Em São Paulo

Execução no Oxxo: imagens mostram PM dando tiros pelas costas, ignorados em Boletim de Ocorrência

Sobrinho do rapper Eduardo Taddeo estava desarmado; BO diz que PM matou para 'revidar possível injusta agressão'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Imagem mostra a mão do policial com a pistola para fora da loja, enquanto Gabriel, de moletom vermelho, corre de costas - Reprodução

Imagens da câmera de segurança da loja Oxxo na zona sul de São Paulo, onde um policial militar (PM) executou um homem negro com ao menos oito tiros no último domingo (3), mostram os disparos sendo dados pelas costas. O fato é ignorado no Boletim de Ocorrência (BO).

Segundo o BO, o policial Vinicius de Lima Britto teria assassinado Gabriel Renan da Silva Soares "para revidar possível injusta agressão". Já os prints do vídeo, obtidos por uma fonte que pede anonimato, mostram Gabriel correndo de costas em frente ao Oxxo, enquanto era alvejado.

Gabriel, que faria 27 anos nesta quinta (7), estava desarmado, tentou furtar dois produtos de limpeza e foi morto com 11 perfurações de bala pelo policial, que estava no Oxxo, mas não em serviço pela corporação. Com Gabriel foram encontrados apenas um cartão do SUS, dois pedaços de papel, uma nota de dólar e duas fotografias.

O rapaz assassinado é sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, que integrou o grupo Facção Central e cujo vídeo de denúncia feito em frente ao Oxxo impulsionou a repercussão do caso.

De acordo com Boletim de Ocorrência, o PM Vinicius Britto estava na loja quando viu Gabriel pegando os produtos. Portando uma pistola .40, teria abordado o rapaz, se identificando como policial. Ao ser questionado, diz o documento, "Gabriel afirmou que estava armado, colocando a mão dentro da blusa, como se estivesse armado e afirmou estar armado. O que obrigou Vinicius a efetuar disparos contra Gabriel, que veio a óbito no local".

Já os prints mostram Gabriel entrando na loja, pegando dois produtos de limpeza na prateleira, escorregando nos papelões molhados de chuva na entrada do Oxxo e, em seguida, se levantando para pegá-los. As cenas seguintes já mostram o policial segurando a pistola para fora da loja e disparando contra Gabriel, que está de costas na calçada, correndo.

Uma câmera de outro estabelecimento da av. Cupucê mostra que foram cerca de 25 segundos entre o momento em que Gabriel entra na loja e cai, de costas para o Oxxo, na calçada.

Não há nenhuma imagem que indique, conforme diz o BO, que, já baleado, Gabriel teria voltado em direção ao policial com a mão embaixo da blusa e dito "não mexe comigo, que estou armado, não quero nada do que é seu", motivo pelo qual teria sido novamente alvejado.

"Como que uma pessoa toma um tiro sem arma e vai voltar de novo para enfrentar um cara com arma?", questiona, com lágrimas nos olhos, Antônio Carlos Moreira Soares, pai de Gabriel.

"Se você lê o BO, eles falam o que querem. Claro, o moleque está morto. Não tem nada a ver com o que aconteceu", se indigna o motorista Antônio Soares. "Pedisse o documento, poupasse, levasse preso, qualquer coisa. Ele acabou com a nossa família", diz.

Nesta quarta-feira (6), o Brasil de Fato esteve no local do assassinato. Durante a manhã, uma viatura da PM esteve na loja e conversou com funcionários do Oxxo que, em seguida, informaram à reportagem terem sido orientados a não comentar o caso.

Questionada, a Secretaria de Segurança Pública do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) informou que "todas as circunstâncias dos fatos são investigadas por meio de inquérito policial instaurado pela Divisão de Homicídios do DHPP".

Edição: Nicolau Soares