Extrema direita conseguiu se interiorizar. Em relação a 2022, acho que teve um avanço
Os impactos da eleição municipal de 2024 ainda são estudados e avaliados nos mais diversos campos políticos. Para além de análises factuais, que apontam o centrão – e mais precisamente o PSD de Gilberto Kassab – como o grande vencedor desta campanha, há ainda reflexões sobre onde se posicionaram a esquerda, capitaneada pelo PT do presidente Lula, e a extrema direita, sob o comando do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O Partido dos Trabalhadores, por exemplo, ampliou sua base de prefeitos eleitos em relação à última eleição municipal. Em 2020, foram 184 vitórias petistas. Já neste ano, o partido alcançou 252 prefeituras. No entanto, apenas uma delas em capitais, a de Fortaleza, no Ceará, com a vitória de Evandro Leitão.
De olho nas eleições de 2026, o Palácio do Planalto não avançou em apoios mais intensos nestas eleições. O PT evitou desagradar aliados, principalmente partidos do centrão, e só se engajou mais efusivamente em campanhas do segundo turno, em cidades como São Paulo, Fortaleza, Porto Alegre e Natal.
Para a antropóloga Isabela Kalil, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), com o avanço dos partidos de direita e de centro, caberá ao campo progressista avaliar os próximos passos, inclusive de olho nas eleições presidenciais. Kalil explica que há uma crise na esquerda, que não "reflete os anseios da sociedade, principalmente das gerações mais jovens, que têm uma perspectiva de igualdade de gênero, de questões raciais, muito mais refinada e muito mais realista", explica.
A professora é a convidada desta semana no BDF Entrevista, que analisa o saldo das eleições deste ano. Segundo Kalil, a esquerda brasileira precisa radicalizar seu discurso para alcançar estas novas gerações. "Acho justo esse tensionamento para que a esquerda se coloque mais à esquerda", afirma.
"A gente não está falando só de questões econômicas ou da visão do Estado, mas a gente está falando basicamente de posições mais inovadoras na política. Por outro lado, a gente tem posições que têm sofrido críticas de eleitores, que eu não vou nem dizer que são de esquerda, mas mais progressistas, relacionadas às questões, por exemplo, ambientais, de territórios e direitos indígenas, de maior entrega", completa.
Kalil também fez uma análise da extrema direita no Brasil. Apesar da distância entre as projeções do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que afirmava que o partido faria entre 1.500 e 2.000 prefeituras em todo o país, a legenda conseguiu vencer em 517 cidades. A promessa não foi cumprida, mas houve um crescimento do partido de Bolsonaro em relação a 2020, quanto o PL tinha 351 prefeituras.
"A extrema direita conseguiu se interiorizar. Quando a gente pensa no quadro, principalmente em relação a 2022, eu acho que teve um avanço. A gente vê, da direita, uma espécie de consolidação de táticas que não necessariamente são de partidos ou candidatos, mas digamos que são de um modus operandi, da forma, da performance da extrema direita", comenta a professora.
"A gente tem uma consolidação da normalização da desinformação, da violência política, de posições extremamente conservadoras, inclusive até dentro do espectro da esquerda. Então, a gente tem uma forma de se fazer política que a extrema direita inaugurou e que, de uma certa maneira, é explorada por diferentes setores do campo político", completa.
Confira alguns trechos da entrevista (no vídeo acima você pode acompanhar a íntegra da conversa):
Brasil de Fato: Queria começar o nosso papo falando sobre a polarização. É um tema que tem pautado a vida política do Brasil desde 2018, nas eleições que levaram Bolsonaro à presidência, e que era uma grande expectativa nessas eleições. Mas elas não se concretizaram. Por quê?
Isabela Kalil: Acho que havia uma expectativa de a gente ter uma polarização PL-PT e isso acabou não se concretizando da forma como esperávamos por algumas razões. Eu acho que a forma como nem Lula nem Bolsonaro conseguiram, de fato, como cabos eleitorais, fazer a transferência de voto para os seus candidatos e candidatas.
