O Instituto de Estatísticas e Censos da Cidade de Buenos Aires (Idecba) revelou que o número de pessoas que estão em situação de pobreza na capital da Argentina chegou a 989 mil no 2º trimestre de 2024, o que representa quase um terço da população da cidade.
Deste número, 417 mil são considerados indigentes, ou seja, estão na extrema pobreza. Os dados são do relatório sobre as condições de vida em Buenos Aires durante o segundo trimestre do ano publicado na última terça-feira (01).
O cenário implicou em um aumento de 159 mil novos pobres em comparação ao mesmo período do ano passado. Segundo os dados, a pobreza já alcança 26,4% dos lares portenhos e 32,1% da população total da cidade.
Este resultado é o segundo maior do registro histórico desde 2015 para um segundo trimestre, superada apenas pelo período de 2020, quando o isolamento social preventivo e obrigatório estava em vigor no país durante a pandemia do novo coronavírus.
Já a extrema pobreza atingiu 9,2% dos domicílios e 13,5% dos indivíduos, “também está entre as maiores incidências, juntamente com as do início da pandemia”, disse o estudo.
Com relação às crianças e aos adolescentes, o Idecba mostrou que "45,4% das crianças, jovens e adolescentes residem em lares em condição de pobreza", o que significa 304 mil pessoas nesta faixa etária. Este dado representa um aumento de 5,8% em relação ao mesmo período de 2023.
Os setores mais afetados pela pobreza são as famílias chefiadas por mulheres — 31%, em comparação com as chefiadas por homens, com 21% —, ou por uma pessoa empregada no serviço doméstico (61,1%).
O estudo também apontou que “as famílias com idosos vivendo na pobreza são de 26,4%, um valor próximo ao da população total”.
Em relação ao sustento econômico das famílias em Buenos Aires, o relatório detalhou que “a renda familiar per capita mensal dos domicílios em condições de extrema pobreza é de US$ 76 [R$ 414] e a dos que sofrem de pobreza é de US$ 203 [R$ 1.108]”. Dessa maneira, o informe calculou que "seria necessário, em média, transferir US$ 283 para cada residência em situação de pobreza para tirá-la dessa condição", e especificou que essa diferença representa 39,5% do valor da cesta básica.
Os dados do Idecba sobre a cidade de Buenos Aires foram divulgados em meio a uma profunda crise econômica e social na Argentina na era do presidente de extrema direita Javier Milei, em que mais da metade da população total do país está oficialmente abaixo da linha da pobreza.
Aumento da desigualdade
O Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec) revelou na última quarta-feira (2) um aumento na desigualdade no segundo trimestre do ano na Argentina. O cálculo foi feito através do coeficiente de Gini, um medidor da desigualdade de distribuição de renda no território, em que 0 representa a igualdade plena e 1 a desigualdade máxima.
No segundo trimestre de 2024, este número foi de 0,436, um aumento em comparação com o mesmo período de 2023, que era de 0,417.
O registro de 2024 é o pior desde a pandemia, e está relacionado com o aumento do desemprego no país, uma retração nos salários com relação à inflação e a desvalorização do peso, a moeda nacional.
Os números foram divulgados enquanto Milei tenta aprofundar uma política fiscal que tem como prioridade a tentativa de contenção da inflação e déficit zero, em detrimento de direitos sociais e qualidade de vida da população, como o veto ao aumento da aposentadoria e ampliação do orçamento das universidades públicas no país.
O relatório da evolução da distribuição de renda do Indec afirmou que a renda média de pessoas que compõem a população total considerada na Pesquisa Permanente de Domicílios (EPH) foi de US$ 289 dólares (R$ 1.578).
*Com Tiempo Argentino
Edição: Lucas Estanislau