Oriente Médio

Netanyahu escala guerra no Líbano com foco em eleições dos EUA, dizem analistas

Analistas ouvidos pelo Brasil de Fato dizem que Netanyahu aposta na eleição de Trump, que daria 'carta branca' a Israel

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Homens vasculham os escombros de um prédio em uma área atingida durante a noite por ataques aéreos israelenses na cidade libanesa de Saksakiyeh, em 26 de setembro de 2024 - Mahmoud ZAYYAT / AFP

Às vésperas de completar um ano do início do massacre contra a população palestina em Gaza, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu intensificou os ataques contra o Líbano, expandindo o conflito para o Oriente Médio. O Exército israelense anunciou nesta quinta-feira (26) que está realizando "bombardeios direcionados" em Beirute, após o governo rejeitar um pedido de cessar-fogo com o movimento libanês Hezbollah formulado por Estados Unidos, França e outros países.

A iniciativa israelense é vista como uma tentativa de prolongar e escalar o conflito até novembro, quando acontecem as eleições presidenciais nos Estados Unidos. O Hezbollah afirmou nesta quinta que disparou novamente projéteis contra complexos militares israelenses perto da cidade de Haifa, no norte, depois que o Exército de Israel bombardeou vários alvos do movimento pró-Irã no Líbano durante a madrugada.

Segundo o cientista político e professor de Relações Internacionais Bruno Beakini, a escalada do conflito favorece o governo israelense.

"Os tempos de aceleração e escalada do conflito favorecem o gabinete do Netanyahu, o estado sionista e vão esticando a corda até a definição eleitoral dos Estados Unidos. Caso o Trump ganhe, Netanyahu vai ter carta branca, caso que a Kamala Harris ganhe, ela vai tentar criar alguma barganha para, pelo menos, na política doméstica dos Estados Unidos não ser tão danosa.", disse ao Brasil de Fato.

Para o presidente da Confederação Palestina Latinoamericana e do Caribe, Rafael Araya Masry, a escalada do conflito é uma aposta de Netanyahu de que Donald Trump será eleito.

"A grande aposta de Netanyahu é levar o conflito até as eleições americanas porque sua aposta é que o novo presidente vai ser Donald Trump, que vai dar para ele carta branca,  todas as permissões que Israel precisa para seguir agredindo a Palestina. É uma aposta de vida ou morte para ele, porque a própria subsistência, hoje, do Estado de Israel depende da ajuda dos Estados Unidos."

O Hezbollah, influente ator político e militar no Líbano, protagoniza enfrentamentos bélicos com Israel nas regiões de fronteira.  A tensão entre o grupo e o exército israelense aumentou após o início do massacre na Faixa de Gaza. Uma nova intensificação aconteceu com as explosões de pagers e walkie-talkies utilizados por membros do Hezbollah na última semana. As explosões são  atribuídas a Israel e deixaram 39 mortos e quase três mil feridos, segundo as autoridades libanesas.

Ualid Rabbah, presidente da Federação Árabe Palestina no Brasil, considera que estamos estamos diante de "uma guerra cibernética". "É uma guerra genocidária para extermínio a distância, as soberanias dos países estão afetadas e cada cidadão no mundo está afetado, essa é a realidade que foi agora inaugurada, este é o mundo de Blade Runner, o mundo distópico de que nós falamos, em sete de outubro,  o mundo do novo totalitarismo, no qual Israel é o modelo, o experimento, e a lógica."

Mais de 22 mil pessoas que fugiram dos bombardeios israelenses no Líbano entraram na Síria desde segunda-feira, afirmaram fontes das forças de segurança sírias.

"O número total de pessoas que entraram pela passagem de fronteira de Jdeidet Yabus nos últimos três dias e até a manhã de quinta-feira é de mais de 6 mil libaneses e quase 15 mil sírios", afirmou à AFP uma fonte que pediu anonimato. Uma segunda fonte informou que mil libaneses e 500 sírios entraram no país pela passagem de fronteira de Jusiyah.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho