Após meses de corrida eleitoral e pesquisas apertadas que apontavam um empate técnico entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump, mas com Harris ligeiramente a frente em todas elas, o magnata de 78 anos conseguiu a virada nas eleições de 2024 e se tornou o próximo presidente dos Estados Unidos.
O que justifica a derrota de Harris e o fim de uma possível sucessão democrata no poder estadunidense? Para Luisa Martinez, do partido político Democratic Socialist of America (Democratas Socialistas da América), os únicos responsáveis pela vitória de Trump são Joe Biden, Kamala Harris e o partido democrata.
"Os democratas não deram outra razão para votarem neles além de 'Trump será pior'", disse Martinez ao Brasil de Fato. "Em vez de apresentar visão política alternativa, eles se movimentaram mais para a direita, adotando a linha anti-imigração, e mantendo apoio ao genocídio [na Palestina] e à guerra na Ucrânia."
Ela aponta que alguns bons feitos do governo Biden com relação à política nacional, que poderiam ter sido ressaltados durante a campanha para aumentar a popularidade da ex-procuradora, foram deixados de lado.
Kamala preferiu recrutar republicanos que foram aliados de Trump em seu primeiro mandato, como Dick Cheney, que os democratas declaravam abertamente como uma das diversas figuras fascistas ligadas ao trumpismo. Para Martinez, esse movimento não agrada ao eleitorado: "Eu me lembro quando o partido democrata dizia que essas pessoas eram o inimigo".
Outro ponto levantado por Martinez é que o partido democrata tende a apontar culpados externos, e não olhar para si. "Os liberais costumam culpas candidatos da terceira via, como Jill Stein. Mas esses votos são irrelevantes [na fatia total]."
Em Dearborn, cidade do estado-pêndulo de Michigan, com maior população árabe do país, 46,8% da população votou no magnata, contra 27,8% para Harris e 22% para Jill Stein, do partido verde. Em 2020, Joe Biden venceu na cidade com 74,2%, contra 24,2% de Trump.
A liderança socialista também destaca o voto da população de origem árabe no país, que perderam a confiança no discurso de Kamala. "Não há como culpá-los, depois que perderam o pouco de confiança que tinham nos democratas".
A política internacional do próximo governo estadunidense é o que mais preocupa Martinez: "Para nós, [o que podemos esperar] se baseia muito em quem ele escolherá como conselheiro para a América Latina. Se for Marco Rubio, que focou sua carreira em estrangular Cuba e Venezuela, o futuro será pior".
Edição: Leandro Melito