Um dos alvos de operação da Polícia Federal (PF) que cumpriu mandados de busca e apreensão nesta sexta-feira (25), o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) é integrante da tropa de choque do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional, vice-líder da bancada do PL e integrante das bancadas evangélica, ruralista e da bala, grupo parlamentar que defende a expansão do armamento civil. Entre as pautas que Gayer costuma evocar em sua trajetória política estão o “Escola sem Partido”, o combate à criminalização das fake news e a criminalização de movimentos populares.
Em 2023, o deputado foi um dos mais vocais a atuarem na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), colegiado articulado por bolsonaristas na Câmara com o intuito de enquadrar a militância da entidade como infração ao Código Penal – a iniciativa não prosperou e a CPI encerrou sem aprovação de relatório final. Gayer também é professor de inglês e dono de um curso de idiomas em Goiânia (GO), além de youtuber, iniciativa que o ajudou a prosperar no terreno eleitoral por meio da propagação de ataques constantes à esquerda.
O deputado também já foi associado à prática de disseminação de fake news: em 2021, um relatório do Google produzido a mando da CPI da Covid para expor os perfis que mais faturavam com a veiculação de conteúdos falsos trouxe o canal de Gayer como a segunda página mais lucrativa. Segundo a gigante da tecnologia, ele chegou a acumular um montante de US$ 8 mil [cerca de R$ 45,6 mil] com esse tipo de publicação.
Outra acusação que atinge a figura de Gayer é a suspeita de assédio eleitoral no pleito de 2022 por suposta coação de trabalhadores para que eles votassem em Bolsonaro. Este último episódio lhe rendeu uma condenação em primeira instância no final de 2023 por parte da 7a Vara do Trabalho de Goiânia. O processo judicial ainda não foi concluído. O parlamentar nega todas as acusações e se diz vítima de perseguição política.
Apesar de frequentemente investir em discursos antissistema, com ataques generalizados ao ordenamento político, jurídico e às instituições, Gayer tem origem em família de políticos. O parlamentar é filho de Maria da Conceição Gayer, que atuou como vereadora, deputada estadual constituinte e secretária-geral do MDB de Goiás. O deputado também é neto de Plínio Gayer (PSD-GO), deputado federal morto em 1953.
Operação
A ação da Polícia Federal (PF) que atingiu Gayer nesta sexta cumpriu 19 mandados de busca e apreensão que foram autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para desarticular uma associação criminosa voltada para desvio de recursos de cotas parlamentares – verba pública destinada ao pagamento de despesas típicas do exercício do mandato, como passagens aéreas, aluguel de carro, entre outras. Segundo a PF, a intenção dos envolvidos era canalizar esses valores para uma organização de sociedade civil de interesse público (Oscip), o que configura uso ilegal do dinheiro público.
Os policiais identificaram também suspeita de falsificação de documentos em benefício da entidade por parte dos investigados. Os mandatos foram cumpridos em Brasília (DF) e em quatro municípios de Goiás. As investigações apuram suspeitas de associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e peculato-desvio, um tipo de crime contra a administração pública.
A Polícia Federal não citou publicamente o nome de Gustavo Gayer como um dos alvos da operação, mas o parlamentar se manifestou sobre o assunto e confirmou ter sido alvo de mandado de busca. Em um vídeo publicado via “X” [antigo Twitter], o bolsonarista se queixou do fato de a ação da PF ter se dado “dois dias antes do segundo turno”. Gayer é aliado do ex-deputado estadual e candidato a prefeito de Goiânia Fred Rodrigues (PL), que disputa o segundo turno, e disse que a ação da polícia teria supostamente o objetivo de prejudicá-lo.
“É surreal o que está acontecendo. Não consigo saber por que sofri busca e apreensão e assessores meus receberam busca e apreensão. Aonde que isso vai parar? Vieram na minha casa, levaram meu celular, meu HD, meu SSD, Esta democracia relativa está custando caro para o nosso país”, disse, ao criticar o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Edição: Martina Medina