Se não houver nenhuma surpresa, no dia 20 de janeiro de 2025 Trump voltará a presidir os Estados Unidos. Detalhe: o candidato do Partido Republicano conseguiu maioria de votos no Colégio Eleitoral e, também, conseguiu maioria entre os eleitores.
O que explica este resultado? O que mudará na política externa e interna dos Estados Unidos? O que farão aqueles que equipararam Trump, não apenas com o fascismo, mas também com o nazismo?
O que devemos fazer nós, na América Latina e Caribe, especialmente no Brasil?
Nas próximas horas, dias e semanas, muita gente vai queimar os neurônios tentando responder estas e outras questões.
A seguir, algumas opiniões.
Primeiro: fenômenos complexos geralmente não têm uma única causa.
Mas tudo indica que a vitória de Trump, inclusive com maioria de votos populares, está relacionada com a situação econômica dos Estados Unidos. Alguém poderia dizer: mas os índices econômicos dos EUA são positivos (como os do Brasil, acrescentaria alguém da Fazenda brasileira)!
Sim, isto é verdade.
Mas, como no Brasil, o julgamento popular não coincide com os índices.
Além disso, e muito mais importante, o que está em jogo não é apenas a situação econômica no sentido estrito do termo; o que está em jogo é algo mais profundo, a saber, o lugar dos Estados Unidos no mundo.
Tanto Democratas quanto Republicanos querem que os EUA voltem a liderar.
E, mesmo que por pequena diferença, a maioria do eleitorado estadounidense escolheu a fórmula trumpista para tentar "fazer a América grande outra vez". O que isto significará na prática? Em algumas questões, significará mais do mesmo ou uma radicalização do que já está acontecendo.
Noutras questões, teremos novidades.
A esse respeito, recomendo ler o seguinte artigo.
Seja lá o que Trump efetivamente venha a fazer, o impacto político imediato será o envalentonamento da extrema-direita mundo afora e a decorrente polarização. Um verdadeiro inferno para os que têm medo da polarização.
Mas como a polarização existe, gostemos ou não, temos que nos preparar para vencer.
Para alguns isso exigirá "ir mais para o centro", ou seja, aprofundar as alianças entre a esquerda e a direita gourmet.
Acontece que uma fórmula aparentada com esta foi derrotada nas eleições estadunidenses. O "social liberalismo democrático" é incapaz de vencer a extrema-direita. Claro, os caminhos alternativos - por exemplo, "ir para a esquerda" - não são nada fáceis.
Mas é o que temos, se não quisermos que se repita aqui o que acabou de acontecer na gringolândia.
Trata-se de tomar medidas mais profundas e velozes para garantir nossa soberania econômica, o que entre outras coisas exige deixar de lado as limitações do Calabouço Fiscal.
Trata-se de tomar medidas urgentes para reconstruir a integração regional, o que entre outras coisas exige voltar a manter boas relações com o governo da Venezuela.
Trata-se de aprofundar as relações com os BRICS, o que entre outras coisas significa estabelecer um acordo de alto nível entre a China e o Brasil, na visita que Xi Jinping fará ao Brasil.
Trata-se, enfim, de voltar a pensar a longo prazo. Entre outros motivos porque, sem estratégia, no curto prazo estaremos todos mortos.
*Valter Pomar é historiador e professor da UFABC.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Nathallia Fonseca