A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) apresentou nesta sexta-feira (4) uma moção de censura ao governo francês do novo primeiro-ministro conservador, Michel Barnier, que não dá sinais de prosperar devido à recusa da extrema direita em apoiá-lo. A NFP justifica a sua moção de censura na decisão do chefe de Estado de não nomear a sua candidata a primeira-ministra, a economista Lucie Castets, e nas "orientações políticas" do governo Barnier.
"A existência deste governo, pela sua composição e pelas suas orientações, é uma negação do resultado das últimas eleições legislativas", diz a moção, que será defendida na terça-feira na Assembleia Nacional (câmara baixa) pelo líder socialista Olivier Faure, segundo fontes.
Os orçamentos para 2025 anunciado pelo primeiro-ministro foram considerados "os mais austeros dos últimos 25 anos", denuncia o movimento de esquerda que, em uma crítica velada, ataca as críticas ao Estado de direito do ministro do Interior, o ultraconservador Bruno Varejo.
A NFP venceu as últimas eleições legislativas que o presidente francês, Emmanuel Macron, antecipou em junho, após a vitória da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu. Com 193 deputados, a NFP não alcançou a maioria absoluta de 289 e Macron decidiu nomear um aliado como primeiro-ministro em uma manobra política para se manter estável no governo.
Durante todo o processo de negociação para a formação do novo governo, Macron buscou isolar a esquerda, que acusa o mandatário de "golpe". O presidente rejeitou nomear como primeira-ministra a candidata de esquerda em nome da "estabilidade institucional".
Disputa
Após seu breve retorno à política francesa em 2021 para disputar sem sucesso as primárias do LR para as eleições presidenciais de 2022, Barnier defendeu especialmente uma "moratória" sobre a imigração.
Aos 73 anos, Barnier, que foi ministro em diversas ocasiões, comissário europeu e negociador-chefe do Brexit - que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia - pode contar com o apoio de seu partido, Os Republicanos (LR), e da aliança de centro-direita de Macron.
Mas isto seria insuficiente diante de uma possível moção de censura, caso tanto o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados como a coalizão de esquerda votassem contra Barnier. Os dois blocos juntos totalizariam 335 votos, muito acima dos 289 necessários.
Uma queda rápida de Barnier seria um revés para Macron, que justificou as longas consultas para formar um governo com a busca da "estabilidade institucional", quase dois meses depois do bloqueio político provocado pelas eleições legislativas.
O novo governo carece de maioria na Assembleia Nacional, portanto poderá cair se o terceiro maior bloco em número de deputados, a extrema direita, apoiar a moção de censura. A deputada de extrema direita Laure Lavalette reafirmou na quinta-feira que não apoiará esta primeira moção, garantindo que a situação na França é "suficientemente grave" e que não quer acrescentar mais caos.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito