Foco no prefeito

Debate sem brigas faz com que Ricardo Nunes (MDB) volte ao foco dos candidatos em debate da Record

Os candidatos que protagonizaram uma briga em outro debate, Marçal e Datena, fizeram até dobradinha para criticar Nunes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Nunes foi o alvo do debate da TV Record neste sábado (28) - Divulgação/Record

O debate da TV Record foi o primeiro dos nove encontros já realizados entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo (SP) sem brigas. O tom mais ameno permitiu que holofotes se voltassem para a gestão de Ricardo Nunes (MDB), que foi alvo de acusações e contradições apontaram pelos outros candidatos. 

No primeiro bloco, Pablo Marçal (PRTB) citou a investigação da Polícia Federal (PF) sobre o que ficou conhecido como “Máfia das Creches” em São Paulo. A PF apura se Ricardo Nunes recebeu repasses ilegais de uma empresa que emitia nota sem prestar serviços para creches paulistanas, mas que cuidava da parte contábil de algumas organizações sociais conveniadas pela prefeitura para administrar creches. 

"Existe em curso uma investigação da Polícia Federal em relação ao desvio de merenda. Esse desvio de merenda, não quero ser injusto com você, mas é como eu estou acompanhando bem a bem próximo... Existem lá pagamentos no seu nome, pagamentos no nome de familiar, e eu queria que você desse explicação", disse Marçal. Em outro momento, o ex-coach classificou Nunes como "o pior prefeito da história" com relação à educação. "Ele não foi humilde para mostrar onde ele errou." 

Em resposta, Nunes afirmou que "sua vida é limpa". "Eu nunca tive um indiciamento, nunca tive uma condenação e não terei, porque o meu passado é um passado honrado, o meu presente é um presente honrado e o meu futuro continuará honrado", disse o prefeito. 

Depois, a candidata Marina Helena (Novo) citou uma reportagem publicada pelo Intercept Brasil, nesta sexta-feira (27), com denúncias contra a campanha de Nunes. De acordo com o veículo, foram pagos R$ 637 mil a uma locadora de veículos que possui apenas um carro e cuja sede está localizada em uma casa da zona sul de São Paulo que não tem nenhum veículo. 

"Essa semana saiu uma denúncia de que você, na campanha, gastou R$ 630 mil no aluguel de 12 carros de uma empresa estranha. (...) Eu queria que você explicasse isso para os eleitores, como foi usado esse recurso dos nossos impostos?", questionou a candidata. Em resposta, Nunes foi breve e disse que “não existe qualquer tipo de coisa errada, como sempre foi a minha vida e sempre vai continuar sendo”. 

Em outro momento, Guilherme Boulos (Psol) relembrou a fala do candidato à vice de Ricardo Nunes, o coronel Ricardo Mello Araújo, sobre tratamentos diferentes da polícia nos bairros de São Paulo. 

"Ele disse que o morador da periferia tem que ser tratado pior que o morador do Jardins. É exatamente isso que você está ouvindo. Você que é do Capão, de M'Boi Mirim, de Perus, de Parelheiros, do Itaim Paulista, de Itaquera, do Jardim Helena, Lajeado, Guaianases, São Mateus, na cabeça do vice do Ricardo Nunes, você tem que ser tratado pior do que quem mora num bairro rico de São Paulo", disse o psolista.  

A declaração de Mello Araújo foi feita durante uma entrevista ao UOL, no qual Mello Araújo, enquanto comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), afirmou que a abordagem policial nos Jardins, região nobre de São Paulo, tem de ser diferente daquela realizada na periferia.   

"É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado", disse Araújo na ocasião, em 2017.  

"Da mesma forma, se eu coloco um [policial] da periferia para lidar, falar com a mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui nos Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa dos Jardins que está ali, andando", complementou o então chefe da Rota. 

Boulos também relembrou o apagão em São Paulo que durou cerca de uma semana em novembro do ano passado, após falhas no abastecimento de energia pela Enel, concessionária que administra o serviço na cidade. Em março deste ano, a região central voltou a ficar sem energia, desta vez por cinco dias. 

"Em 5 de novembro do ano passado, São Paulo estava vivendo o pior apagão da nossa história. Onde mais precisava de um prefeito, o Ricardo Nunes estava no camarote da UFC. Depois, no dia seguinte, no camarote da Fórmula 1, enquanto você sofria", disse Boulos. "Um prefeito que não tem compaixão, que não é capaz de sentir no fundo da alma a dor, não pode ser prefeito, ainda mais de São Paulo. Ali Nunes você deixou claro é que você não tem compromisso com o povo de São Paulo." 

Nunes explicou que enviou um pedido ao Tribunal de Contas da União (TCU) solicitando a rescisão do contrato de concessão da Enel. No ofício entregue ao presidente do TCU, o ministro Bruno Dantas, em fevereiro deste ano, Nunes detalha as falhas na prestação de serviços pela empresa.   

No último bloco, Datena foi questionado por Marçal, numa dobradinha inesperada entre ambos, sobre qual é o “pior” prefeito da história de São Paulo. “Ricardo, na verdade, me perdoe. Nós tivemos vários embates, principalmente no campo do jornalismo. Dentro de todos esses embates, eu sempre coloquei a minha posição em relação à administração dele e não poderia voltar atrás. O Ricardo não cumpriu, infelizmente, nem 50% do que o Bruno prometeu”, disse Datena. 

Boulos também foi alvo 

Em outros momentos, Boulos também foi alvo de acusações por parte de seus adversários. A candidata Tabata Amaral (PSB) afirmou que o psolista “abriu mão de muitos posicionamentos históricos” que Boulos e o seu partido “defenderam veementemente”. 

“Você dizia que era a favor da descriminalização das drogas. Agora é contra. Dizia que era a favor da legalização do aborto. Agora diz que defende a lei do jeito que está. Nessa semana, exatamente, mudou sua posição em relação à Venezuela e diz agora, finalmente, que é uma ditadura. Mas o seu partido mantém essas mesmas posições. Isso gera um questionamento para as pessoas: como é que você vai governar com o seu partido contra?”, questionou a deputada federal. 

Em resposta, Boulos lamentou o surgimento de questões “que não procedem com a verdade”. “Quando você se torna prefeito de uma cidade, ainda mais de uma cidade do tamanho de São Paulo, você não governa só para o seu partido, você governa para a cidade inteira”, disse o candidato em sua réplica.  

Marina Helena também utilizou seu tempo para falar do tempo em que o candidato do Psol foi uma das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).  

“O movimento que foi responsável por invasão de propriedade privadas. Mas não só isso. Você também invadiu prédios públicos. Você invadiu e quebrou e depredou um ministério. Você invadiu secretarias aqui em São Paulo”, disse Helena. 

“Esses movimentos nunca foram para dar moradia para as pessoas. Esses movimentos existem pela busca pelo poder. Eles invadem e depois cobram aluguel de quem está morando ali”, disse Marina Helena sem apresentar provas. Em reação, Boulos afirmou que é “inacreditável que tem alguém que venha para o debate só para mentir, inventar e atacar de maneira despropositada”.

Edição: Rodrigo Chagas