Podemos dizer que Eduardo Pimentel Slaviero entregou seu primeiro currículo na vida, repleto de realizações de outras pessoas, para os curitibanos e foi aprovado para a próxima frase, em que concorrerá com Cristina Graeml, a vaga de emprego de Prefeito de Curitiba. Ocupando atualmente o cargo de herdeiro, o vice-prefeito viu a liderança de uma eleição que caiu em seu colo ser desidratada pela dificuldade de convencer os curitibanos de que é um sucessor à altura do carismático Rafael Greca. Ainda mais diante de uma adversária que pode agora apontar os problemas da cidade sem correr o risco de ser apontada como petista. Pimentel ainda tem a carta de recomendação do governador Ratinho Junior (PSD), conta com o carinho da elite curitibana, mas, para ser prefeito da capital, precisa arregaçar as mangas e mostrar verdadeiramente que não é só um piá de prédio.
Segundo Eduardo, como se apresentou na campanha, ele começou a trabalhar cedo nos “negócios da família”. Dava expediente no jornal do avô, o empresário de comunicação e ex-governador Paulo Pimentel. Daí por diante, por méritos familiares, foi subindo na carreira sempre em cargos ligados à administração pública até chegar ao posto de vice-prefeito de Rafael Greca em 2016 e Secretário de Estado das Cidades do Paraná de Ratinho Junior. Liberal convicto, daqueles que sempre se beneficiam dos recursos e estrutura do estado, tem entre suas competências o fato de ser irmão de Daniel Pimentel, presidente da Copel, privatizada pelo governador. Credenciais firmes para ser alçado ao cargo de prefeito da capital
A sua candidatura foi pavimentada como um binário curitibano (uma via rápida de sentido único voltada para os carros). Em uma pista, o governador formou uma vasta aliança, garantindo dinheiro e tempo de tv, além de impedir candidaturas em seu campo que atrapalhassem seu caminho. Ele só não ganhou por W.O. porque Ney Leprevost e Maria Victória, candidatos de “oposição dentro da situação”, se mantiveram no pleito.
O candidato à Prefeitura de Curitiba, Eduardo Pimentel é vice de Greca / Divulgação Campanha Pimentel
Na outra pista, o prefeito Rafael Greca com avaliação positiva de 73% entre os curitibanos, emprestava seu prestígio e realizações ao pupilo. “Se é o candidato de Greca, é bom”. Mesmo assim, Pimentel derrapou na reta de ascensão, deixando de levar a eleição no primeiro turno.
O inexperiente despreparado
O inexperiente candidato confessou sua condição na largada com o bordão “tá preparado”. Foi o mote encontrado para concorrer com os experientes adversários. Além de preparado, Eduardo Pimentel foi bem treinado. Decorou números, frases de efeitos, respostas para os problemas dos oito anos de gestão e propostas para os próximos quatro anos empregado como prefeito. Soube manter o equilíbrio e a serenidade diante das perguntas um pouco mais incisivas. Quando o terreno era hostil como enfrentar os sindicatos de servidores ou debates com confrontos diretos, fugiu.
Mas, Eduardo teve problemas que demonstraram o seu despreparo. O primeiro deles foi a escolha do vice, o inexpressivo bolsonarista Paulo Martins (PL). Ao dizer que foi uma escolha pessoal, descontentou eleitores de Greca e, posteriormente, perdeu os votos conservadores agressivos. Entre um bolsonarista vice e uma ‘bolsonarista raiz’, Cristina, o eleitorado migrou de lado na reta final. Erro fatal.
Nas questões do clima, transporte, filas na saúde e falta de vagas em creches, Eduardo Pimentel se saiu bem. Para o corte de árvores na Victor Ferreira do Amaral e Arthur Bernardes, mostrou que plantou mais de 550 mil novas mudas. Na saúde, anunciou novas UPA, atendimentos, redução da fila de espera. Disse que ia contratar servidores públicos nesta área e na Guarda Municipal. Promete revitalizar o centro da cidade, cuidar melhor das pessoas em situação de rua. Até para a tarifa mais cara entre as capitais apresentou uma solução de quem sabe ser gestor.
“A grande oportunidade está na janela de oportunidades da nova licitação do transporte. Vamos discutir a redução da nova tarifa no novo contrato. Antes, defendo a tarifa de R$ 3 nos fins de semana e de graça para desempregados”, apontou Pimentel.
Debate na RPC
Eduardo Pimentel no debate da RPC / Reprodução RPCTV
Contudo, veio o debate da RPC/Globo e a denúncia de que a sua campanha obrigou servidores públicos e comissionados a comprar ingressos para um jantar. Logo ele com mais de R$ 10 milhões em caixa vindo de fundo eleitoral. Às denúncias, respondeu rapidamente com a demissão do comissionado. Mas, em seguida, pediu a censura de reportagens que tratavam do assunto, assim como pesquisas que o desfavorecessem. O assunto foi explorado firmemente por Cristina, que já o acusava de ser esquerdista e “despreparado”. Eduardo Pimentel, sem resposta convincente, viu sua vantagem sumir.
“Foi um fato isolado (o pedido de adesão ao jantar) e já demitimos o servidor. Eu não esperava nada diferente da Cristina, que me agride, pois não tem nenhuma proposta a oferecer para a cidade de Curitiba”, se defendeu Pimentel.
Chances de vitória
Embora tenha sofrido a decepção de não vencer no primeiro turno, Eduardo Pimentel faz parte de um projeto maior do governador Ratinho Junior e do prefeito Rafael Greca. E para voos maiores, o controle da máquina pública da Prefeitura de Curitiba é fundamental. Eduardo deve contar com mais empenho desse grande grupo político que administra o estado.
Por outro lado, se a campanha for para o âmbito ideológico, o primeiro turno mostra que ele vai perder. Cristina é mais habilidosa e arrancou apoio de Bolsonaro e da direita ultra conservadora. Para Pimentel resta o debate de governo mesmo, de propostas para a cidade e, se for humilde, em ir atrás dos votos progressistas dados a Luciano Ducci. Estes se apavoram com a ideia de que a ultra conservadora Cristina se torne prefeita de Curitiba.