Mas acho que tem uma outra coisa que não é bem uma novidade, digamos, na história da política brasileira, que é uma recolocação do centro e da centro direita. Então, se a gente for pensar na polarização, no sentido de pensar Lula e Bolsonaro, PT e PL, o que acabou acontecendo é que essa eleição mostrou o poder da centro direita, principalmente, em certa medida, do centro. Acho que essa é a grande novidade, que pode ou não ter repercussões para 2026.
Professora, apenas duas mulheres foram eleitas em capitais nessas eleições municipais. A gente teve cotas partidárias para participação das mulheres na política, medida que inclusive sofreu tentativa de boicote. Temos lutas feministas cada vez mais debatidas na sociedade, mas a gente teve um grande retrocesso nestas eleições, não é?
E tem um outro elemento, que a maior parte do eleitorado é formado por mulheres. A gente está falando de 52%, 53% do eleitorado brasileiro. Ou seja, a política não representa, de fato, a configuração da sociedade brasileira. Isso só para falar de gênero, sem falar em outras questões, como raça, também.
Os partidos deveriam adotar as cotas, e aí você tem uma série de complicações em relação a esse processo, tanto de denúncias de mulheres que receberam valores menores de campanha, comparado com os seus colegas homens, você tem partidos anistiados por não terem cumprido diferentes questões que deveriam cumprir, não só em relação a cotas, mas outras questões.
:: Candidatos homens têm 2,5 vezes mais chances de serem eleitos que mulheres, mostra estudo ::
Você tem um ambiente em que se permite que as mulheres não tenham a participação e isso acontece por diversas razões. Entre elas, você tem uma dificuldade muito grande de que o Congresso Nacional reflita o que é a sociedade brasileira. Ainda que você tenha mudanças, que inclusive vêm de diferentes posições políticas, mas tradicionalmente o Congresso é formado por famílias que ficam no poder, vão passando esse legado para os seus filhos, esposas, maridos, etc.
Quando você tira uma foto, o Congresso é basicamente formado por homens e, em sua maioria, homens brancos.
Então, acho que tem também um debate que é: o quanto o voto feminino é importante? Porque ele foi decisivo no segundo turno em várias cidades. As mulheres têm servido como uma espécie de contenção da extrema direita.
A gente tem pesquisas que mostram que as mulheres tendem a não apoiar a violência política, tendem a não apoiar candidatos que são misóginos, ainda que a gente tenha um outro fenômeno que são as candidatas conservadoras.
Mas, de qualquer forma, acho que a gente tem dois problemas: a participação de mulheres na política ainda está muito aquém de uma democracia plena; e a gente tem a exploração oportunista desse voto das mulheres, com candidaturas de homens que dizem atuar nos interesses das mulheres, quando fazem isso de uma maneira oportunista.
A gente tem mulheres conservadoras, como no caso da Cristina Graeml (PMB) em Curitiba, que se colocou como mais conservadora do que o próprio candidato da direita, Eduardo Pimentel. No caso, a Cristina Graeml está no Partido da Mulher Brasileira que, à primeira vista, pode parecer algo interessante do ponto de vista de avanço da política da mulher, mas que vem com uma agenda extremamente conservadora.
Exceto Fortaleza, as apostas do PT não tiveram sucesso neste segundo turno. Na verdade, o Palácio do Planalto não embarcou, de fato, nas eleições municipais. Como saem o PT e o governo federal deste pleito?
Tem uma questão que se tornou quase um lugar comum desde a apuração do primeiro turno, que é uma espécie de crise da esquerda, que a esquerda não conseguiria mais dialogar com a sociedade. Inclusive uma espécie de crise do PT, por não ter conseguido emplacar prefeituras de capitais importantes.
No entanto, eu acho que isso é um pouco mais complexo, porque quando a gente vai olhar o PSDB… Vamos pensar como eram as eleições presidenciais antes da entrada da extrema direita na política: a gente tinha, de fato, dois principais partidos, o PT e o PSDB. E o PSDB também teve um desempenho muito aquém da sua história. O que a gente pode ter de sinalização, então?
O PT representava a centro esquerda e o PSDB, a centro direita, que acabou sendo esvaziada, principalmente no caso do PSDB. Então, talvez a gente esteja vendo algo que não seja necessariamente algo que possamos explicar em termos de uma crise da esquerda ou algo assim, mas uma própria crise do centro.
