Temos uma mistura de rebaixamento do debate político, conservadorismo e pragmatismo
Olá!
Dez anos depois da virada conservadora no Congresso e oito anos depois do golpe contra Dilma, as urnas continuam afiançando o conservadorismo.
.O clima das urnas. As eleições deste ano estão sendo diferentes. Não só pelo fato de serem as mais caras da história, com um fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões, e mais alguns bilhões em doações empresariais. Mas também porque são eleições que já ocorrem com a crise climática a todo vapor. E, ironicamente, ainda que os candidatos admitam que o eleitorado se preocupa com a questão, poucos deles têm propostas para enfrentá-la. Também está sendo diferente porque, ao contrário do que se esperava há alguns meses atrás, não está refletindo a mera polarização Lula X Bolsonaro. Na verdade, nenhum dos dois tem se mostrado cabos eleitorais decisivos. Ainda que o ex-capitão se saia melhor que Lula, ele já não encanta o eleitorado conservador como antes. Em compensação, o PT não conseguiu capitalizar para as urnas o melhor desempenho na economia. Temos muito mais uma mistura de rebaixamento do debate político, conservadorismo e pragmatismo. O que se vê é uma esquerda fragilizada, especialmente nas capitais, e uma direita mais diversificada que, de certa forma, antecipa uma era pós-Bolsonaro, o que também é comprovado pelo ocaso do lavajatismo em Curitiba. Por outro lado, mesmo que a grande aposta do PL de usar o nome de Bolsonaro para passar o rodo nas urnas não se concretize, o partido ainda deve se sair bem. Mas nada se comparado ao PSD, de Gilberto Kassab, que deve ficar com o maior número de prefeitos. Aliás, a ascensão do PSD, que integra tanto o governo Lula quanto o governo paulista de Tarcísio de Freitas, só confirma o clima de confusão ideológica e pragmatismo. Tirando isso, a tendência é de fragmentação partidária, observa Miriam Leitão. A jornalista lembra ainda que, a cada novo pleito, o quadro eleitoral paulistano se torna menos representativo e decisivo para a realidade nacional, ainda que seja privilegiado pela cobertura midiática.
.Ressaca antecipada. Sem grandes expectativas em relação aos resultados das eleições municipais, o governo federal ainda amarga a ressaca de problemas anteriores. Nas relações internacionais, o enfraquecimento da ONU foi agravado pela escalada bélica da dupla Netanyahu e Biden e, para além das irrelevantes moções diplomáticas, resta ao Brasil apenas as complexas operações de retirada de brasileiros dos países da região. Sem paz à vista, seja no oriente seja na Ucrânia, também se ofuscam as expectativas de protagonismo internacional que o país esperava ter com a presidência do G20 em novembro e com a COP 30 no próximo ano. Além dos sinais de uma presidência tensa no Brics, grupo que inclui o Irã e a Rússia, também no próximo ano. E reduzir o orçamento de 2025 no tema da transição energética também esvazia o discurso de líder ambiental que o governo pretendia vender lá fora. Além disso, Lula e Gustavo Petro voltaram do México sem conseguir trazer o país de volta para as negociações sobre a situação da Venezuela, enquanto a União Europeia sinalizou que pode adiar, mas só por um ano, a lei que proíbe compra de produtos de áreas desmatadas a partir de dezembro. Assim, o périplo internacional das últimas duas semanas teve apenas uma boa notícia, a melhora da nota do país pelas agências de risco internacionais, baseada no exaustivamente mencionado “compromisso do governo com o arcabouço fiscal”. Mas nem isso é suficiente para amolecer o coração do mercado financeiro, e o governo “sofre em silêncio”, porque sabe que a próxima reunião do Copom deve aumentar os juros mais uma vez. E, no meio disso tudo, agora, o governo acordou para a epidemia das Bets, derrubando o impressionante número de 500 sites de apostas depois que mais de 20 milhões de brasileiros já estavam contaminados, 42% destes endividados e ⅓ fora do mercado do trabalho. Para completar a dor de cabeça, pior do que a redução de 3% na aprovação do governo é a queda de 6% em setores como os mais pobres e os católicos.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.Massacre do Carandiru: 32 anos depois, policiais gozam de indulto e STF não tem data para julgar o caso. O Brasil de Fato relata a impunidade que cerca o maior massacre da comunidade carcerária do país.
.Vereador do agro: de policial na ditadura em SP a fazendeiro no Pará. Na Agência Pública, da ROTA paulistana à defesa da monocultura, o perfil de Sorjão, vereador no sudoeste do Pará.
.Brincando com fogo: a união entre políticos e empresas que leva a Amazônia ao abismo. A Samaúma desvenda o Instituto Pensar Agropecuária, lobby anti-ambiental do agronegócio e da bancada ruralista.
'Ainda estou aqui' no Oscar: por que caso de Rubens Paiva segue parado no STF. Como o caso do assassinato do deputado pela ditadura segue guardado numa das gavetas de Alexandre de Moraes.
.A Revolução sem fim. Tings Chak e Vijay Prashad, do Instituto Tricontinental, relembram os marcos da Revolução Chinesa, da vitória contra o fascismo à erradicação da pobreza.
.Instituição criada por negros libertos completa 192 anos com desafio de mobilizar juventude. A Alma Preta conta a história de longevidade da associação criada por africanos livres e alforriados.
.Mafalda chega aos 60 anos inspirando artistas e ativistas. No Sul 21, o aniversário de um ícone da rebeldia latino-americana.
.Pedagogia da desinformação. N’O Grito, uma reportagem em quadrinhos conta como e por quê Paulo Freire se tornou vítima da desinformação.
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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
Edição: Nathallia Fonseca