Às vésperas das eleições municipais de 2024, os desafios enfrentados por Belo Horizonte são tema de intenso debate entre especialistas e eleitores. Problemas que vão além do transporte público, saúde e segurança, apontados como prioritários em uma pesquisa Quaest, têm emergido como preocupações centrais para a população. Alguns deles são o direito à moradia, o meio ambiente e a necessidade de diversificar os representantes do povo.
Clara Viana, advogada e pesquisadora da Clínica de Direitos Humanos (CDH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca, por exemplo, que existem muitos grupos, famílias e comunidades em situações precárias de habitação.
“Embora tenhamos alguns abrigos e medidas como o auxílio-moradia, são insuficientes para assegurar verdadeiramente condições dignas à população, sobretudo ao considerar não apenas as dificuldades burocráticas ligadas à implementação do auxílio, mas também configurações insuficientes dessas unidades que popularmente são conhecidas como abrigos”, destaca.
“Temos também indivíduos que se encontram nesses espaços e não conseguem se adaptar às regras que são impostas, o que dificulta a permanência nos locais que deveriam, na verdade, prezar primeiramente pelo acolhimento”, continua.
É o que também aponta Eliane Ribeiro, moradora do bairro Jardim América, na região Oeste da cidade, que coloca no centro de suas expectativas um anseio para que a questão das pessoas em situação de rua seja tratada com urgência.
“Uma solução que proporcionasse mudança efetiva e humanizada nas condições das pessoas em situação de rua, que proporcionasse apoio, tratamento e dignidade. Algumas áreas de BH parecem um campo de refugiados. É muito triste ver essa situação só piorando”, lamenta.
Mineração e meio ambiente
O impacto ambiental causado pela mineração é outro tema sensível. A Serra do Curral, símbolo da cidade, está ameaçada por atividades predatórias, como destaca Clara. Para ela, comunidades quilombolas e periféricas estão entre as mais afetadas, enfrentando riscos como o desabastecimento de água.
“Os riscos se dão em razão dessas atividades predatórias, que atingem, em maior grau, grupos vulnerabilizados, mas que, em alguma medida, também atingem todo o município”, lembra.
A questão ambiental pode definir, por exemplo, o voto de Bruna Vaz, moradora do bairro Etelvina Carneiro, na região Norte da cidade.
“Eu acho que é um ponto que ficou faltando no último mandato, pelo momento que vivemos, sofrendo os efeitos das mudanças climáticas. É urgente começarmos a olhar para esse ponto com mais atenção. Estou buscando olhar para candidatos que tenham isso no plano político”, pontua a belo-horizontina.
Uma Câmara mais diversa
As expectativas para as eleições, no entanto, são moderadas. Eliane e Clara veem com pessimismo a possível vitória de candidatos conservadores, o que poderia representar retrocessos nas pautas de direitos humanos.
Clara lamenta a ausência de propostas voltadas para a proteção de populações vulneráveis, como mulheres, LGBTI+, indígenas e quilombolas.
“A Câmara, por mais que tenha profissionais muito bons em sua atuação, tem sido tomada por uma parcela significativa que é conservadora, que impede muitos progressos e gera retrocessos no âmbito dos direitos humanos”, lembra Clara.
“Espero que a Câmara tenha um número maior de candidatos eleitos que sejam pessoas progressistas, humanitárias e ambientalistas, que se preocupem realmente com a sociedade e aprovem projetos que promovam melhorias reais nas áreas de mobilidade, saúde, limpeza urbana, etc”, reitera Eliane.
Bruna, além de destacar a importância de eleger representantes que tenham um olhar atento para a questão ambiental, espera ver uma Câmara Municipal mais diversa, com mais mulheres, pessoas LGBTQI+, pessoas com deficiência, negras e representantes das periferias.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Ana Carolina Vasconcelos