'Impossível piorar'

Rússia comenta vitória de Trump: 'Não temos ilusões sobre o presidente eleito'

Kremlin fala de 'país hostil' à Rússia; Zelensky parabeniza republicano

Brasil de Fato | São Petersburgo (Rússia) |
O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano Donald Trump vence as eleições e volta a assumir a Casa Branca - AFP

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia publicou nesta quarta-feira (6) uma nota comentando a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA. De acordo com a chancelaria, a volta de Trump à Casa Branca "reflete a insatisfação dos americanos" com a administração de Biden e com o programa eleitoral do Partido Democrata.

A diplomacia russa ressaltou o fato de que a campanha de Trump apostou nas questões econômicas e no ataque aos imigrantes, pois, de acordo com a pasta, são pautas "que realmente importam aos eleitores, em oposição ao rumo globalista da Casa Branca".

"Apesar da poderosa campanha de propaganda lançada contra Donald Trump pelos democratas utilizando recursos administrativos com o apoio dos meios de comunicação liberais, o candidato republicano, tendo atrás de si a experiência da sua primeira presidência, apostou nas questões da economia e da migração ilegal que realmente preocupam os eleitores, em oposição ao rumo globalista da Casa Branca", diz o texto. 

Ao mesmo tempo, o Ministério das Relações Exteriores russo manteve o tom de cautela assumido durante a campanha eleitoral, lembrando que a elite política dos EUA mantêm uma linha anti-Rússia.

"Não temos ilusões sobre o presidente americano eleito, que é bem conhecido na Rússia, e sobre a nova composição do Congresso, onde os republicanos, segundo dados preliminares, estão ganhando vantagem. A elite política dominante nos Estados Unidos, independentemente da filiação partidária, adere a atitudes anti-russas e à linha de 'contenção de Moscou'", diz a nota.

A pasta diz ainda que a Rússia trabalhará com a nova administração da Casa Branca "defendendo firmemente os interesses nacionais russos e concentrando-se em alcançar todos os objetivos da operação militar especial (termo oficial usado pelo Kremlin para a guerra da Ucrânia)". 

Kremlin: "Impossível pioar"

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também comentou os resultados das eleições dos EUA, dizendo que "não tem conhecimento" dos planos de Vladimir Putin de parabenizar Donald Trump pela sua vitória.

"Ainda assim, não esqueçamos que estamos falando de um país hostil que está direta e indiretamente envolvido numa guerra contra o nosso Estado", disse o porta-voz do Kremlin a jornalistas.

Ao ser questionado pelos repórteres se Trump ficaria ofendido se Putin não parabenizasse pela sua vitória, e se isso pioraria as relações entre a Rússia e os Estados Unidos, Peskov respondeu que "é quase impossível piorar as coisas". 

"As relações estão no seu ponto mais baixo historicamente. E então isso dependerá da próxima liderança dos EUA. O presidente Putin repetiu repetidamente que está aberto a um diálogo construtivo baseado na justiça, na igualdade e na vontade de ter em conta as preocupações de cada um. E o Presidente Putin mantém esta atitude. Ele confirmou isso várias vezes. Neste momento, a administração dos EUA está diametralmente oposta. Veremos o que acontece a seguir", completou.

Zelensky parabeniza Trump

A guerra da Ucrânia e os interesses de Kiev no conflito podem ser alguns dos pontos mais afetados pela volta de Trump à Casa Branca no que diz respeito ao cenário internacional. O republicano deu diversas declarações colocando em xeque o prolongamento do apoio financeiro e militar à Ucrânia.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, por sua vez, reagiu com prontidão ao parabenizar Donald Trump pela sua vitória nas eleições, manifestando esperança na manutenção da parceria estratégica entre os EUA e a Ucrânia. 

Na sua mensagem, publicada na rede social X, Zelensky classificou como uma "reunião maravilhosa" o encontro que teve com Trump em setembro, na qual, segundo o líder ucraniano, as partes "discutiram em detalhe a parceria estratégica entre a Ucrânia e os Estados Unidos, o plano pela vitória e formas de impedir a agressão russa contra a Ucrânia". 

"Aprecio o compromisso do presidente Trump com uma abordagem de 'paz através da força' nos assuntos mundiais. Este é precisamente o princípio que pode, na prática, aproximar uma paz justa na Ucrânia. Espero que juntos tornemos isso realidade", disse Zelensky.

No entanto, o encontro entre os dois em setembro foi tratado como um desgaste na relação entre Zelensky e Trump. Na ocasião, Trump chegou a afirmar que a Ucrânia "está em ruínas" e defendeu que o presidente ucraniano faça concessões a Putin. 

Além disso, na frente dos jornalistas e ao lado de Zelensky, Trump destacou que está pronto para trabalhar em um acordo de paz e reforçou que tem um bom relacionamento com Putin, criando um clima tenso entre os dois. 

Apesar do tom de cautela do Kremlin, o ex-presidente e atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Federação Russa, Dmitry Medvedev, afirmou que "a vantagem" de Donald Trump "é que ele não gastará muito dinheiro com a Ucrânia, já que o republicano é 'um empresário até a alma'". 

Segundo Medvedev, Trump não gosta de investir em "aliados estúpidos, maus projetos de caridade e organizações internacionais gulosas", uma vez que isso é ineficaz. De acordo com o ex-presidente russo, conhecido por sua retórica agressiva e hostil a Kiev e ao Ocidente, a Ucrânia pertence a este grupo.

Ao mesmo tempo, Medvedev disse que o sistema pode pressionar Trump, e então ele ainda será "forçado a dar dinheiro" para a Ucrânia no contexto da guerra. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho