O Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) da Faculdade de Planaltina da Universidade de Brasília (UnB) alcançou nota 5 na avaliação do Ministério da Educação (MEC), o maior grau de qualidade do órgão. A marca é considerada um reconhecimento significativo que destaca a qualidade do ensino e da metodologia aplicada.
O programa é oferecido na Faculdade de Planaltina (FUP) e conta atualmente com 311 estudantes matriculados e tem uma duração de quatro anos. O curso forma professores para atuar nas escolas do campo e nas escolas quilombolas, atendendo principalmente alunos do Distrito Federal e do entorno de Goiás como Cavalcante, Teresina, Monte Alegre, Formosa, Flores de Goiás e Unaí, em Minas Gerais.
Segundo a professora e coordenadora do curso, Cynara Barreto, a LEdoC não apenas cumpre os requisitos do MEC, mas também se destaca por sua proposta pedagógica inclusiva e inovadora. "Estamos formando professores que não apenas compreendem a teoria, mas que também são capazes de aplicar esse conhecimento em suas comunidades, promovendo mudanças significativas", afirma.
De acordo com a professora Eliene Novaes, especialista em educação rural, esse resultado reflete um trabalho coletivo que se destaca por escolher um lado na disputa de hegemonias que existem em torno do conhecimento difundido entre a população rural ou aqueles diretamente afetados pelas questões fundiárias. Ela explica que o curso é baseado numa prática de educação vinculada a um projeto de desenvolvimento do campo, em que os estudantes ganham autonomia e ganham protagonismo.
“O que está por trás do debate das licenciaturas em Educação do Campo é a disputa por um projeto que centralize os sujeitos do campo, um projeto de agricultura familiar e agroecologia, que inclua estudantes quilombolas, indígenas, camponeses, ribeirinhos e caiçaras”, afirma Novaes. Dessa forma, é possível realizar a educação “valorizando suas tradições e costumes como práticas pedagógicas nas escolas”.
O curso tem uma forte presença de estudantes quilombolas e camponeses, refletindo a inclusão e a diversidade que caracterizam a Educação do Campo. "Essa avaliação é uma ação afirmativa que dá condições para que esses alunos, que provavelmente não teriam acesso ao ensino superior, possam estudar na universidade pública", destaca Eliene.
Além de formar professores para atuar nas escolas do campo e em comunidades quilombolas, a LEdoC aborda questões centrais como a luta pelo direito à terra, a reforma agrária e a produção agroecológica. "Defendemos a ideia de que o campo é um lugar de vida, desenvolvimento e produção cultural, e isso deve ser discutido na formação dos educadores", conclui Eliene Novaes.
Metodologia de ensino
Eliene explica que um dos princípios mais fortes para manter a qualidade do programa é a Pedagogia da Alternância. Trata-se de uma metodologia que “organiza o processo de ensino-aprendizagem em tempos educativos alternados. No nosso caso, os estudantes passam parte do semestre dentro da universidade — cerca de 60 dias — com alojamento, alimentação e toda a assistência necessária para continuar estudando durante esse período”.
Ela acrescenta que essa prática é importante para estabelecer uma nova relação com o tempo social, tipicamente trabalhado no campo. “Eles também têm um tempo de comunidade. Portanto, a alternância se refere tanto a tempos educativos quanto à relação simbiótica entre aquilo que vivenciam na comunidade e aquilo que a universidade estuda”, ressalta.
Esse modelo de ensino permite que os alunos se tornem protagonistas do seu aprendizado, pois eles não apenas assimilam teorias, mas também as aplicam em contextos reais. Durante o tempo na comunidade, os estudantes são incentivados a identificar problemas locais e a desenvolver soluções, promovendo uma aprendizagem ativa e contextualizada.
A abordagem não só fortalece a conexão entre teoria e prática, mas também valoriza o conhecimento que os estudantes trazem de suas próprias experiências e culturas. Ao retornar à universidade, eles têm a oportunidade de refletir criticamente sobre suas vivências, integrando esse aprendizado com as bases acadêmicas e científicas oferecidas, criando assim um ciclo contínuo de aprendizado que enriquece tanto os alunos quanto as comunidades em que estão inseridos.
Avaliação do MEC
A coordenadora do curso explica que a alta qualificação do MEC é baseada em três fatores que avaliam o curso segundo uma variedade de critérios. O primeiro deles é o plano pedagógico do curso. “Essa proposta é avaliada, e é nela que explicamos a importância da alternância, da inclusão e de como trabalhamos com os estudantes, qual formação propomos no projeto do curso”, explica Cynara Barreto.
O segundo fator é a formação dos professores do curso. A avaliação inclui se todos os docentes têm doutorado — no nosso caso, todos possuem —, quanto tempo estão na universidade e como se dedicam ao curso. “Mostramos as questões de pesquisa e extensão e como atuamos junto com os estudantes de licenciatura em Educação do Campo. A formação do corpo docente e sua experiência na educação básica também são avaliadas”.
Para dar visibilidade ao conhecimento produzido, “compartilhamos os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) que orientamos e o tempo que dedicamos para o desenvolvimento do curso”. O terceiro fator é a infraestrutura que a universidade disponibiliza. O curso acontece na Faculdade UnB de Planaltina, “onde temos um alojamento específico, acesso ao RU, biblioteca, laboratórios de ensino (de artes, química, física, biologia, geologia, matemática e informática) — que são amplamente utilizados, especialmente pelos alunos de matemática”.
Além disso, a LEdoC é um exemplo de política afirmativa, oferecendo oportunidades para estudantes de comunidades vulneráveis. “Temos um impacto significativo nessas comunidades, pois a formação dos estudantes, aliada à presença da universidade, resulta em melhorias nas condições de vida e educação local”, conclui Eliene Novaes.
Com uma visão voltada para o futuro, a LEdoC busca continuamente expandir suas práticas e fortalecer a conexão com as comunidades. “Estamos sempre avaliando e adaptando nossas metodologias para garantir que estamos atendendo às necessidades dos nossos alunos e das comunidades onde eles atuam”, afirma Cynara Barreto.
Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Márcia Silva