Os olhares de músicos e interessados no cavaquinho voltam-se para São João del-Rei, município de Minas Gerais, entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro. Acontece na cidade o festival “Memória do Cavaquinho Brasileiro”, com oficinas, shows e saraus gratuitos sobre o instrumento.
O evento está em sua quinta edição, sendo três delas realizadas no Rio de Janeiro. Essa, que será a segunda edição em terras são-joanenses, coloca em cena os diferentes “sotaques” do cavaquinho, como comenta Pablo Araújo, cavaquinista e organizador do festival.
“O cavaquinho, aqui em Minas, tem uma diversidade e riqueza muito grandes. Além de habitar gêneros clássicos como o choro, o samba e o pagode, onde ele é mais tradicional, ele habita também o forró, o calango mineiro e a Folia de Reis”, explica.
O que faz com que, na avaliação do artista, o cavaquinho seja um instrumento diverso na forma de tocar e na forma como é construído.
“Determinado luthier faz de um jeito, outro de outro jeito. Isso traz um universo inteiro para a gente descobrir, pesquisar e registrar”, reforça.
O festival é, para Pablo, um espaço que reivindica o reconhecimento e o lugar do cavaquinho também como tema de estudo, além de criar um ambiente rico para trocas de experiências com alguns dos nomes mais importantes do país.
O motivo parece promissor para São João del-Rei, que tem uma cena musical rica. A cidade possui graduação e pós-graduação em música na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), um conservatório, duas orquestras centenárias e muitas manifestações populares, como congados e Folias de Reis.
Cavaquinho começa a povoar a universidade
A entrada do cavaquinho no ambiente acadêmico e a criação do festival estão intimamente ligados, uma vez que o idealizador do evento, Pedro Cantalice, foi o primeiro bacharel em cavaquinho do país, em 2018, graduado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a primeira universidade do mundo a criar um curso para esse instrumento.
A UFRJ oferta duas vagas por ano para formação em cavaquinho e que nem sempre são preenchidas, conta Pedro. Questões burocráticas do ambiente universitário contrastam com a natureza popular do cavaquinho, na opinião de Cantalice, resultando em poucos músicos que se dediquem a estudar seu instrumento de forma acadêmica.
“Os registros que temos dos cavaquinistas são gravações e vídeos, porque muitos se dedicaram só a tocar. Até 30 anos atrás, quase não tínhamos pesquisas sobre o instrumento. No entanto, hoje, já vemos estudos sobre a história e a prática. Seguimos com aqueles que se dedicam mais à parte artística, e, em paralelo, surge um perfil diferente: os músicos que a combinam com a pesquisa e com a escrita”, considera Pedro.
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Na avaliação do músico, o processo gradual é esperado. O Brasil tem uma história de mais de 100 anos de cavaquinho, desenvolvendo uma escola nova, chamada Cavaquinho Brasileiro. O instrumento, que veio da Europa, se transformou tanto na forma de tocar quanto na sua forma de construção.
“Se olharmos o cavaquinho de Portugal, por exemplo, encontramos o braguinha, da Ilha da Madeira, que tem a mesma afinação do nosso, mas a forma de tocar é diferente. Se olharmos o cavaquinho minhoto, o formato é parecido, o nome é o mesmo, mas a forma de tocar também é diferente”, exemplifica.
“Talvez por isso, só agora, estejam surgindo pesquisas, baseadas no que foi construído nos últimos 100 anos”, observa.
‘Fazer a história aumentar’
Dentro desse novo perfil de cavaquinistas brasileiros, Pedro Cantalice observa a maior presença de mulheres, em um universo que era preponderantemente masculino. Uma das convidadas do festival, a cavaquinista e professora Bruna Takeuti, de Indaiatuba (SP), relata que seu trabalho tem repercutido muito nesse sentido.
“Nas aulas que dei este ano, as primeiras turmas foram só de mulheres. Engraçado, né? Tem alguma coisa aí”, repara.
“Em outro momento, uma aluna muito querida comentou que me via tocando e se identificou, porque ela também é descendente de japoneses e queria fazer cavaquinho, então, veio fazer aula comigo”, continua.
O choro brasileiro teve grandes nomes de musicistas, como Chiquinha Gonzaga e Tia Amélia (Amélia Brandão Nery), ambas pianistas e compositoras. Bruna Takeuti relembra ainda sua referência em Luciana Rabello, uma cavaquinista nordestina, moradora do Rio de Janeiro.
“Ser mulher é fazer essa história acontecer e aumentar”, argumenta.
“Carregando as experiências passadas e fazendo esses encontros, a gente escreve mais um pouco da história. A gente mantém o cavaquinho vivo e une as memórias que estão espalhadas por aí. Isso é muito importante”, finaliza Bruna.
Programação
Na programação do festival “Memória do Cavaquinho”, duas mulheres participam dos saraus: Cissa do Cavaco e Bruna Takeuti, além de outros nomes importantes do cavaquinho brasileiro. A entrada é gratuita.
Quinta-feira (31 de outubro)
19h Abertura - Sarau com Cissa do Cavaco e Leo Matheus, no Solar da Baronesa
Sexta-feira (1º de novembro)
14h - Oficina da Música Universal com Raphael dos Santos, no Solar da Baronesa
20h - Show com Henrique Cazes, no Teatro Municipal
Sábado (2 de novembro)
15h - Oficina de Choro com Carlos Chaves, no Adro+ Centro Cultural
17h30 - Sarau com Bruna Takeuti e Betinho Melodia, no Adro+ Centro Cultural
Saiba mais informações no perfil do Instagram do festival ou pelo site www.memoriadocavaquinho.com.br.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Ana Carolina Vasconcelos