobre da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs).

Os temas principais foram a proteção contra enchentes, as filas para o atendimento na saúde e a baixa nota dos estudantes de Porto Alegre no Indice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que deixou a cidade em penúltimo lugar entre as capitais brasileiras no último ano.

Na Rádio Gaúcha, o debate mediado pela jornalista Andressa Xavier foi direto, uma verdadeira discussão entre os candidatos que puderam escolher a quem fazer as perguntas. Os preferidos foram Sebastião Melo e Maria do Rosário. Já Felipe Camozatto ficou praticamente fora da discussão. Melo foi a opção preferencial de Rosário e Juliana, enquanto a candidata do PT foi a mais escolhida por Melo e Camozzato.

A primeira pergunta foi sobre a população de rua, elaborada pela produção do programa. A questão, após sorteio, foi respondida por Maria do Rosário. Ela prometeu reforçar a assistência social e lembrou do incêndio na Pousada Garoa, que provocou 11 mortes em abril. Em contraponto, Melo mencionou a resistência ao acolhimento, disse que o governo federal é "devedor" da cidade para esse tipo de política e que a Pousada Garoa foi contratada via licitação.

Proteção contra enchentes

Questionada por Camozatto sobre a proteção contra enchentes, Rosário prometeu "recuperar a inteligência instalada" que existia com o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), extinto em 2017. Já Camozzato mencionou a necessidade de construir diques que não foram implementados e atualizar cotas de enchente. “É absurdo que as casas de bombas não tenham sido protegidas e não tenham sido contratados nem geradores”, criticou Rosário. “Entrava em torno de três vezes mais água na cidade do que o sistema de drenagem era capaz de tirar”, pontuou Camozatto.

Sobre o déficit de vagas nas creches, Juliana Brizola selecionou Melo para comentar. O atual prefeito afirmou que, durante seu mandato, abriu mais de 7 mil vagas a crianças de 0 a 5 anos, enquanto a pedetista disse que o adversário foi vice e depois prefeito e não conseguiu solucionar o déficit. "Com o Melo, tudo o que é bom foi ele quem fez, mas tudo o que deu errado a culpa é do governo estadual, do governo federal, da 'mãe do Badanha'", afirmou Juliana Brizola.

A última questão foi sobre o transporte público. Nesse ponto, candidatos do PT e do MDB elevaram o tom ao debater. Rosário disse que os ônibus da capital são "latas de sardinha" e não cumprem horários, enquanto Melo ressaltou que a passagem está congelada há três anos.

Ele lembrou que sua opositora prometeu a passagem zero para as pessoas, mas que o custo do sistema é de R$ 750 milhões por ano. "Ninguém é contra a tarifa zero, só quero saber quem vai pagar a conta", disse o candidato à reeleição".

Melo foi alvo de cobranças feitas por todos os candidatos, especialmente por Maria do Rosário e Juliana Brizola, que esperam disputar com ele o segundo turno.

Reconstrução foi o tema central na Rádio Guaíba

À tarde, na Rádio Guaíba, o debate foi conduzido pela jornalista Talione Oppitz. O debate seguiu somente na discussão de ideias, sem ataques pessoais, embora a grande maioria das críticas tenha sido direcionada ao atual prefeito.

Iniciando o bloco, Rosário escolheu Melo para questionar sobre ações frente à enchente. O atual prefeito se defendeu acusando a candidata de discutir o tema com irresponsabilidade, relembrando que o sistema de proteção contra cheias é antigo e não é somente de gestão da prefeitura. Afirmou que está realizando obras no bairro Sarandi e já escolheu as obras para fechar as comportas.

A candidata do PT, em compensação, afirmou que faltou gestão do prefeito na manutenção do sistema contra enchentes e na ausência de cobranças ao governo federal e o estadual. Prometeu “não perder um centavo” do governo federal, recriar o DEP, realizar um plano de contingência e realizar a limpeza regular dos bueiros. “O básico que não é feito.”

