Na noite desta terça-feira (1º), a TV Jornal promoveu o primeiro debate televisionado entre os candidatos a prefeito do Recife este ano. Participaram João Campos (PSB), Dani Portela (Psol), Daniel Coelho (PSD), Gilson Machado (PL) e Técio Teles (Novo). O debate transcorreu de maneira civilizada e sem cenas esdrúxulas como as vistas noutras localidades, mas também pouco propositivo e “morno” nos confrontos. O prefeito João Campos (PSB) acabou, em alguma medida, “blindado” pelas regras.
Houve apenas dois momentos em que os candidatos poderiam fazer perguntas um ao outro, além do impedimento que o mesmo candidato fosse perguntado por dois ou mais adversários. Se por um lado as regras garantiram a participação equitativa aos cinco, elas também acabaram por “proteger” Campos, que tem aparecido com 75% nas pesquisas de intenção de votos e seria, evidentemente, o alvo prioritário de todos os adversários.
O prefeito e candidato à reeleição João Campos (PSB) adotou a estratégia de falar de obras já feitas, apontar possíveis obras futuras e acusou os adversários de preferirem atacar, sem apresentarem propostas para a cidade. Nas considerações finais, Campos se disse feliz por “cuidar do Recife” e afirmou que seu governo se deu “na rua”. “Esse voto é um voto no trabalho”, concluiu.
Dani Portela (Psol) aproveitou o debate para “marcar posição” à esquerda, tentando se colocar como diferente dos outros quatro candidatos, tanto do ponto de vista ideológico como pelo fato de, no debate, ser a única mulher e a única pessoa negra. Portela defendeu a gestão do presidente Lula (PT) em duas ocasiões, criticou o bolsonarismo e reafirmou bandeiras históricas da esquerda, como a defesa do SUS, da tarifa zero e as críticas às parcerias público-privadas (PPPs).
A candidata dirigiu suas considerações finais às mulheres e ao eleitor que se identifica como esquerda. “Somos a maioria da população, mas essa cidade nunca foi governada por mulher. Representamos a esquerda e não vamos abaixar nossas bandeiras para ganhar voto de bolsonarista. Devemos derrotá-los e varrê-los para o lixo da história”.
Daniel Coelho (PSD) mostrou desenvoltura para apresentar números referentes aos problemas da capital, conseguiu expor algumas propostas e defendeu a gestão da sua aliada governadora Raquel Lyra (PSDB). Nas considerações finais, Coelho destacou sua trajetória parlamentar como vereador do Recife, deputado estadual e federal, mencionando ainda leis aprovadas para a cidade. “Nos dê uma chance, porque eles já tiveram a chance deles”.
Gilson Machado (PL) mostrou dificuldade de apresentar propostas e desenvolver ideias, saltando entre temas dentro de uma mesma resposta e repetindo frases já ditas por ele ou por seus adversários. Em sua última fala no programa, Machado convocou “você, conservador, que não votou no 2º turno de 2020” (entre João e Marília Arraes, então no PT). “Agora vocês têm em quem votar”, disse Gilson, afirmando ainda que “o Recife do povo não é o Recife de João”.
Técio Teles (Novo) se autoafirmou como “direita liberal e consciente” e buscou promover sua imagem individual como “preparado”, que só teria ocupado cargos - tanto no setor privado, como na política - por ter competência. “Meritocracia”, jurou. Ele também reforçou discursos bolsonaristas como acusar o serviço de trânsito - e consequentemente a CTTU - de ser uma da “indústria da multa”. Na despedida do debate, Teles disse que, “independente do que dizem as pesquisas, não podemos permitir que o Recife se torne uma capitania herediária”.
João Campos (PSB) x Gilson Machado (PL)
No primeiro bloco do debate, Gilson Machado (PL) questionou João Campos sobre o programa “Infância na Creche”, que tem transferido recursos para creches comandadas por políticos de sua base de apoio.
Machado chamou o caso de “escândalo das creches, máfia das creches”, se queixando ainda de ter sofrido “censura” da Justiça Eleitoral, que retirou do ar propagandas televisivas usando termos similares para tratar do tema.
Na réplica, Gilson disse que João Campos será cobrado por Deus no futuro. “Você pode enganar o juiz, o promotor, mas não vai enganar o povo”, retrucou o bolsonarista.
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Creches dos ‘amigos do prefeito’ viram pauta de opositores no Recife
Campos disse que sua gestão ampliou equipamentos que já existiam, construiu novos e que a PPP é “uma parte” do programa de ampliação de vagas. “É um modelo regulamentado”, se esquivou. “Dupliquei o número de vagas e agora quero triplicar”, prometeu. O prefeito criticou Gilson. “Poderia fazer uma campanha propositiva, mas insiste em ataques e mentiras. Ele foi punido 313 vezes por isso”, citou.
Durante a resposta, Gilson Machado chegou a interromper João Campos e foi chamado atenção pela mediadora do debate. Ao fim do questionamento, Campos quis dirigir uma pergunta a Gilson, mas as regras do debate não permitiam. A oportunidade viria minutos depois.
