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'Quem demanda nossa rotina é o fogo', relata brigadista indígena de 20 anos que atua em território no MT

Para Kanã Waura, que espera pelas chuvas de outubro, 'incêndios tomaram proporções humanamente impossíveis de combate'

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Kanã Waura tem apenas 20 anos e atua pela primeira vez no combate aos incêndios - @gutodauster/Ibama
Meu objetivo foi contribuir com a comunidade indígena, com o território do meu vô, da minha família

Às margens do rio Xingu, no Mato Grosso, a Terra Indígena (TI) Caboto-Jarina segue com incêndios ativos no território. O fogo já tomou conta de 11% da mata e o temor é que possa chegar a 20%. Quem confirma a previsão é a chefe da brigada de combate aos incêndios na região, Kanã Waura.  

"A tendência, na verdade, desses dados é aumentar e a queimada chegar até 20% do território. Esses incêndios estão em proporções humanamente impossíveis de combater", explica, em entrevista ao programa Bem Viver desta segunda-feira (30). 

Com 20 anos, ela faz sua estreia na equipe do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), ramo do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Retornáveis (Ibama) focado no combate a queimadas. 

Em julho deste ano, diversos territórios receberam uma formação de brigadistas comunitários com apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). 

"Meu objetivo foi contribuir com a comunidade indígena, com o território do meu vô, da minha família", explica a brigadista que é neta do cacique Megaron Txucarramãe. 

Waura conta que acabou adiando a vontade de concorrer a uma vaga na universidade por conta da oportunidade de atuar como brigadista.  

A terra indígena está na divisa do Mato Grosso com o Pará, sendo Cuiabá a capital mais próxima, a quase 900 km de distância. 


Segundo Kaña Waura, a Terra Indígena Caboto-Jarina pode ter até 20% do território destruído / Foto: Arewana e Matsi

O fogo que tomou conta do país de forma inédita nas últimas semanas também impactou terras indígenas. Foram mais de 8.164 focos de calor, o maior número já observado para o período desde 2003, entre julho e setembro deste ano, segundo um levantamento da InfoAmazonia, com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

O recorde deste ano é 221% superior à média de 2.542 focos de calor registrada entre julho e setembro entre 2003 e 2023 

Atualmente, são 63 brigadistas que atuam na TI Caboto-Jarina, sendo pessoas formadas dentro do território e também não indígenas de diversos estados, como Rondônia, Pará e Pernambuco. 

"Não tem regra, esse combate, dependendo do fogo, ele dura o dia todo. O pessoal sai cedo para conter um fogo menor, de baixa intensidade e, depois, eles fazem a vigilância da linha que eles fizeram." 

 "Mas, dependendo do fogo, muda tudo. Quem demanda nossa rotina é o fogo." 

A brigadista explica que a situação nessas proporções é inédita, embora em anos recentes já se estivesse registrando um volume de incêndios acima do que "os antigos" estavam acostumados. 

Sobre a origem do fogo, Kanã Waura explica que não é possível cravar se foi criminosa. Segundo ela, a comunidade está se deparando a uma situação inédita de seca que tem feito com que se perda o controle de queimadas rotineiras em roças, dando início a incêndios de grandes proporções. 

"Na comunidade, os mais antigos não estão acostumados com essa com esse tipo de situação extrema, esse clima diferente. Eles estão acostumados com um outro tipo de clima." 

A brigadista explica que em setembro acontece uma "chuva de mentira", como é chamada. É uma prévia da temporada de precipitação que começa, normalmente, em outubro. No entanto, estes anos, nem ela tem vindo, possibilitando o descontrole de fogo. 

Além disso, o período de seca está começando mais cedo, atrapalhando os planos do próprio Ibama. 

"No PrevFogo, nós temos um cronograma do que fazer durante o ano. Os trabalhos começam em julho e a gente sempre começa os contratos com educação ambiental e, depois, a gente faz algumas atividades comunitárias, levantamento de roça", explica Kanã Waura.

"Só que, por conta dos incêndios terem começado muito precocemente, em julho, não deu da brigada conseguir fazer o que a gente tinha programado." 

Embora a situação ainda seja crítica, a indígena comenta que já há um plano para recuperar o território por meio de uma ampla atividade de reflorestamento. O projeto será feito em parceria com o Instinto Raoni. 

"Além de reflorescimento, a gente tem que fazer uma educação ambiental reforçada aqui no território para tentar colocar na cabeça da comunidade todas as consequências do fogo, explicar para eles como que coloca fogo na roça da maneira certa, usando a técnica correta, da maneira mais segura, então a gente tem muito trabalho a fazer mesmo após os incêndios."


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Edição: Martina Medina