A presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff, recebeu na manhã deste domingo (29) na capital chinesa, Pequim, a Medalha da Amizade, a mais alta honraria concedida pelo Estado chinês. Dilma é a segunda latino-americana a receber a medalha, depois do ex-presidente cubano Raúl Castro.
A medalha foi criada em 2016, e é concedida àqueles que fazem contribuições notáveis para a modernização socialista da China, ao promover intercâmbios e cooperação entre a China e países estrangeiros. Dilma foi a 12ª pessoa estrangeira a receber a honraria. A primeira medalha desse tipo foi concedida ao presidente russo Vladimir Putin, em 2018. No começo do ano, um reconhecimento similar concedido a especialistas estrangeiros, o Prêmio de Amizade do Governo Chinês, foi entregue ao professor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, Evandro de Carvalho Menezes, e ao ex-presidente da Agência Espacial Brasileira, José Raimundo Coelho.
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Dilma discursou durante a cerimônia de entrega das medalhas, no Grande Salão do Povo, o edifício utilizado para as sessões da Assembleia Popular Nacional, recepção de presidentes, entre outras cerimônias e atividades. Ela elogiou tanto o governo chinês como o presidente Xi Jinping – a quem chamou de "verdadeiro campeão da cooperação internacional e um forte defensor do multilateralismo"–, pela governança e contribuições ao desenvolvimento global.
"O compromisso assumido pela China com a reforma e abertura não apenas permitiu a retirada de centenas de milhões de pessoas da pobreza, como contribuiu, de forma significativa, para o crescimento econômico e a estabilidade globais", disse a presidente a uma plateia com a presença de vários dos" principais líderes chineses, militares, estudantes e representantes de diversas áreas.
No discurso de encerramento da cerimônia, Xi Jinping, elogiou a presidenta brasileira. "Nos últimos 75 anos, houve muitos velhos e bons amigos no mundo que compartilham as mesmas aspirações e permanecem juntos com o povo chinês nos bons e maus momentos; a sra. Dilma Rousseff (...) é uma representante notável entre eles"
"O povo chinês nunca esquecerá aqueles amigos internacionais que fizeram contribuições extraordinárias para o desenvolvimento da China e a amizade entre o povo chinês e o povo de outros países", finalizou o mandatário chinês.
Nesta rodada de entrega das honrarias, a presidenta foi a única estrangeira homenageada. Quatro pessoas receberam a Medalha da República, e outras dez receberam títulos honorários nacionais.
Presidenta Dilma Rousseff cumprimenta presidente chinês Xi Jinping no Grande Salão do Povo / CGTN
As homenagens foram de militares, a cientistas, trabalhadoras da cultura ou da saúde. Com 93 anos de idade, Huang Zongde, foi o mais idoso entre os galardoados. Ele participou desde a revolução que triunfou em 1949 – conhecida na China como Guerra da Libertação – até a resistência contra a agressão estadunidense na Coreia durante a Guerra Fria.
Brasil no Cinturão e Rota e futuro
À tarde, a presidenta concedeu uma coletiva para as mídias brasileiras. Sobre a possibilidade de o Brasil entrar na Iniciativa do Cinturão e Rota, a presidenta destacou as vantagens que a proposta de cooperação em desenvolvimento chinesa representa. Ela afirmou que a parceria para industrialização e a transferência de tecnologia "é a grande oportunidade que o Cinturão e Rota oferece".
"Essa que eu acho a proposta fundamental para o Brasil", disse citando os casos de parques industriais e tecnológicos criados em países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.
Como segundo aspecto da iniciativa, ela destacou que ela "não exige exclusividade". "Você pode fazer parceria com o Cinturão e Rota e outras tantas que você pretender", explicou Rousseff.
Outro destaque é o que o governo chinês chama como ganhar-ganhar: "É a primeira vez que a gente vê um país com alguma proeminência internacional propondo um desenvolvimento comum, geralmente se propunha uma divisão do trabalho: eu me industrializo e você produz commodity".
O futuro do Novo Banco de Desenvolvimento
O NBD tem uma característica muito importante que é um banco feito por e para os países emergentes, avaliou Dilma. Ela explicou que a sustentabilidade é um dos principais focos da entidade, que oficialmente possui seis áreas de atuação: Energia limpa e eficiência energética, infraestrutura de transporte, água e saneamento, proteção ambiental, infraestrutura social e infraestrutura digital.
Ela mencionou como exemplo de investimento que envolve a cooperação China-Brasil um processador de resíduos orgânicos de alta capacidade para produção de fertilizantes orgânicos.
Sobre as perspectivas gerais para o banco, Dilma disse que o órgão está em construção: "o banco saiu da infância e está entrando na adolescência". "Temos que dar um passo de cada vez, não podemos achar que o banco de repente terá o mesmo estatuto que bancos multilaterais" que já possuem décadas.
No futuro, o banco será caracterizado por três elementos: maior foco em infraestrutura e desenvolvimento sustentável e industrialização e transferência de tecnologia. O segundo é a expansão para os países do Sul Global. E o terceiro é o financiamento cada vez maior dos setores privados com moeda local.
Edição: Rodrigo Durão Coelho