No dia 16 de outubro é celebrado o Dia Mundial da Alimentação, que nos aponta para os desafios da produção e distribuição de alimentos saudáveis, no combate à fome e em defesa da soberania alimentar.
Em 2023, a insegurança alimentar severa no Brasil caiu 85%, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mas para movimentos populares, além de sair do mapa da fome, é necessário também repensar o modelo de produção e distribuição de alimentos no país, hoje baseado no uso intensivo de agrotóxicos.
“É importante, dentro desse contexto de crise climática que estamos vivendo, refletir a que caminho o agronegócio tem levado o Brasil, a que caminho o modelo de produção baseado em grandes latifúndios, baseado na produção de commodities, no uso intensivo de insumos químico... aonde esse modelo está levando o nosso país”, diz Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
A campanha promove o debate sobre a denúncia do uso desenfreado de produtos químicos, especialmente no modelo do agronegócio que, somente durante o governo Bolsonaro, garantiu o registro de mais de 2.000 novos agrotóxicos no Brasil.
Ao mesmo tempo, a campanha apresenta a agroecologia como uma alternativa viável para a produção de alimentos saudáveis e para garantir a soberania alimentar no país, atuando para a construção de políticas públicas, para a proibição da pulverização aérea, o fim das isenções fiscais dadas aos agrotóxicos, a criação de zonas livres de agrotóxicos e transgênicos, a garantia do acesso à terra e o combate ao agronegócio e ao mercado dos agrotóxicos.
“É fundamental que o governo Lula dê uma sinalização para a sociedade, mostrando que realmente está empenhado na pauta da redução dos agrotóxicos, que está empenhado em reduzir a dependência da agricultura brasileira das transnacionais que fabricam esses fertilizantes, esses agrotóxicos, e dê um passo à frente na implementação do programa nacional de redução dos agrotóxicos”, complementa Tygel.
Reduzir o uso de agrotóxicos no sistema de produção de alimentos e estimular as práticas agroecológicas tem entre suas consequências o acesso a alimentos saudáveis por uma parcela cada vez maior da população, ainda dependente de ultraprocessados, em razão do baixo custo, facilidade e disponibilidade por parte das empresas alimentícias.
“Lutamos para que não só as pessoas ricas possam ter acesso a alimentos orgânicos e agroecológicos, mas que isso seja uma realidade nas escolas, nas feiras e toda a população possa, enfim, ter acesso a um alimento saudável, de qualidade e possa transformar a vida das comunidades no campo e na cidade”.
Cozinhas Solidárias
As Cozinhas Solidárias são uma iniciativa da sociedade civil que produz e distribui refeições gratuitas para pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e insegurança alimentar, mas para além disso, surgem enquanto um dos caminhos para políticas sociais necessárias para o combate à fome e a reflexão em defesa de um novo modelo de produção de alimentos no Brasil.
“A rede popular de Cozinha Solidária é uma estratégia de combate à fome e a insegurança alimentar no país. É também uma tecnologia social que, associada a outras três tecnologias, compõe uma grande frente de enfrentamento à fome: a produção de energia limpa, através da energia solar; a produção de energia de biogás, por meio de biodigestores; e a produção de hortas comunitárias e caseiras. Essas três tecnologias, mais a tecnologia da cozinha social, fazem um arranjo de enfrentamento à fome e à insegurança alimentar”, explica Lidenilson Silva, articulador nacional da Rede de Cozinhas Populares Solidárias.
A iniciativa popular nasceu durante a pandemia para suprir a ausência de políticas públicas de combate à fome. Mas no governo Lula, passaram a contar com apoio do orçamento federal e iniciativas se espalharam por todo o país.
“São 40 cozinhas atuando e fortalecendo a luta contra a fome e a insegurança alimentar, buscando servir as pessoas que precisam das cozinhas com comida diversificada, nutritiva e de qualidade. Além disso, tem um papel fundamental de organizar a sociedade, fortalecer a ação de pertencimento, as ações coletivas, de solidariedade, principalmente buscando conscientizar a sociedade dos seus direitos sociais”, explica Sandra Alves, que compõe o Movimento Camponês Popular (MCP) no estado do Goiás e é uma dar articuladores de Cozinhas Solidárias.
Hoje, as cozinhas vão além do ato de alimentar e cumprem também um papel socioeducativo, como explica Lenina Aragão, que coordena a Rede de Cozinhas Populares Solidárias no estado do Pará.
“Esse não é só um espaço que serve refeição, é também um espaço de escuta das comunidades. É um espaço educacional, que promove a conscientização e propõe uma nova estrutura para o sistema alimentar que a gente vive, onde as pessoas esqueceram inclusive de onde vem os alimentos”, aponta Lenina.
Edição: Nathallia Fonseca