Quando a gente vê um partido como o PSDB, relevante no processo da redemocratização, do ponto de vista de seus presidenciáveis e como esse partido se definha, a ponto dos seus dirigentes cogitarem a possibilidade de colocar fim no partido antes que o partido definhe ainda mais, a gente talvez esteja falando de uma espécie de esgotamento desse lugar da política que era ocupado, até então, pela centro direita e pela centro esquerda.
Estava vendo uma análise que apontava para uma crise de identidade na esquerda, de que a esquerda ainda não entendeu, de alguma maneira, como a direita tomou todos os discursos possíveis da sociedade. Tem uma parte da esquerda que tem receio da radicalização e a parte mais radical acredita que a moderada é que atrapalha o projeto da esquerda. O que acontece com esse campo político, professora?
Bom, a gente precisa retomar uma parte do que a gente estava falando, sobre como a política não reflete os anseios da sociedade, principalmente das gerações mais jovens. Gerações que foram educadas e que têm uma perspectiva, por exemplo, de igualdade de gênero, de questões raciais, muito mais refinada e muito mais realista em relação às necessidades de mudança da sociedade.
Dessa perspectiva, a gente pode também olhar para o campo institucional como um todo, inclusive à esquerda, e dizer que não é o suficiente, que a parte de fazer com que a política reflita um pouco mais dos anseios do que é a sociedade brasileira não se realiza concretamente.
Então, acho justo esse tensionamento para que a esquerda se coloque mais à esquerda. A gente não está falando só de questões econômicas ou da visão do Estado, mas a gente está falando basicamente de posições mais inovadoras na política. Por outro lado, a gente tem posições que têm sofrido críticas de eleitores, que eu não vou nem dizer que são de esquerda, mas mais progressistas, relacionadas às questões, por exemplo, ambientais, de territórios e direitos indígenas, de maior entrega.
Você tem o governo atual um pouco emparedado com essas questões, com as questões do sequestro do orçamento público, uma série de dificuldades de protagonismo e de importância do Congresso, que inclusive não está afetando só o Executivo, mas afeta a própria Suprema Corte, com pacotes de ataques e mudanças na Constituição de ataque frontal ao Supremo Tribunal Federal.
Então, eu acho que a esquerda está numa espécie de encruzilhada de assumir uma identidade claramente de esquerda. Sobre isso vou dar só um exemplo: não que seja uma candidata de esquerda, mas a Kamala Harris, nos Estados Unidos, assume uma posição muito clara em relação à saúde reprodutiva, os direitos reprodutivos da mulher. E a Kamala Harris não é exatamente de esquerda, mas ela colocou uma posição muito clara na mesa e isso tem ganhado apoio da população, principalmente das mulheres.
É disso que a gente está falando. E aí, nesse caso, não necessariamente é uma posição progressista, não necessariamente é uma posição de esquerda. É dizer claramente: "a gente tem agendas específicas nas questões do trabalho, agendas específicas na tentativa de criação de um Estado mais próximo do Estado de Bem-estar Social".
Não é necessariamente um comunismo, mas sim tornar a sociedade um pouco mais justa. São agendas de justiça social e outras questões que envolvem gênero, sexualidade, raça, que não são questões menores, que muitas vezes são vistas assim por determinados setores, como se só a economia fosse prioritária.
E essas coisas estão completamente conectadas. Quando a gente vai olhar a pobreza no Brasil, quando a gente vai olhar a desigualdade, ela tem marcadores de gênero e de raça. Não tem como falar em diminuição da desigualdade econômica tirando da equação questões de gênero e raça, é impossível.
Então, ou a esquerda assume, de fato, uma posição mais à esquerda, ou então vai ficar sofrendo críticas dos dois lados. Porque a direita conseguiu uma agenda de comunicação. Claro, usando desinformação, conteúdo falso… A esquerda não vai fazer a mesma coisa, mas basicamente precisa desmistificar essa ideia de que centro esquerda é comunismo, que é extremismo, o que não faz o menor sentido. Ou essa ideia de pânico moral, de que existe ideologia de gênero e as pessoas trans não podem usar os mesmos banheiros.
