Guerra da Ucrânia

 Zelensky revela detalhes do 'Plano da Vitória'; Rússia diz que termos empurram Otan para guerra

Proposta pede a garantia de um convite para a Ucrânia ingressar na Otan e operações militares em território russo

Brasil de Fato | São Petersburgo (Rússia) |
Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, apresenta o "Plano da Vitória" em discurso no parlamento ucraniano em Kiev, em 16 de outubro de 2024 - Serviço de Imprensa Presidencial Ucraniano / AFP

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, apresentou nesta quarta-feira (16) o seu chamado "Plano da Vitória" no parlamento ucraniano (Verkhovna Rada). O documento consiste em propostas ucranianas para resolver a guerra com a Rússia e possui cinco pontos principais e foi levado por Zelensky durante sua viagem aos EUA e apresentado à Casa Branca, mas ainda não havia sido revelado oficialmente.

O plano de Zelensy também possui outros três anexos mantidos sob caráter confidencial, mas que foram apresentados aos países aliados. O Kremlin, por sua vez, declarou que não há nada de novo no plano de Zelensky.

Os cinco pontos do plano

Os termos do documento revelado pelo presidente ucraniano dizem respeito a garantias que Kiev quer ter no campo geopolítico, militar, econômico e de segurança. Segundo Zelensky, quatro dos pontos devem ser cumpridos durante a guerra "para completá-la", já o último diz respeito ao período pós-guerra. 

1) Entrada na Otan

O primeiro ponto do plano é descrito como "geopolítico" e diz respeito à garantia de um convite para a Ucrânia entrar na Otan (a aliança militar ocicdental). Segundo Zelensky, "durante décadas, a Rússia explorou a incerteza geopolítica na Europa, especificamente o fato de a Ucrânia não ser membro da Otan". 

"Foi precisamente isto que levou a Rússia a interferir na nossa segurança. Agora, o fato de um convite à Ucrânia para a Otan pode tornar-se verdadeiramente fundamental para o mundo", disse o líder ucraniano. 

De acordo com ele, "um convite é uma decisão forte que requer nada mais do que apenas uma decisão determinada". "A determinação na questão da Otan para a Ucrânia também significa a inevitabilidade da integração europeia para a Ucrânia", acrescenta.

Zelensky ainda destacou que a ideia é que seja feito um "convite incondicional agora". "Esta é a certeza de como os parceiros realmente veem o lugar da Ucrânia na arquitetura de segurança", completou.

2) Defesa 

O segundo ponto diz respeito à defesa ucraniana. Zelensky pediu o levantamento das restrições aos ataques em território russo para poder atingir de forma conjunta a aviação russa, bem como a expansão da utilização de drones e mísseis e acesso à inteligência aliada.

Zelensky classificou este ponto como um "retorno da guerra ao território russo". De acordo com ele, o objetivo deste termo é "para que os russos comecem a compreender o que é a guerra e voltem o seu ódio para o Kremlin".

Conseguir autorização para usar armas de longo alcance ocidentais e atacar território russo foi um dos principais objetivos da turnês de Zelensky nos EUA, no final de setembro. A expectativa, no entanto, não teve resultados concretos e a discussão sobre a liberação dos ataques de longo alcance continua em suspenso. 

3) Dissuasão

No terceiro ponto, a Ucrânia propõe aos seus parceiros ocidentais que seja instalado no seu território um certo pacote de dissuasão estratégica não nuclear, que, segundo Zelensky, seria suficiente para proteger o território do país contra qualquer ameaça militar da Rússia.

4) Econômico

O quarto ponto é o desenvolvimento do potencial econômico da Ucrânia e o reforço das sanções. Este ponto contém um anexo secreto que foi compartilhado com os EUA e a UE.

Zelensky afirmou que a Ucrânia convida os Estados Unidos e alguns parceiros, em particular a União Europeia, para concluir "um acordo especial sobre a proteção conjunta dos recursos críticos disponíveis na Ucrânia, o investimento conjunto e a utilização do potencial econômico correspondente".

5) Pós-guerra

Já o último termo do documento aponta para o período pós-guerra, no qual, segundo o presidente ucraniano, os militares ucranianos poderão usar a sua experiência para reforçar a defesa da Otan e da Europa. De acordo com Zelensky, os militares ucranianos poderão substituir parte do contingente estadunidense na Europa.

"Depois desta guerra, a Ucrânia terá um dos maiores e mais experientes contingentes militares. Estas pessoas são os nossos soldados que terão experiência real na guerra moderna, experiência bem sucedida na utilização de armas ocidentais e experiência diversificada de interacção com militares da Otan. Esta experiência ucraniana deve ser usada para fortalecer a defesa da aliança e garantir a segurança na Europa", disse Zelensky. 

Reação do Kremlin

Ao comentar a apresentação oficial dos termos do chamado "Plano da Vitória", o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que a proposta "provavelmente implica uma guerra com a Rússia até o último ucraniano".

"Há tantas semanas que se fala sobre algum tipo de 'plano de paz' efêmero, mas, muito provavelmente, este é o mesmo plano dos americanos de lutar conosco até o último ucraniano, que Zelensky agora camuflou e chamou de 'Plano de paz'. Não existe nenhum novo plano aí", disse ele.

Ele acrescentou que as autoridades em Kiev devem "ficar mais sóbrias e perceber as razões que levaram ao conflito na Ucrânia".

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, por sua vez, afirmou que o Volodymyr Zelensky, "com o seu 'plano de vitória', está apenas empurrando a Otan para um conflito direto com a Rússia e insiste em obter permissão para atacar o território russo".

A porta-voz acrescentou que "um dos pontos do plano é outra histeria sobre o convite da Otan à Ucrânia". Já sobre operações em território russo, Zakharova completa:

"Como ele quer conseguir isso? Isso é na verdade ridículo de dizer: 'causando danos à aviação russa junto com seus parceiros'. Ou seja, ele está empurrando a Otan para um conflito direto com nosso país e novamente insiste em obter permissão para uso de armas de longo alcance em território russo", declarou.

Edição: Rodrigo Durão Coelho