Nesta segunda-feira (4), o governo de Israel notificou oficialmente a ONU sobre o fim de sua cooperação com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA). Oficiais da agência agora temem um colapso no sistema de assistência humanitária em Gaza.
O Parlamento israelense (Knesset) proibiu, em 28 de outubro, as atividades da UNRWA em Israel e nos territórios palestinos ocupados. A medida viola tratados internacionais dos quais Israel é signatário, dizem especialistas.
A UNRWA foi criada em 1950 pela ONU e presta serviços sociais a milhões de refugiados palestinos nos territórios ocupados e em vários países árabes, muitos deles descendentes das centenas de milhares de deslocados pela Nakba, após a criação do Estado de Israel em 1948.
O acordo da agência com Israel data de 1967, quando começou a ocupação israelense dos territórios palestinos da Cisjordânia e Gaza, assim como de Jerusalém Oriental. Israel acusa "funcionários da organização de terem participado do massacre de 7 de outubro", segundo o comunicado do Ministério.
"A ONU recebeu inúmeras evidências de que agentes do Hamas são funcionários da UNRWA e que suas instalações estão sendo utilizadas com fins terroristas", acrescenta a nota.
Possível "colapso" na ajuda humanitária
"Caso a lei seja implementada, corre o risco de provocar o colapso da operação humanitária internacional em Gaza, da qual a UNRWA é a coluna vertebral", alertou Jonathan Fowler, porta-voz da agência. "Para nós, a UNRWA ou nada", disse Shafic Ahmad Jad no campo de refugiados de Nur Shams, norte da Cisjordânia, onde os habitantes temem por seu futuro desde que o escritório da agência sofreu graves danos durante um bombardeio israelense.
Mas o ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, rejeita o argumento. "A grande maioria da ajuda humanitária em Gaza chega por outras organizações e apenas 13% desta ajuda procede da UNRWA", disse.
Após o ataque do Hamas em 7 de outubro, o exército israelense iniciou uma ofensiva em Gaza que deixou mais de 43.300 mortos, a maioria civis, segundo os dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
Israel mantém os bombardeios sem trégua na Faixa de Gaza há mais de um ano, onde vivem quase 2,4 milhões de pessoas, a maioria em condições consideradas "desastrosas" pela ONU.
Nas últimas semanas, a IDF (exército israelense) intensificou as ofensivas contra o norte da Faixa de Gaza. Mais de 100 mil palestinos, sendo a maioria mulheres e crianças, estão cercadas na região sem comida ou medicamentos, informou o porta-voz da Defesa Civil na Fixa de Gaza, Mahmoud Basal no sábado (2).
Basal, durante declaração para a agência de notícias Quds Press, disse que não há tratamento médico no norte da Faixa, “em um mundo que fala sobre democracia enquanto deixa Gaza para ser massacrada”.
"A cada hora, há massacres, pessoas deslocadas e pessoas famintas, não temos água e nenhuma ajuda está sendo entregue", lamenta Sumaya Al-Zaanin, 40 anos, que foi deslocada diversas vezes em Gaza.
Ataques a equipes de vacinação
Também foram reportados ataques do exército israelense as equipes da UNICEF na campanha de vacinação contra a poliomielite. No sábado, Israel atacou o veículo pessoal de um membro da equipe que estava ajudando na campanha, no campo de refugiados de Jabalia, norte de Gaza.
Outro ataque feriu três crianças, perto de uma clínica de vacinação em Sheik Radwan, durante a ação da campanha contra a polio. No sábado, a diretora-executiva da UNICEF, Catherine Russel reforçou que a lei humanitária internacional exige a proteção de civis e estruturas civis, incluindo trabalhadores humanitários e edifícios residenciais.
A UNICEF pediu a Israel que conduzisse uma “investigação imediata” sobre o incidente que envolveu sua equipe e pediu a responsabilização dos responsáveis.
Bombardeios na Síria e Líbano
Ainda nesta segunda-feira, o Ministério da Saúde do Líbano anunciou que três pessoas foram mortas e outras nove ficaram feridas em um bombardeio israelense em Haret Saida, região densamente povoada perto da cidade de Sidon, no sul do país.
Neste ataque, Israel anunciou ter "eliminado" o comandante local do Hezbollah no sul do Líbano Abu Ali Rida e afirmou que este homem era responsável por "planejar e executar ataques com foguetes e mísseis antitanque contra as tropas israelenses", além de "supervisionar" as atividades terroristas do Hezbollah na região.
O ataque não foi precedido por um aviso israelense de evacuação. Também no último domingo (3), um bombardeio israelense atingiu a cidade de Ghazieh, ao sul de Sidon, informou a agência de notícias oficial libanesa NNA.
O ataque atingiu um edifício residencial, segundo um correspondente da agência de notícias AFP, que disse que uma criança foi resgatada dos escombros. O Ministério da Saúde não comunicou nenhum balanço de mortos neste atentado.
Os bombardeios de Israel ao Líbano causaram 2.980 mortes desde o início dos ataques em 23 de setembro, segundo o Ministério da Saúde Pública libanês. Os números podem ser ainda maiores por conta dos corpos que ainda não foram resgatados ou identificados.
Na Síria, um bombardeio israelense atingiu também nesta segunda a zona de Sayyeda Zeinab, no sul de Damasco, capital da Síria, onde um importante santuário xiita é vigiado por grupos pró-Irã, indicou a imprensa estatal.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) afirmou que o atentado atingiu "uma casa em uma fazenda no setor Sayyeda Zeinab, usada por membros do grupo libanês Hezbollah e da Guarda Revolucionária iraniana". Israel afirmou que, neste ataque, atingiu o QG da inteligência do Hezbollah.
Desde que a guerra civil começou em 2011 na Síria, Israel realizou centenas de bombardeios na Síria contra o Exército sírio e grupos apoiados pelo Irã, incluindo o Hezbollah, destacados em apoio às forças governamentais.
O ritmo destes ataques aumentou desde a escalada do conflito entre o Hezbollah e Israel no final de setembro.
*Com AFP e Memo
Edição: Rodrigo Durão Coelho