A disputa entre Kamala Harris e Donald Trump para a presidência dos EUA determinará não apenas o rumo da política estadunidense, mas também as perspectivas sobre o conflito ucraniano e as relações entre o Ocidente e a Rússia.
A guerra da Ucrânia - e os seus possíveis desdobramentos - é um dos principais pontos de disputa entre os candidatos das eleições dos EUA, que acontece na próxima terça-feira (5). No centro do debate está a questão do prolongamento do apoio financeiro e militar à Ucrânia.
Por um lado, a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, representa a continuidade da política do presidente Joe Biden, de apoio irrestrito a Kiev e confrontamento com a Rússia. Durante reunião com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, a vice-presidente afirmou que o apoio a Kiev representa "um interesse estratégico dos Estados Unidos".
"Há pessoas no meu país que querem forçar a Ucrânia a desistir de uma parte significativa do seu território soberano, que exigirão que a Ucrânia aceite a neutralidade e desista das relações de segurança com outros países. Estas propostas coincidem com as propostas de Putin. E sejamos honestos, isto não são ofertas de paz. São ofertas de rendição. Elas são perigosas e inaceitáveis", disse Harris.
Do outro lado, o candidato republicano e ex-presidente, Donald Trump, já protagonizou um cenário de desgaste com a Ucrânia. Ele adota uma retórica de busca de resolução do conflito, mesmo que não forneça qaisquer detalhes sobre os planos de como resolver a crise. Durante a vista de Zelensky aos EUA no final de setembro, Trump disse que a Ucrânia "está em ruínas" e defendeu que o presidente ucraniano faça concessões a Putin.
Na frente dos jornalistas e ao lado de Zelensky, Trump destacou que está pronto para trabalhar em um acordo de paz e reforçou que tem um bom relacionamento com Putin, criando um clima tenso entre os dois. "Espero que tenhamos relações melhores entre nós", interrompeu Zelensky, arrancando risadas de Trump.
No passado, o candidato republicano havia criticado várias vezes a continuidade do apoio financeiro e militar à Ucrânia. O diretor do Instituto Ucraniano de Política, Ruslan Bortnik, em entrevista ao Brasil de Fato, afirmou que, de fato, "a Ucrânia perdeu o apoio bipartidário".
"Ficou a impressão que a Ucrânia está fazendo uma aposta especificamente nos democratas e na vitória de Kamala Harris. Mas se Kamala Harris não vencer, a liderança ucraniana pode enfrentar tempos muito difíceis em relação aos EUA", diz o analista.
Zelensky afirmou diversas vezes que conta com o apoio dos EUA para implementar o seu "Plano da vitória", que prevê a condição da assistência militar de Washington. Já o presidente russo, Vladimir Putin, durante a coletiva de imprensa na Cúpula do Brics, em Kazan, ao comentar a posição de Trump de buscar pôr um fim ao conflito na Ucrânia, afirmou que o futuro das relações bilaterais depois das eleições presidenciais estadunidenses depende de Washington.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Moscou "expressa gratidão a todos aqueles que falam sobre a paz na Ucrânia e oferecem opções para resolver o conflito".
"Expressamos a nossa gratidão a todos aqueles que, independentemente do seu estatuto, seja um funcionário, um representante da sociedade civil, um político, falam e por vezes oferecem algumas opções destinadas a uma resolução política e diplomática pacífica da situação em torno da Ucrânia", disse a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova.
Edição: Rodrigo Durão Coelho