As eleições municipais de 2024 no Brasil marcam novamente o fortalecimento de forças políticas e econômicas conservadoras, embora parte da esquerda tivesse uma expectativa de avanço eleitoral que não foi correspondido. Essa é a avaliação do analista político Neuriberg Dias, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
Dias participou de um debate na Central Única dos Trabalhadores do Distrito Federal, na última sexta-feira (11), onde apresentou um balanço dos resultados do primeiro turno do pleito municipal, realizado no dia 6 de outubro, e fez projeções para o futuro.
Segundo o analista político do Diap, três motivos apontam para o efeito político do resultado eleitoral. O primeiro, o fundo eleitoral. “Os partidos com representação na Câmara têm um acesso maior a recursos, o que é um indicativo principal para a disputa das bancadas”.
As seis bancadas que realmente elegeram as maiores prefeituras foram o PL, o PP, o PSD — que se destacou como maioral —, os Republicanos e o MDB. Esses partidos se posicionaram à frente na disputa municipal devido ao acesso a recursos financeiros, determinados no Congresso Nacional.
O analista político acrescenta como segundo motivo que tanto PT quanto o PSB cresceram, mas mesmo assim houve uma redução na representação da esquerda e da centro-esquerda. Dias ressalta que apesar dos pontos de retrocesso, o PT aumentou de 2.600 para 3.100 vereadores, enquanto o PSB possui 3.593 vereadores eleitos. “Essa análise geral indica um movimento de melhoria no campo da esquerda, representado pelo PSB e PT, embora ainda enfrente desafios”.
Para Neuriberg Dias, o terceiro ponto que explica o resultado eleitoral nos municípios é mais complexo, porque se relaciona com distintas políticas sociais em governos antagonistas ao governo federal.
“Os prefeitos exerceram seus mandatos durante dois anos sob uma política definida pelo ex-presidente Bolsonaro, que era de regulamentação, de Estado mínimo, e de menor interação com entes federativos ou municípios. Nos últimos dois anos de mandato, tivemos um governo totalmente diferente, que deu atenção às políticas sociais e ao fortalecimento do Estado, com a ampliação de programas sociais. Isso tudo favoreceu o grupo em questão”.
Dias também destaca que, apesar de parte dessas prefeituras terem aderido a coligações partidárias aliadas ao governo Lula, “eles foram beneficiados, mas muitos não fizeram campanha. Houve muita mudança nas relações políticas ao nível federal e pela frente ampla que o governo adotou. Ele abraça várias pautas, e nem sempre esse grupo apresentou suas candidaturas como uma decisão política do governo do presidente Lula”.
Distrito Federal
No debate, o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, também chamou atenção para o contexto da capital do país, que por obedecer sistema de administração político próprio e mais restrito, não realiza eleições municipais.
“Não tivemos eleição este ano, mas isso não significa que estejamos isolados do restante do Brasil, até porque há um entorno que mantém uma relação intensa com o Distrito Federal. O Entorno teve resultados significativos que precisamos considerar, pois será de interesse dos nossos sindicatos municipais, que vão negociar, a partir do ano que vem, com os novos prefeitos eleitos”.
Possibilidade de renovação
Para Neuriberg Dias as dificuldades enfrentadas pela esquerda e a necessidade de adaptação às novas realidades políticas, ressaltam a importância de um movimento coeso e estratégico para os próximos anos que passa necessariamente por amplas reformas populares a serem retomadas no programa dos partidos e do movimento de esquerda.
“Esse cenário revela a necessidade de a esquerda e o movimento sindical colocarem em pauta a reforma política. Se não houver essa discussão, o Centrão pode se apropriar de forma cada vez mais intensa do espaço político, como já aconteceu em outras ocasiões”, destacou Neuriberg.
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino