Arboviroses

Dengue: É possível cumprir a ambiciosa meta de redução do presidente Lula?

Especialista conversou com o podcast Repórter SUS sobre antecipação do plano anual de combate à doença

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Agentes de saúde atuam no combate à dengue - © Paulo Pinto/Agência Brasil
É necessária uma articulação política muito importante com a ponta, que são os municípios

O cenário crítico registrado no crescimento das arboviroses este ano no Brasil levou o governo a adiantar a campanha de combate à dengue, chikungunya, zika e oropouche. A pressa se justifica não só pelo aumento de casos, mas também porque há a expectativa de que a próxima propagação comece mais cedo.   

Normalmente, o número de pessoas infectadas inicia a tendência de crescimento entre março e abril. Em 2024, no entanto, os surtos vieram mais cedo e já em janeiro começaram a acender o alerta das autoridades sanitárias. Agora, existe o temor de que a alta de casos não espere nem mesmo 2025 e comece a ser sentida a partir de dezembro deste ano.  

Mesmo com as perspectivas negativas, no lançamento da campanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mostrou otimismo. "O Ministério da Saúde está se preparando, e a gente quer ver se a gente consegue antecipar e, se Deus ajudar, a gente quer ter o verão com menos dengue na história desse país."  

A própria ministra da Saúde Nísia Trindade disse, ainda no evento, que o presidente lançou um desafio, mas que o cenário não indica queda recorde de casos no próximo verão. "Eu compararia com a vacinação, com o feminicídio zero, são metas que nós temos que colocar no nosso horizonte e trabalhar para isso."  

Em entrevista ao podcast do Brasil de Fato Repórter SUS, o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz, fez uma análise do plano de combate anunciado pelo governo. Em consonância com a ministra, ele também afirmou que é "muito difícil" atender à meta estipulada pelo presidente. 

 "Mas é papel do governo federal estabelecer esse plano. Por que que eu falo que é muito difícil? É necessária uma articulação política muito importante com a ponta, que são os municípios” ressaltou o pesquisador. 

Croda pontuou que os seis eixos do plano governamental — prevenção, vigilância, controle vetorial, organização da rede de assistência, preparação da resposta a emergências e comunicação e participação da comunidade —  precisam de empenho direto dos municípios para virarem prática. 

“Quem executa de fato essas ações é o município. Então, além da disponibilização de recursos pelo governo federal para a União e municípios, é importante que o governo federal cobre metas específicas do município no que diz respeito à execução desse plano nos diferentes eixos que foram propostos." 

O plano no governo não prevê centralidade exclusiva na vacinação para o combate à dengue. Isso porque não há nenhum fabricante no mundo com capacidade de produção para atender a demanda total por imunizantes do país. Júlio Croda aponta que, ainda assim, o Brasil é pioneiro na disponibilização de vacinas contra a doença. 

 "O Brasil é o primeiro país a incorporar a vacina da dengue no Programa Nacional de Imunização. Ele comprou todas as doses que foram disponibilizadas pela empresa produtora. Inclusive o Ministério da Saúde já deixou claro que vai comprar todas as doses que serão disponibilizadas em 2025, em torno de 9 milhões.”  

Outra solução para a limitação da oferta de doses é a produção interna. O Instituto Butantan trabalha em uma vacina nacional contra a dengue desde 2009 e o imunizante já mostrou eficácia de 89% contra casos graves. Há a expectativa de que o pedido de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) seja feito ainda este ano. 

“Tenho certeza de que o Ministério da Saúde não vai se furtar a fazer aquisição dessas doses necessárias para imunizar a população. Mas a limitação que temos é a disponibilidade de doses. Ninguém consegue ofertar essas doses de vacinas que seriam suficientes para fazer a prevenção, uma ampla campanha de vacinação para todo o país”, pontuou Julio Croda ao Repórter SUS. 

Na conversa, o pesquisador falou também sobre a importância do adiantamento da campanha governamental de combate às arboviroses. “Não sabemos qual vai ser o padrão desse ano, mas sabemos que as medidas de controle vetorial têm mais impacto quando tem pouco mosquito. Este é o momento que tem pouco mosquito, antes da chegada do verão.”

O Repórter SUS é uma parceria entre o Brasil de Fato e a escola Politécnica de saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz. 

Edição: Nathallia Fonseca