O Brasil tem um "papel a cumprir" rompendo relações comerciais e diplomáticas com Israel e adotando um amplo embargo comercial diante do massacre da população palestina na Faixa de Gaza. A tese foi defendida pelo jornalista Breno Altman na segunda-feira (7), data que os ataques israelenses completaram um ano e são considerados genocídio pela África do Sul e cerca de 50 países em um caso que tramita na Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU, em Haia.
"Serviria de exemplo para o mundo, promovendo a partir do sul Global uma enorme pressão para que a comunidade internacional pare de apoiar o genocídio e a carnificina que se estende há um ano", defendeu Altman, que tem origem judaica, no debate Paz para Palestina: um ano do genocídio em Gaza, realizado no Armazém do Campo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em São Paulo.
Apesar de ter classificado os ataques israelenses como "genocídio" e comparado a investida militar do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao holocausto nazista, Altman considera que a postura do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se tornou "contraditória" pela falta de ações práticas contra o Estado israelense.
"Seis meses depois, isso é totalmente insuficiente, é contraditório e já beira a demagogia. Nenhuma medida prática foi tomada em consonância com essas declarações", disse o fundador do Opera Mundi.
"Temos que romper relações com Israel e entender que o que acontece na Palestina é um precedente, se não detivernos Israel, seremos os próximos", destacou o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah.
"O experimento realizado na Palestina é contra o direito internacional, a ONU, todas as aquisições e conquistas civilizatórias, as fronteiras nacionais, contra todos os povos", disse Rabah.
Para Cássia Bechara, do setor internacionalista do MST, o rompimento das relações diplomáticas e comerciais com Israel é "urgente e necessário".
"Nós precisamos no Brasil seguir o exemplo de Cuba e da Venezuela. Hugo Chávez expulsou o embaixador israelense da Venezuela no genocídio contra Gaza de 2004[...] Os nossos governos tem que seguir esse exemplo, essa é a coragem que Hugo Chávez nos legou e que nós temos que cobrar dos governos que foram eleitos por nós", defendeu diante das delegações de 17 países presentes no evento.
O governo da Venezuela organizou uma série de atividades para marcar um ano do início dos ataques israelenses na Faixa de Gaza. O principal evento foi no sábado (5) com a realização de uma marcha na zona leste de Caracas e a entrega de uma carta na sede da ONU pedindo o fim da violência no Oriente Médio, especialmente os ataques mais recentes contra o Líbano.
Bechara destacou que a solidariedade ativa ao povo palestino é uma "tarefa de humanidade" e nesse contexto as bandeiras centrais para uma solidariedade imediata são o cessar-fogo imediato, o fim da ocupação sionista na Palestina e "o julgamento por crimes contra a humanidade a todos os envolvidos nesse genocídio palestino."
"A Palestina será livre do rio ao mar e essa responsabilidade é da humanidade inteira. Nós temos que assumir o compromisso de construir uma grande brigada de solidariedade dos movimentos do mundo para construir Gaza."
O genocídio cometido por Israel deixou pelo menos 41.909 mortos na Faixa de Gaza em um ano, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas.
Edição: Rodrigo Durão Coelho