Oriente Médio

Turquia diz que ONU deveria recomendar uso da força para barrar invasão de Israel ao Líbano

Preisdente turco também pediu boicote a Israel; número de mortos em ataques israelenses nas últimas 24h chegou a 136

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pediu boicote a Israel - Adem Altan / AFP

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse que a Assembleia Geral da ONU deveria "recomendar o uso da força" se o Conselho de Segurança das Nações Unidas não conseguir impedir os ataques de Israel em Gaza e no Líbano.

“A Assembleia Geral da ONU deve implementar rapidamente a autoridade para recomendar o uso da força, como fez com a resolução Uniting for Peace de 1950, se o Conselho de Segurança não demonstrar a vontade necessária”, disse Erdogan após uma reunião do gabinete em Ancara.

A resolução citada pelo presidente turco foi criada no século passado como uma manobra ocidental para driblar vetos da antiga União Soviética a operações durante a Guerra da Coreia (1950-1953). Ela prevê que, em caso de divergência no Conselho de Segurança, "a Assembleia Geral deverá considerar o assunto imediatamente [...] para medidas coletivas, incluindo no caso de violação da paz ou ato de agressão o uso de força armada quando necessário".

Erdogan também pediu aos países muçulmanos que tomem medidas econômicas, diplomáticas e políticas contra Israel para pressioná-lo a aceitar um cessar-fogo, e acrescentou que os ataques de Israel também os atingiriam se não fossem interrompidos logo.

As Forças Armadas israelenses exigiram na noite desta segunda-feira (30) que os moradores de três bairros do subúrbio sul de Beirute, capital do Líbano, deixem suas casas, indicado que os ataques seguirão atingindo a cidade.

Já o Exército libanês ordenou um reposicionamento de suas tropas no sul do país no momento em que Israel instaurou uma "zona militar fechada" em localidades fronteiriças e ameaça uma invasão terrestre ao território.

Pelo menos 45 pessoas foram mortas em Ain al-Delb, no Líbano, ao sul da capital Beirute, aumentando o número de mortos em ataques israelenses nas últimas 24 horas para 136, de acordo com as autoridades libanesas.

Segundo a rede local Al Manar, afiliada ao Hezbollah, "disparos sionistas de artilharia" foram produzidos perto das localidades fronteiriças de Wazzani, Vale Khiam, Alma al Shaab e Naqura, e a agência nacional de notícias libanesa relatou "tiros de artilharia significativos contra Wazzani".

Estas aldeias estão localizadas em frente a cidades israelenses declaradas "zona militar fechada" pelo Exército de Israel. Horas antes dos relatos de disparos, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, havia insinuado que poderiam ser realizadas operações terrestres contra o Hezbollah. 

Gallant, disse que a "próxima fase da guerra contra o Hezbollah começará em breve e permitirá que os moradores do norte retornem para casa".

Ataques contra o Líbano

O Exército israelense iniciou na última semana uma campanha de bombardeios em larga escala contra o Hezbollah no Líbano, após um ano de confrontos na fronteira, com o objetivo de enfraquecer o grupo libanês, aliado do Hamas e organizações palestinas que resistem em Gaza.

O ministro israelense da Defesa afirmou que a morte Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah morto por Israel durante um ataque, é um "passo importante, mas não é o final". "Para garantir o retorno das comunidades do norte de Israel, utilizaremos todas as nossas capacidades", declarou Gallant durante uma visita a soldados na fronteira entre Israel e Líbano.

A ONU, por sua vez, declarou que se opõe a qualquer tipo de invasão terrestre no Líbano e insistiu nesta segunda-feira (30) que Israel pare com os bombardeios contra este país.

"Não queremos presenciar nenhum tipo de invasão terrestre", declarou Stephane Dujarric, porta-voz de Antonio Guterres que, por sua vez, assinalou que os capacetes azuis no Líbano tiveram que suspender suas patrulhas devido à "intensidade" dos combates.              

Irã descarta enviar tropas

O Irã, um aliado essencial do Hezbollah, descartou a possibilidade de enviar combatentes ao Líbano e para Gaza. "Não é necessário enviar forças auxiliares ou voluntárias iranianos", declarou o porta-voz da diplomacia do país, Naser Kanani, antes de acrescentar que o Líbano e os combatentes nos territórios palestinos "têm a capacidade e o poder necessários para enfrentar a agressão do regime sionista".

A Arábia Saudita, ator importante na região, pediu respeito à "soberania e integridade territorial" do país e expressou "grande preocupação" com a intensificação do conflito entre Hezbollah e Israel, enquanto a ofensiva israelense prossegue na Faixa de Gaza. 

O Hamas anunciou nesta segunda-feira que seu líder no Líbano morreu em um ataque aéreo no sul do país, onde a imprensa estatal relatou um bombardeio contra um campo de refugiados palestinos. "Fatah Sharif Abu al Amine, o líder do Hamas no Líbano e membro da direção do movimento no exterior, morreu em um bombardeio contra sua casa no campo de Al Bass, sul do Líbano", afirma um comunicado do movimento.  A organização informou que ele morreu ao lado da esposa, do filho e da filha no que chama de "assassinato terrorista e criminoso".

Mais de mil mortes e 100 mil deslocados

Mais de mil pessoas morreram no Líbano desde meados de setembro na ofensiva de Israel, segundo as autoridades. Além disso, o primeiro-ministro libanês Nayib Mikati afirmou que o país tem quase um milhão de deslocados, o que representaria o maior deslocamento populacional da história da nação.

A ONU afirmou que quase 100 mil pessoas – cidadãos libaneses e sírios – fugiram do Líbano para a Síria devido aos bombardeios. Na madrugada desta segunda-feira, o Exército israelense anunciou que atacou dezenas de alvos do Hezbollah na região do Bekaa, leste do Líbano e conseguiu "interceptar um projétil aéreo que entrou no território do país procedente do Líbano". 

O Ministério da Saúde libanês afirmou que seis socorristas do Comitê Islâmico da Saúde, vinculado ao Hezbollah, morreram em um ataque israelense no Vale do Bekaa.

*Com Al Jazeera e AFP

Edição: Leandro Melito