O presidente Lula tirou o pé nessas eleições, evitou mergulhar de cabeça nas campanhas, possivelmente pensando na eleição presidencial de 2026. Sem se indispor com o centrão, ele conseguiria garantir, por exemplo, alguns apoios importantes que já foram também decisivos na campanha de 2022, com a formatação de uma frente ampla que elegeu Lula e conseguiu derrotar Bolsonaro. É uma tática ousada. Ela teve algum resultado prático, professora?
Quando a gente fala sobre o PT não ter conseguido fazer muitas prefeituras, eu acho que vale a gente pensar qual era o projeto do partido. O PL de Valdemar da Costa Neto faz uma campanha, isso já há dois anos, fazendo projeções, mas ele já deu dois dados diferentes. Em um momento ele disse 1.500 prefeituras, em outro momento ele falou em 2.000 prefeituras, que é um número muito grande, porque dá quase metade dos 5.560 e poucos municípios que a gente tem.
É muito ousado você dizer que vai fazer quase metade das prefeituras, não é nem realista. Mas, de qualquer maneira, a gente está vendo que houve um investimento do PL em municipalizar sua base e avançar para o interior. O PT não fez a mesma coisa, não fez essa promessa de que iria fazer X prefeituras. Claro, tentou defender capitais importantes, mas o PT não fez essa promessa.
E teve uma outra coisa, o Lula não se engajou nas campanhas municipais, então isso mostra que, de fato, esse não era o projeto. A única campanha que o Lula se engajou – e enfim, algumas pessoas dizem que foi pouco – foi a do Guilherme Boulos. Lula veio em diferentes ocasiões para São Paulo para apoiar o Guilherme Boulos, visitou a casa do Guilherme Boulos.
E depois teve dois incidentes que impossibilitaram a vinda do Lula para São Paulo no segundo turno: uma foi com o seu avião, voltando do México; e a outra de um acidente doméstico que ele teve com uma queda e um trauma. Ou seja, no final das contas, Lula esteve presente na campanha do Boulos, mas não se envolveu absurdamente nas campanhas municipais de outros candidatos.
Se essa estratégia é a mais acertada, só o tempo vai dizer. Mas acho que tem muitas questões em jogo, porque o cenário de Lula 3 é muito diferente de Lula 2 e Lula 1, principalmente em relação aos apoios que ele tinha no Congresso. Como eu falei, o Lula está, de uma certa forma, emparedado pelo Congresso.
Uma outra coisa é que nós vamos ter uma renovação do Senado muito em breve. E o Senado hoje está sendo disputado pela extrema direita por algumas razões, entre elas, para poder mudar legislações específicas em relação ao Supremo. Mudar a Constituição e pautar o impeachment de ministros da Suprema Corte, fora todo o embate que a gente tem envolvendo as emendas parlamentares do chamado orçamento secreto.
Com isso, não estou dizendo que os assuntos da ordem nacional sejam mais importantes. É uma pena que a gente tenha um avanço da extrema direita nas cidades e na interiorização da extrema direita. Isso é ruim para o país e para a sociedade como um todo. No entanto, eu acho que o PT fez uma escolha estratégica de colocar forças onde era um campo de batalha em que ele está vendo que é possível atuar minimamente. E não tinha condições de atuar em 22 campos de batalha paralelamente.
O PL de Jair Bolsonaro, apesar de somar um número expressivo de prefeituras, com quatro capitais, teve derrotas importantes também. No Rio de Janeiro, por exemplo, que é o berço do bolsonarismo, foi derrotado de maneira acachapante no primeiro turno. A extrema direita sai derrotada destas eleições, ou não é bem assim?
É uma pergunta difícil, porque a extrema direita conseguiu se interiorizar. Quando a gente pensa no quadro, principalmente em relação a 2022, eu acho que teve um avanço. A gente vê, da direita, uma espécie de consolidação de táticas que não necessariamente são de partidos ou candidatos, mas digamos que são de um modus operandi, da forma, da performance da extrema direita.
A gente tem uma consolidação da normalização da desinformação, da violência política, de posições extremamente conservadoras, inclusive até dentro do espectro da esquerda. Então, a gente tem uma forma de se fazer política que a extrema direita inaugurou e que, de uma certa maneira, é explorada por diferentes setores do campo político, não só da própria extrema direita.
