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Venezuela registra 0,8% de inflação mensal em setembro e taxa continua em queda

Ao longo de 2024, a inflação mensal venezuelana não esteve acima dos 2%; vice-presidente celebrou os resultados

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
No começo de 2024, mais da metade das trocas comerciais na Venezuela foram feitas em bolívares (54,9%) - Cristian HERNANDEZ / AFP

O Banco Central da Venezuela divulgou nesta sexta-feira (4) que a inflação mensal de setembro ficou em 0,8%. Esse é o menor resultado para o mês desde 2008. O dado representa uma baixa de 0,6 ponto percentual em relação a agosto, quando a inflação fechou em 1,4%.

Ao longo de 2024, a inflação mensal venezuelana não esteve acima dos 2%. Economistas ouvidos pelo Brasil de Fato afirmam que, ao final do ano, isso vai representar uma queda brusca na inflação acumulada em relação a 2023, quando a taxa terminou em 189,8%. Até agora, segundo a plataforma Datosmacro, a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 25,8%. Já a taxa acumulada desde janeiro está em 12,1%.

No ano passado, o menor valor para a inflação mensal foi de 2,4%, registrado em dezembro, quando o país começou a acentuar a desaceleração nos preços. Em setembro, o processo de queda na inflação foi puxado pelas altas menores em comunicações (0,3%), transporte, vestidos e calçados (0,6%).

A vice-presidente Delcy Rodríguez celebrou os resultados. Em reunião do Gabinete Econômico do governo venezuelano, a ex-ministra de Economia afirmou que a Venezuela apresenta uma estabilização dos indicadores "apesar das sanções". Esse tem sido um lema do governo que afirma que as sanções contra o setor petroleiro reduziram a entrada de dólares em 99% de 2014 a 2020.

De acordo com Delcy, a Venezuela também tem uma projeção de crescimento do PIB para esse ano de cerca de 8%. A melhora nos indicadores foi usada pelo governo durante a campanha eleitoral no país, que terminou com a reeleição de Nicolás Maduro para um terceiro mandato.

Riscos

Se os resultados são positivos, os métodos para alcançá-los são questionados por alguns economistas. O pesquisador Arles Gomes afirma que grande parte da queda da inflação se explica pela baixa demanda. De acordo com ele, o poder de compra da população caiu e os preços pararam de crescer, em grande medida, por uma estagnação dos salários que levou as pessoas a segurar os gastos.

"O nível da demanda agregada na Venezuela está muito abaixo do nível da oferta. Embora isso não tenha impedido o aumento dos preços em dólares. E embora o turbilhão inflacionário tenha diminuído, o problema é ofuscado pelo baixo poder de compra do povo venezuelano. Manter esse valor de inflação implica manter o consumo de bens e serviços exatamente onde se encontra atualmente e os níveis de oferta também teriam de ser mantidos no seu nível atual", afirma.

No último 1º de maio, o governo anunciou um aumento nos auxílios sociais para US$ 130 (cerca de R$ 730). O valor, no entanto, não tem incidência sobre o salário mínimo, que está em 130 bolívares (menos de 4 dólares na cotação atual) há dois anos. O valor das férias, 13º e fundo de aposentadoria também não são afetados por esse aumento.

Segundo ele, a sustentabilidade dessa política econômica é difícil de calcular e gera um descontentamento na sociedade. Para o governo, no entanto, com a entrada de mais dólares a partir da reintrodução da Venezuela no mercado petroleiro internacional, será possível reverter esse cenário e ampliar os salários.

Segundo a ala econômica do governo, a ideia é expandir a produção também para manter a relação entre oferta e demanda.

Edição: Nicolau Soares