O ex-presidente José Mujica votou neste domingo (27) no seu pupilo, o candidato da opositora Frente Ampla Yamandú Orsi, que lidera as intenções de voto para as eleições no Uruguai.
"Talvez seja o meu último voto", disse, em uma cadeira de rodas e cercado de câmeras de televisão. Questionado pelos jornalistas, Mujica apontou a segurança pública e o crescimento econômico como os principais desafios do próximo governo.
O ex-guerrilheiro de 89 anos se recupera de problemas derivados de um câncer de esôfago, mas foi muito ativo na campanha e uma das primeiras pessoas a votar neste domingo.
Mujica fez um discurso em tom de despedida no último sábado (19) durante evento da campanha de Orsi, apesar de sua situação de saúde. Com um discurso contundente e comovente na Praça 1º de Maio, em Montevidéu, o líder histórico, que presidiu o Uruguai de 2010 a 2015, defendeu a necessidade de um governo que "abra o coração e a cabeça com todos do país".
Apesar da condição de saúde, Mujica destacou a importância de estar presente no evento, referindo-se ao simbolismo que a mobilização representava. "Sou um velho que está muito perto de onde não se volta, mas sou feliz porque vocês estão aqui", disse, arrancando lágrimas do público. O ex-presidente reforçou sua crença de que, quando ele já não estiver mais na luta, "milhares de braços" continuarão a batalha por um mundo melhor.
Com voz firme, mas carregada de emoção, Mujica iniciou seu discurso lembrando que esta é a primeira vez em 40 anos que não participa de uma campanha eleitoral, justificando sua ausência pela batalha que trava contra a morte. "Estou no final da partida, absolutamente convencido e consciente", afirmou, reconhecendo que seu ciclo na política está perto do fim.
Mujica também aproveitou o momento para enaltecer a candidatura de Yamandú Orsi, afirmando que o Uruguai precisa de um governo que valorize a educação e a juventude, especialmente diante das mudanças globais iminentes. "Os mais jovens vão viver uma mudança no mundo que a humanidade não conheceu. A inteligência será tão importante quanto o capital", alertou, ressaltando que a formação educacional será essencial para que o país não caia na irrelevância.
Disputa eleitoral
A votação deste domingo definirá presidente e vice-presidente do país para o período 2025-2030, assim como os 30 membros do Senado e os 99 da Câmara de Representantes. Se nenhuma chapa presidencial obtiver mais de 50% dos votos, haverá um segundo turno em 24 de novembro.
As pesquisas mostram que Orsi, ex-intendente do departamento (estado) de Canelones (2015-2024), está à frente. Ele é seguido pelos candidatos dos partidos que integram a coalizão do governo de centro-direita liderada desde 2020 pelo presidente Luis Lacalle Pou, impedido constitucionalmente de buscar a reeleição imediata.
O aspirante do Partido Nacional, Álvaro Delgado, ex-secretário da Presidência de Lacalle Pou, aparece com maiores possibilidades de ir ao segundo turno frente ao seu rival do Partido Colorado, o advogado Andrés Ojeda. Muito atrás estão os candidatos do Cabildo Aberto, o general aposentado Guido Manini, e o do Partido Independente, o ex-ministro do Trabalho Pablo Mieres.
Edição: Leandro Melito