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COP16 começa com propostas de investimento para proteção ao meio ambiente e discursos por uma nova sociedade

Presidente da Colômbia disse na abertura do evento que é preciso uma alternativa à exploração capitalista dos recursos

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
Gustavo Petro participou da abertura da COP16 e disse que a Colômbia tem tido um papel importante contra as mudanças climáticas - JOAQUIN SARMIENTO / AFP

A 16ª Conferência das Nações Unidas sobre a Biodiversidade (COP16), começou nesta segunda-feira (21) na cidade de Cali, na Colômbia, com propostas de investimento para a proteção ao meio ambiente e o pedido de esforços para políticas mais eficientes no combate às mudanças climáticas. Durante a abertura do evento, o presidente colombiano, Gustavo Petro, cobrou mudanças na gestão dos recursos e reforçou o lema do evento: "Paz com a natureza".

De acordo com o chefe do Executivo colombiano, o país tem tido um papel importante contra as mudanças climáticas, em oposição aos Estados Unidos, Europa e China, que são "as economias que mais emitem CO2 para a atmosfera" e que têm as empresas de petróleo fóssil, carvão e gás. 

Petro disse também que o modo de produção capitalista sob os preceitos do neoliberalismo são responsáveis por ampliar as desigualdades e impedir a viabilidade de projetos que protejam o meio ambiente e a vida. 

"A liberdade do mercado não leva à maximização do bem-estar, a liberdade comercial que pregam leva à escravidão máxima. Quem disse que a vida planetária está segura através de projetos financiáveis, ou seja, projetos ligados à taxa de juro, a projetos que dão lucro e satisfazem o lucro? Engana-se quem pensa que criando um mercado livre conseguirá controlar as causas da extinção da vida no planeta", afirmou.

A COP16 recebe 23 mil delegados de mais de mais de 190 países, a maior participação para o evento. A nova presidente da Conferência é Susana Muhamad, ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia. Ela também falou sobre a necessidade de ações concretas de líderes do mundo para medidas que sejam eficazes. Uma dessas medidas é um programa de trabalho com os povos indígenas e comunidades locais.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também participou da abertura da COP e retomou um tema abordado na última edição do evento, o Fundo Quadro Global para a Biodiversidade (GBFF). 

O fundo foi criado na COP15, realizada em Montreal no Canadá, e tinha 23 metas para tentar "conter e reverter a perda de biodiversidade até 2030". O objetivo estabelecido foi proteger ao menos 30% dos ecossistemas terrestres e aquáticos até 2030.

Os países se comprometeram a contribuir com 250 milhões de dólares para o fundo. A ideia é que os governos conseguissem arrecadar, juntos, 200 bilhões de dólares por ano até 2030 para ações voltadas à biodiversidade, sendo 20 bilhões só dos países do Norte Global até 2025, que seriam voltados aos países do Sul.

Segundo Guterres, é preciso um "investimento significativo" para o fundo e conseguir "mobilizar outras fontes de financiamento público e privado".

"Aqueles que lucram com a natureza devem contribuir para a sua proteção e restauração. Um colapso dos serviços da natureza, como a polinização e a água potável, significaria uma perda de biliões de dólares por ano para a economia global, sendo os mais pobres os mais afetados", disse. 

A COP16 é a Conferência das Partes organizada pela ONU com foco na Biodiversidade. Participam desse evento os países que são signatários da Convenção da Biodiversidade. A diferença com a COP das Mudanças Climáticas, bem mais conhecida, é que nessa última participam os países signatários do acordo de mudanças climáticas da ONU.

Investimento do CAF

O Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) anunciou durante a COP o investimento de 300 milhões de dólares para restaurar e conservar "ecossistemas estratégicos" da região, como a Amazônia, as florestas atlânticas, o Pantanal, o Chaco, a Patagônia, a Antártica e a Corrente de Humboldt.

O anúncio foi feito por Sergio Díaz-Granados, presidente executivo do CAF, no Pavilhão da América Latina e Caribe. A ideia é que o projeto fortaleça e melhore a articulação entre governos locais. Participaram da mesa a vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, e a ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco.

Márquez reforçou a ideia de paz do governo colombiano e disse que o povo latinoamericano, em meio a muitas crises e conflitos, consegue caminhar e seguir adiante. 

"Enviamos uma mensagem de paz, aquela paz tão almejada. Temos orgulho, nós que somos desta região do Pacífico, de dar-lhes as boas-vindas. E não são apenas às biodiversidades, mas também o seu povo. Um povo que, apesar de ter estado de joelhos, se levanta e caminha. Esta também é uma região que sofreu com o conflito armado e a violência desproporcional", afirmou.

A ministra Anielle Franco também participou do evento e falou sobre o programa Povos Afrodescendentes das Américas, criado para a população negra latinoamericana com o objetivo de articular ações e políticas com comunidades rurais.

"Muitas vezes, as pessoas não entendem para que servem os documentos que assinamos, como os protocolos de intenção e os memorandos de entendimento. Mas isso era uma semente que estávamos plantando e que hoje estamos vendo florescer: Brasil e Colômbia implementam este programa regional com o objetivo de enfrentar as desigualdades raciais e socioambientais, que afetam esses povos e comunidades historicamente excluídos e marginalizados", disse.

Guerrilhas e a COP16

Integrantes do grupo guerrilheiro Estado Maior Central (EMC) da Colômbia chegaram a ameaçar em julho a realização da COP da biodiversidade. Segundo os guerrilheiros do grupo dissidente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a conferência da biodiversidade vai "fracassar mesmo que a cidade seja militarizada com gringos".

A ameaça à realização do evento veio pouco depois do rompimento do cessar-fogo do governo com o EMC. O ministro da Defesa, Iván Velásquez, havia anunciado o fim do cessar-fogo afirmando que o grupo realiza ataques contra civis. 

Edição: Thalita Pires