No 2º bloco, quando os candidatos fazem perguntas com temas sorteados pela produção, João divulgou iniciativas da sua gestão e perguntou quais as propostas de Gilson para gerar mais empregos no Recife.
O candidato do PL respondeu que João “não fez mais que sua obrigação”. “O Recife hoje tem 15% da população desempregada e 150 mil abaixo da linha de pobreza. O empresário sofre com carga tributária e a Zona Azul está acabando com os comerciantes no centro. Você transformou o Recife na capital do desemprego”, atacou Gilson.
Campos respondeu que “em 1 minuto e meio ele não trouxe nenhuma proposta, mas falou mal do Recife diversas vezes. Para governar é preciso ter equilíbrio”, revidou o prefeito.
Daniel Coelho (PSD) e Técio Teles (Novo) x João Campos (PSB)
Daniel Coelho (PSD) e Técio Teles (Novo) também tiveram oportunidade de confrontar João Campos. No 1º bloco, quando Campos perguntou a Técio sobre soluções para a drenagem pluvial na cidade, o opositor disse que o prefeito “promete muito, mas não cumpre”.
“Sua gestão é do desemprego. Precisamos libertar o Recife do PSB e da esquerda, que acabaram a nossa cidade (...) Tem obras atrasadas desde a Copa do Mundo (de 2014). Vocês fazem muita propaganda, deveriam ser, não um governo, mas uma agência de publicidade”, disse Teles.
João destacou obras iniciadas na sua gestão visando lidar com as chuvas, como a dragagem do rio Tejipió, e disparou que “tem um time querendo falar e tem um time querendo fazer - e eu aprendi a fazer”.
Já Daniel Coelho confrontou o prefeito com uma pergunta sobre saneamento, o que levou a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) para o debate. Campos criticou a estatal e disse que sua gestão tem feito urbanização com recursos emprestados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). “A Compesa precisa de um serviço melhor. De cada 10 buracos no Recife, 8 foram abertos pela Compesa e não foram fechados”, disse ele.
Daniel Coelho, candidato do grupo da governadora Raquel Lyra (PSDB), rebateu. “Vocês [PSB] governam o Recife há 12 anos e governaram o estado por 16 anos. O Recife só tem 49% de área saneada e [o ex-governador] Paulo Camara (PSB) entregou a Compesa quebrada”, atacou Coelho.
João Campos voltou a repetir que o opositor “não consegue apresentar propostas para o Recife”.
Dani Portela (Psol) x Daniel Coelho (PSD)
A candidata do Psol fez suas duas perguntas para Daniel Coelho, que está próximo a ela nas pesquisas de intenção de voto. Os temas das perguntas foram transporte e saúde. “O Recife tem o pior congestionamento do Brasil. Daniel, você compôs o governo Raquel Lyra, que é sócio majoritário no Consórcio Grande Recife, e este governo nada fez para melhorar o transporte. Você hoje fala em tarifa zero, mas por que isso não foi implementado pela sua governadora?”, questionou a psolista.
Portela chamou atenção para que as mesmas famílias vencem licitações do transporte urbano há décadas. “É preciso abrir a caixa-preta do transporte”, cobrou, fazendo novas críticas à governadora.
Daniel Coelho (PSD) alegou que a falta de investimento da Prefeitura do Recife no sistema de transporte é a causa da baixa qualidade dos serviços. “Não dá para resolver se o município não investir. O prefeito precisa parar de terceirizar o problema”. E saiu em defesa da governadora tucana. “Você prefere atacar uma mulher que nem está aqui para se defender. É mais fácil do que vir para o debate da cidade”, disse ele.
Sobre a saúde, Portela afirmou que Daniel Coelho defende um projeto “privatizante” da saúde, da mesma forma que João Campos fez com as creches. “Nossa saúde não pode ser sinônimo de mercadoria. Eu defendo o SUS, quero que o dinheiro público seja investido em coisas 100% públicas”, disse ela. Coelho não negou. Disse apenas que “não há nenhum elemento que diga que a PPP piora o serviço”.
Dani Portela (Psol) teve embates repetidos. Em ambas as rodadas ela foi questionada por Técio Teles (Novo) e dirigiu sua pergunta para Daniel Coelho (PSD).
Técio Teles (Novo) x Dani Portela (Psol)
O candidato do Novo dirigiu suas duas perguntas para a psolista. No primeiro bloco, perguntou sobre o armamento da Guarda Municipal, que ele é favorável. A candidata retrucou. “É muito fácil defender a arma quando ela não está apontada para você. Os candidatos aqui são brancos, ricos e vêm de áreas abastadas, por isso são todos favoráveis ao armamento da Guarda. Mas a gente sabe da dor das mães que perdem um filho”, disparou. “Em 2022 e 2023 todas as pessoas mortas pela Polícia Militar na nossa cidade foram pessoas negras”, disse Portela.
A candidata do PSOL destacou que a Guarda Municipal do Recife tem um salário médio de R$2.400, “muitas vezes trabalhando em locais insalubres e precisando trabalhar no dia de folga para complementar a renda”, disse ela, destacando que a GMR que precisa de aumentos salariais.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vinícius Sobreira