Sexta-feira, 25 de outubro, e 51 cidades brasileiras estão às vésperas de decidir quem vai comandar a prefeitura nos próximos quatro anos. Os olhares se dividem entre pesquisas, viradas de campanha, denúncias e até condenações.
Especificamente em São Paulo, onde a disputa — assim como em muitas capitais — traz uma clara divisão entre direita e esquerda, o candidato Guilherme Boulos (Psol) vem intensificando o corpo a corpo nas ruas, apostando na mobilização popular, enquanto seu adversário, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), está focando em mídias digitais e no apoio de figuras políticas conservadoras.
Boulos tem marcado presença em bairros periféricos, dialogando diretamente com a população, mas também investe em estratégias diferenciadas nesta reta final, desde a realização de debates nas ruas — substituindo, em algumas ocasiões, embates com seu adversário porque este se ausentou — até a participação em uma sabatina com Pablo Marçal (PRTB), candidato derrotado no primeiro turno.
Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, essa adesão do Boulos à conversa com o Marçal pode ser uma estratégia importante, especialmente considerando que o coach tem uma presença antissistema que não necessariamente é próxima do bolsonarismo, o que poderia reverter votos para o psolista. Vale lembrar que Marçal recebeu 28,1% dos votos no primeiro turno.
O episódio desta sexta-feira (25) do Três Por Quatro, podcast de política produzido pelo Brasil de Fato e apresentado pelos jornalistas Igor Carvalho e Nara Lacerda, traz uma análise sobre as últimas ações das campanhas na capital paulista e tem a economista Juliane Furno como comentarista.
Uma campanha cheia de “saias-justas”
Ramirez reforça que é importante afirmar certas questões referentes à gestão Nunes, como “indicações estranhas à prefeitura, contratos emergenciais sem licitação, superfaturamento de obras e até o mesmo o combate à dengue, [que foi feito] com uma empresa de um conhecido dele que não tinha nada e, de repente, ganhou milhões, e não funcionou”.
Mesmo nas últimas semanas ocorreram coisas que deram uma balançada na imagem do prefeito, como a crise energética enfrentada por São Paulo após o temporal de 12 de outubro, quando mais de três milhões de pessoas ficaram sem luz por quase uma semana.
“Ficar sem luz, ou seja, uma situação de deterioração das condições de vida, tem a capacidade de se sobressair sobre os aspectos mais abstratos da política, como democracia, corrupção, que são menos palpáveis”, afirma Furno, que acredita que isso foi bem utilizado pela campanha do Boulos, mesmo que faça a ressalva para o fato de que Nunes tenha contornado a situação de forma positiva.
Uma leitura neoliberal de mundo
Outro ponto colocado em debate é como o resultado do pleito paulistano neste ano pode influenciar (ou não) nas possibilidades para a eleição presidencial de 2026, pois, como afirmou Ramirez, muita gente usa São Paulo como trampolim, mas “quebra a cara”.
“Aconteceu com Dória, aconteceu com José Serra, aconteceu com Alckmin que hoje é vice. Ele teve que mudar de lado para continuar vivo na política. Aconteceu inclusive com o Kassab, que, depois que administrou a cidade, sumiu e hoje é muito forte nos bastidores, mas não é uma figura elegível, digamos assim. Então, é muito interessante a gente ter esse cuidado porque o que acontece em São Paulo não reflete o que acontece no resto do país.”
Para o cientista, São Paulo foi dominada por uma leitura neoliberal de mundo, com a pejotização dos serviços e um forte processo de desindustrialização que se reflete fortemente na região do ABC Paulista — onde, inclusive, o PT tem perdido apoio. E o desafio, agora, é saber dialogar com esse trabalhador uberizado, precarizado.
Na reta final da eleição de São Paulo — e em todo o país — cabe observar os últimos passos dos candidatos e as possíveis surpresas na urna. Do lado de cá, seguiremos cobrindo, informando e denunciando. E precisamos do seu apoio para realizar tudo isso.
No próximo domingo (27), o Brasil de Fato vai realizar uma transmissão para comentar ao vivo os resultados dos pleitos em todo o país, e suas consequências. Você pode nos acompanhar pelo YouTube ou pelo Instagram, e pode contribuir para que nossa equipe continue fazendo um jornalismo de qualidade, em tempo real, e em todo o país.
Edição: Nathallia Fonseca