Claro que o PL ficou muito aquém daquela promessa muito pouco realista do Valdemar da Costa Neto, de fazer 2.000 prefeituras. Mas, de fato, ele teve um desempenho adequado para o que é realisticamente possível. Agora, quando a gente vai olhar para a extrema direita como uma força política, eu acho que ela saiu fortalecida.
Bolsonaro sai um pouco enfraquecido, mas só relativamente, porque hoje a situação é de que Bolsonaro está inelegível. No entanto, você tem uma tentativa, no Senado e no Congresso, de tornar Bolsonaro elegível novamente. São posições que são vistas como uma tentativa de anistiar as pessoas que estavam no 8 de janeiro, mas que também beneficiam Bolsonaro.
Inclusive, Valdemar da Costa Neto e outros atores políticos estão dizendo claramente que eles atuam para modificar o cenário atual de inegibilidade do Bolsonaro.
O próprio Bolsonaro se coloca como candidato em 2026…
Exatamente, ele diz: "o candidato da direita sou eu". Isso tudo para dizer o seguinte: porque relativamente enfraquecido? Com o Bolsonaro fora do jogo de elegibilidade até 2030, ele se enfraquece. Se Bolsonaro, eventualmente, numa situação não muito provável, mas nada impossível, de uma mudança que possa torná-lo elegível antes de 2030, esse cenário precisa ser revisto, porque é outra história.
Mas da maneira como está agora, que o Bolsonaro é apenas um cabo eleitoral, eu acho que ele sai relativamente enfraquecido porque, no final das contas, ele não conseguiu fazer a transferência do seu capital político para os seus candidatos. E além disso, teve um outro fenômeno, que são nomes de outsiders ou pessoas que estão rivalizando no campo da extrema direita. É o próprio caso do Pablo Marçal.
O fenômeno Pablo Marçal é importante porque, para além da eleição específica do município de São Paulo, ele revelou uma situação que a direita mais tradicional e agora mais ligada ao PL – porque também tem isso, a "nova direita" tradicional – se ligou ao Ricardo Nunes. Ele não responde a todos os anseios da extrema direita. Ele é um candidato que não veste essa roupagem que seria mais adequada ao que a extrema direita espera, que é alguma coisa como armas, um discurso claramente mais misógino, muito mais violento.
No entanto, era o que tinha, e o candidato relativamente adequado. E o que que acontece? Aparece o Pablo Marçal, que é um candidato que realmente apareceu do nada, não era alguém com tradição na política, não era alguém que se esperava que fosse aparecer na política…
Tinha tentado concorrer à presidência, mas teve a candidatura impugnada…
Era visto como alguém que não tinha uma candidatura viável. Tanto que quando ele, ainda na pré campanha, diz que vai se lançar à prefeitura, isso era visto de maneira risível. As pessoas tiravam sarro, brincavam, achavam que era uma jogada de marketing para que ele capitalizasse seus negócios, para que ganhasse visibilidade, etc.
Só que a candidatura do Pablo Marçal se torna viável, a diferença do voto do primeiro turno para Nunes, Boulos e Pablo Marçal é muito pequena. Ele se mostrou alguém relevante politicamente, a ponto do Boulos aceitar a live, na sexta-feira antes da votação, para que ele fosse entrevistado no que o Marçal chamou de uma "entrevista de emprego".
Esse fenômeno, de certa maneira, colocou em disputa a própria posição do Bolsonaro e do bolsonarismo, como se houvesse uma espécie de disputa interna para saber quem que é o candidato mais bolsonarista: se é o próprio Bolsonaro ou se é uma figura como o Pablo Marçal, por exemplo. Então, o bolsonarismo está em disputa inclusive pela própria posição da família Bolsonaro e de Bolsonaro.
Agora, a gente não pode esquecer que hoje só existem duas figuras públicas nacionais que conseguem, de fato, fazer um amplo arco de alianças. Uma dessas figuras é o Lula, que consegue fazer um arco de alianças entre esquerda e centro, inclusive. E a outra dessas figuras é Bolsonaro, que consegue fazer um amplo espectro de alianças no campo da direita e um pouquinho do centro.
Então, não dá para dizer que Bolsonaro está morto politicamente e que esse relativo enfraquecimento dele como cabo eleitoral significa enfraquecimento dele como candidato. São coisas diferentes.
Edição: Nicolau Soares