a guerra aumenta

'Gostemos ou não do Hezbollah, somos todos alvos de Israel', diz brasileira no Líbano

'Eu nunca tinha passado por nada parecido e a situação se agrava a cada dia. O que a gente está vendo é uma carnificina'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Leila Salim Leal acompanhou os bombardeios israelenses em Beirute, onde vive - Acervo pessoal / Leila Salim Leal

“A sensação é de que ninguém está seguro, o alvo é o Líbano e a população libanesa”, afirma Leila Salim Leal, que acompanha os bombardeios de Israel contra o país do apartamento onde vive no centro de Beirute, capital do país. O bombardeio de Israel na região na segunda-feira (30), o primeiro desde a invasão ao país realizada em 2006, aconteceu a cerca de 3 km de sua casa.

“Eu nunca tinha passado por nada parecido e a situação se agrava a cada dia. O que a gente está vendo é uma carnificina”, disse ao Brasil de Fato nesta terça-feira.

A escalada militar de Israel contra o Líbano nas últimas semanas evidenciou, considera, que o objetivo dos ataques não é atingir o Hezbollah. “Essa alegação reproduz o mesmo discurso cínico e cruel que vem sendo implementado desde o ano passado no genocídio [em Gaza]: de que seria uma tentativa de defesa direcionada ao Hamas. Isso não é verdade, está claro para todos nós que, independente se concordam ou não com o Hezbollah, toda a população do Líbano é alvo nesse momento.” 

Jornalista  e pesquisadora em comunicação política, Leal tem família de origem libanesa, e vive no Líbano desde 2023, onde se casou com um cidadão libanês. Quando Israel começou os ataques a distância por meio de pagers e walkie talkies contra integrantes do Hezbollah, ela estava a caminho do aeroporto, junto com seu marido, para resolver uma pendência em relação ao visto de residência no país.

“De repente as ruas começaram a ficar muito tensas, um engarrafamento muito grande, ambulância pra todo lado, algumas ruas fechadas”, conta. “Naquele momento a gente desistiu de ir pro aeroporto, tentou voltar pra casa, mas havia um trânsito horrível, uma sensação horrível porque as pessoas começaram a explodir em todos os lugares, nas ruas, em supermercado, em hospitais, em escolas, dentro de casa. Parecia que qualquer pessoa podia explodir à sua volta a qualquer momento, foram momentos muito tensos, de muito pânico.”

Desde o início da escalada israelese contra o país, ela aponta que aumentaram as quebras de barreira do som por parte dos aviões que invadem o espaço aéreo do Líbano em uma velocidade que provoca um estrondo, semelhante a uma explosão.

“No momento da explosão a gente não sabe se é só uma explosão sonora, que já é muito grave, ou se é realmente um bombardeio. Da primeira vez foram dois estrondos muito altos, eu estava em casa e aí tremeu tudo: janela, porta, é uma situação de muito medo. Eu fui pro chão, não sabia se era uma explosão real,  uma bomba ou não, depois de um tempo não vi fumaça nem nada, entendi que era uma quebra de barreira de som.”

Na última sexta-feira (28) quando ouviu um estrondo próximo de sua casa, ela não teve dúvida: tratava-se de uma explosão.

“Foram estrondos muito altos, era um barulho diferente. Tremeu tudo também, eu tentei me proteger, proteger minha cabeça, ficar longe dos vidros, veio mais um outro estrondo muito forte. Começaram a chegar as notícias de que tinha sido essa explosão. É uma sensação de vulnerabilidade terrível.”

Desde segunda-feira (30), ela relata que escuta com frequência o barulho de drones. “Estão sobrevoando Beirute com drones permanentemente, da última semana pra cá quase o tempo todo, é uma guerra psicológica e é também uma forma também de vigilância, a gente sente”.

O Exército israelense confirmou nesta terça-feira que suas tropas iniciaram "ataques terrestres seletivos" no sul do Líbano. Um militar de alta patente israelense afirmou que os ataques tiveram alcance limitado, mas fontes do Hezbollah disseram à AFP que "não foi observada nenhuma incursão de forças inimigas israelenses em território libanês", mas não foi possível confirmar essas afirmações. 

Os militares israelenses anunciaram que mobilizaram mais quatro brigadas para serem enviadas à fronteira com o Líbano.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu cessar-fogo "imediato" e destacou que "a soberania e a integridade territorial do Líbano devem ser respeitadas", segundo uma declaração do seu porta-voz, Stéphane Dujarric. 

Também nesta terça-feira, Israel bombardeou o sul de Beirute, reduto do Hezbollah, os arredores de Damasco, na Síria, e a Faixa de Gaza. A Agência Nacional de Notícias do Líbano (ANI) disse que os ataques aéreos israelenses atingiram subúrbios ao sul de Beirute, enquanto Israel anunciou um ataque à capital libanesa. 

O Hezbollah informou que disparou foguetes contra a principal base de inteligência militar israelense, Glilot, e a base aérea de Sde Dov, ambas perto de Tel Aviv, após atacar soldados israelenses com artilharia e disparar foguetes contra Avivim e Metula, norte de Israel. Sirenes de ataque aéreo soaram no centro de Israel.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho