Na reta final da eleição municipal, uma bomba estourou no colo de Eduardo Pimentel (PSD), candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em Curitiba. Um áudio atribuído ao superintendente de Tecnologia da Informação da Secretaria da Administração, Antonio Carlos Pires Rebello, obrigava os servidores públicos e comissionados a praticarem uma suposta “rachadinha eleitoral”.
Os servidores tiveram que comprar ingressos para um jantar do PSD estadual em valores que chegam a R$ 3 mil. Diante da revelação, o Ministério Público do Trabalho (MPT) mandou a campanha de Pimentel devolver o dinheiro dos servidores.
A Prefeitura de Curitiba demitiu o funcionário flagrado e Pimentel, que lidera as pesquisas, disse em suas redes sociais que não tinha nada a ver com a situação. Seus adversários, por outro, cobram investigação.
Áudio mostra que o superintendente pressionou servidores a comprarem convites para jantar de campanha do candidato apoiado por Bolsonaro. Quem não comprasse seria demitido. Nas redes sociais, o candidato de Ratinho Junior (governador do Paraná) e do ex-presidente, que indicou o vice da chapa, Paulo Martins (PL), afirmou que “o responsável já foi exonerado após a apuração dos fatos".
"Repudio qualquer forma de pressão ou ameaça a servidores públicos e lamento profundamente o que ocorreu”, disse Pimentel.
Por outro lado, o Ministério Público do Trabalho mandou a Prefeitura de Curitiba e a campanha devolverem todo valor. “O Município de Curitiba deverá, em até 24h (vinte e quatro), dar ampla e geral publicidade acerca da ilegalidade das condutas de assédio eleitoral e comprovar a devolução ou não desconto de valores dos servidores públicos referentes à participação em jantar de apoio a candidato, retratação ou retificação espontânea”, determinou a procuradora do trabalho, Valdenice Amalia Furtado.
Caso isolado?
A denúncia contra o superintendente da Prefeitura de Curitiba que foi exonerado pode não ser um caso isolado. A reportagem obteve a lista completa com os servidores públicos que participaram do jantar com Pimentel, Ratinho Junior e outros políticos. Ao todo, 1508 pessoas participaram do jantar pagando valores que vão de R$ 1 mil a R$ 3 mil.
A "contribuição" conta com servidores municipais, estaduais, funcionários de agências e empresas do estado como Sanepar (32 contribuições), Cohapar, ParanaCidade, Copel e IDR-PR, Casa Civil, Prefeituras e até Governo de São Paulo. Apenas uma funcionária da Prefeitura de Curitiba doou R$ 9 mil.
Além do jantar, servidores públicos têm denunciado assédio para aderir à campanha de Pimentel. Desde "doação voluntária" à campanha, até ter que segurar bandeiras para o candidato e serem fiscais e delegados no dia 6 de outubro. Em um áudio que a reportagem teve acesso, um servidor da Secretaria de Esporte e Lazer de Curitiba convida:
"Eu tô precisando de apoio para alguns colégios eleitorais no domingo de eleição. Quem tiver disponibilidade de dar uma força, pode ser meio período. Agora começou a fechar as listas e a gente tem necessidades. Quem estiver disponível para ser delegado ou fiscal do partido que a gente tá apoiando", sugere.
Adversários cobram explicações
Em sua defesa, o candidato a prefeito disse que o constrangimento aos funcionários “foi uma decisão pessoal do servidor que foi exonerado e que não foi um jantar de arrecadação, mas do PSD estadual”. O PSD Nacional doou R$ 20 mil para o evento.
Após divulgação das denúncias, o candidato Luciano Ducci (PSD) em segundo nas pesquisas, disse repudiar "todo e qualquer assédio, em especial direcionado aos servidores públicos. Pressionar, coagir, ameaçar, forçar alguém a votar em qualquer candidato, assim como forçar a apoiá-lo ou a fazer doações, é crime".
Já Ney Leprevost, que é aliado do governador Ratinho Junior, disse que vai acionar a Polícia Federal para investigar o suposto caso de rachadinha eleitoral. "Estamos pedindo investigação da Polícia Federal para apurar o alcance deste triste caso revelado pela imprensa nacional e local", disse.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Mayala Fernandes