Emergência

Crise hídrica: monitoramento dos rios busca diminuir ameaças à fauna aquática da Amazônia

Após a morte de 154 botos em 2023, ICMBio intensifica fiscalização em 2024 para evitar novos óbitos

Brasil de Fato | Tefé (AM) |

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Monitoramento observa temperatura das águas e comportamento dos botos para evitar óbitos - Miguel Monteiro

 A crise hídrica na Amazônia, que já alarmava em 2023, atingiu um ponto ainda mais crítico em 2024, com chuvas abaixo da média e a declaração de escassez hídrica pela Agência Nacional de Águas (ANA) em diversas bacias da região. Em resposta, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou em setembro uma nova operação de monitoramento no Médio Solimões, focada na temperatura da água e no comportamento dos botos, além de intensificar ações de fiscalização contra a caça e pesca ilegais, que aumentam com a baixa dos rios.

Em 2023, a seca severa resultou na morte de 154 botos-vermelhos e tucuxis no Lago Tefé, no Amazonas. Neste ano, desde 16 de setembro de 2024, o ICMBio instaurou um Sistema de Comando de Incidentes (SCI) em Tefé, visando monitorar as condições da água e o comportamento dos animais duas vezes ao dia. O objetivo é evitar a repetição dos óbitos registrados no ano anterior.


Os rios da bacia amazônia registram uma seca histórica em 2024. Foto: Bruno Santos

Segundo Claudia Sacramento, analista ambiental e coordenadora de emergências climáticas e epizootias do ICMBio, apesar da seca mais intensa em 2024, os óbitos de botos não foram causados por estresse térmico, como em 2023. "As sete mortes identificadas este ano em Tefé foram resultado de interações com pescadores e caçadores, e não pela seca diretamente", afirma Sacramento. Entre as vítimas, estão um filhote de tucuxi, um peixe-boi adulto e dois botos-vermelhos.

As temperaturas da água têm se mantido estáveis, mas o monitoramento já registrou picos de 39,4ºC. No ano passado, temperaturas nessa faixa já causavam a morte de animais por estresse térmico. Paralelamente, a caça e a pesca ilegais continuam sendo uma ameaça crítica a espécies aquáticas como o peixe-boi e o pirarucu, altamente valorizados pelas populações locais. Em resposta, o ICMBio intensificou as operações de fiscalização para combater essas práticas, focando especialmente nas áreas onde a baixa dos rios torna os animais mais vulneráveis.

O Serviço Geológico Brasileiro (SGB) relata que, em setembro de 2024, o rio Solimões atingiu o nível mais baixo desde o início das medições em 1971. A previsão é de que a seca se intensifique até meados de outubro, com a ANA (Agência Nacional de Águas) declarando situação de escassez em várias bacias hidrográficas, incluindo os rios Purus, Acre e Tapajós.

Comunidades ribeirinhas isoladas


Mais de 10 mil cestas básicas serão distribuídas para comunidades isoladas pela seca na região do médio Solimões. Foto: Lynik Porto

As comunidades ribeirinhas também sofrem com os impactos da seca. A dificuldade de acesso às cidades devido à baixa navegabilidade dos rios elevou os preços de produtos e serviços. Raimundo de Azevedo, morador da comunidade Boa Vista do Rio Tefé, relata as dificuldades enfrentadas: "Eu saio da comunidade de canoa de manhã e chego em Tefé só no dia seguinte, tudo isso para comprar comida", diz.

O ICMBio e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) iniciaram a distribuição de cestas básicas para as populações das comunidades que moram nas Unidades de Conservação do Médio Solimões. A operação busca garantir a segurança alimentar de 36 mil famílias que vivem nas Unidades de Conservação da Amazônia, com 150 mil cestas de alimentos planejadas para entrega.

Com rios em níveis historicamente baixos, o transporte de alimentos e água tem sido feito exclusivamente por via aérea, com o apoio da Petrobras.  A empresa, que já havia colaborado durante a Emergência Botos Coari em 2023, se dispôs a auxiliar novamente. A Petrobras também auxilia com o monitoramento à fauna aquática da região por meio de drones. 

“Desde o início a Petrobras entendeu que era preciso fazer parte da solução, sendo coerente com nossos valores de proteção dos direitos humanos. Estamos sempre atentos às possibilidades de colaborar com a sociedade brasileira”, diz a Gerente Geral de Licenciamento e Meio Ambiente da empresa, Daniele Lomba.


A Petrobras ofereceu suporte aéreo para a distribuição de cestas nas comunidades mais isoladas. Foto: Fernanda Graciliano

Inicialmente, em julho, apenas duas Unidades de Conservação precisariam de suporte aéreo para a entrega das cestas. No entanto, com a intensificação da seca e o atraso na liberação do recurso por parte da Casa Civil, agora são 22 unidades que necessitam deste apoio.

Na região do Médio Solimões, 2.615 famílias serão beneficiadas com 10.460 cestas de alimentos e kits de tratamento emergencial de água, fornecidos pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Edição: Nathallia Fonseca