Na sua vez de perguntar, o candidato do Novo pediu que Juliana Brizola citasse uma empresa pública que entregasse um bom serviço à população, cobrando boas tarifas, uma vez que a mesma “mudou de ideia” quanto a privatizações e parceirizações. Ela citou o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) e devolveu a pergunta, questionando como ele avalia a gestão do atual prefeito no pós-enchente. Camozatto não respondeu e continuou defendendo a privatização do DMAE.

Juliana então repetiu a pergunta a Melo que, na resposta, voltou citar as obras emergenciais, como a da casa de bombas. Ele aproveitou para tecer críticas à candidata pedetista, afirmando que “a cada eleição, a Juliana está de um lado”.

Atendimento à saúde foi questionado pela Amrigs

A única pessoa a fazer perguntas diretamente a todos os candidatos foi o presidente da Amrigs, cirurgião Gerson Junqueira Júnior. Ele falou que a saúde pública de Porto Alegre está sobrecarregada, pois recebe pacientes de diversos municípios e tem dificuldades para atender, principalmente nas áreas de urgência e emergência.

“Estamos com uma população de aproximadamente 1,4 milhão de pessoas em Porto Alegre. Hoje, para situações de urgência e emergência clínicas, adulta e pediátrica, nossa Capital possui a UPA Moacyr Scliar e três pronto atendimento, além de contratualização de serviço terceirizado para apoiar a rede. A demanda deste tipo de atendimento é cada vez maior, sem previsibilidade e sazonalidade. A rede opera sobrecarregada e acima da capacidade instalada em todo sistema público”, apontou.

Primeira a responder, por ordem definida em sorteio, Rosário prometeu foco no Sistema Único de Saúde. “Vou trabalhar o SUS como sistema, efetivamente. Significa pensar atenção na saúde básica e especializada de forma articulada, além de uma melhor relação com a referência e contrarreferência”, disse.

“Escuto candidatos queixarem-se da Região Metropolitana de Porto Alegre ou do interior. Porto Alegre é Capital. Tem que continuar sendo referência. Eu vou me antecipar a problemas. Se um hospital fechar em Viamão, vou me antecipar. Também vamos ampliar a saúde da família, trabalhar mais UPAs e trabalhar policlínicas. As pessoas procuram urgência e emergência porque a atenção básica não funciona”, completou.

Melo foi o segundo e se defendeu prometendo melhorar o sistema. “Nós avançamos muito na atenção básica. De 279 equipes para 390 é um avanço importante. Transformar os pontos de referência em policlínica é importante para o futuro da cidade. Agora, não se resolve em seis meses. Eleição é o momento da verdade. Um grande descrédito da política é prometer o que não pode ser feito”, concluiu.

Juliana Brizola ressaltou ter como vice o doutor Thiago, um médico, e prometeu incrementar a telemedicina. “Vamos trazer inovação, com a telemedicina, mas telemedicina de médico para médico. Se vou me consultar com um clínico-geral com problema no coração, ele liga para um cardiologista. Isso diminui a jornada do paciente, tão crucial para a cura. Vamos incentivar médicos recém formados a venderem suas horas pelo SUS, para ter especialistas que tanto faltam para os postos de saúde, para ajudar a terminar com a fila. Não somos contra a terceirização, somos a favor, queremos parcerias na saúde, mas a prefeitura não pode se eximir de fiscalizar.”

Camozzato foi o último a responder e prometeu foco na prevenção. “Acreditamos que é preciso garantir a prevenção para depois não remediar com alto custo de cura. Para isso, precisamos de uma melhor assistência básica."

“Teremos telemedicina não apenas de médico para médico, mas para paciente é fundamental. A telessaúde da UFRGS está pesquisando Inteligência Artificial para atender pacientes. Vamos fazer o contrário do que o PT fez, que cortou atendimentos em telemedicina. Vamos avançar em parcerias junto com especialistas”, completou.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira