cada sessão e cada debate são um ato de coragem e de amor à nossa cultura
Esta semana, a APAN deu início a 5ª Edição do Festival Internacional do Audiovisual Negro (FIANB), em Salvador e São Paulo, até 14 de novembro. O evento, no entanto, não é apenas um festival de cinema. Para todos nós na APAN e para cada profissional, artista e espectador que construiu essa trajetória ao nosso lado, o FIANB é uma casa, um espaço que criamos para nos vermos, nos entendermos e celebrarmos tudo o que somos e o que podemos ser. E a cada edição buscamos transformar essa casa em um lar de afetos, conquistas e muito, muito trabalho.
Em 2024, chegamos a mais um festival com o tema "Cinema em Pretuguês", um convite poderoso para revisitar a riqueza de nossas heranças e enaltecê-las na tela. Olhamos para o festival com uma profunda gratidão, porque ele nasceu para ampliar os espaços para contarmos nossas múltiplas histórias, dar rosto e nome aos nossos talentos, incluir a nossa narrativa na história do cinema. Nossa inspiração para esta edição, a antropóloga Lélia Gonzalez, trouxe para nós o conceito de "Améfrica Ladina" — uma América Latina enegrecida, que carrega em cada esquina, cada ritmo e cada palavra as marcas do legado africano. E o "Pretuguês" que escolhemos como tema este ano não é apenas uma palavra, mas uma resistência, uma afirmação de que nosso jeito de falar, nossa arte e nosso olhar são parte significativa da riqueza cultural deste país e devem ocupar seu lugar no mundo.
E neste ano, o FIANB leva o cinema negro a várias regiões e formatos: começou esta semana em Salvador, cidade que respira ancestralidade e cultura africana, e chega a São Paulo no dia 21 de novembro, com uma mostra infantil no Sesc Bom Retiro e outras exibições no Cine Olido. Nos dias 11 e 14 de novembro, acontecerá o MECAA, um evento online promovido pela APAN, dedicado ao mercado audiovisual. Dos dias 11 a 24 de novembro, as mostras estarão disponíveis na plataforma TodesPlay, ampliando o alcance das produções e conectando novas audiências a essas histórias. Nosso papel é justamente esse: romper fronteiras e permitir que o cinema negro ecoe além das telas, tocando todos aqueles dispostos a ouvir, aprender e refletir.
Para nós, cada sessão e cada debate são um ato de coragem e de amor à nossa cultura. São momentos para discutirmos como podemos fortalecer a circulação e distribuição de produções negras, como podemos superar os desafios do mercado e, acima de tudo, como manter a nossa essência em um setor que ainda precisa aprender a nos respeitar plenamente.
O FIANB é o nosso grito coletivo por mais inclusão, por uma arte mais diversa e verdadeira, que representa o Brasil em sua totalidade. Ver mais uma edição se concretizar é emocionante, é como sentir que, pouco a pouco, estamos alcançando o que sonhamos. Nós acreditamos que a transformação social começa ao rompermos estereótipos, ao protagonizarmos a construção das narrativas com consciência do que somos e do potencial ético e estético do audiovisual. Esse festival não é sobre exclusividade, é sobre presença e permanência nos imaginários em nossa pluralidade de vivências e criações.
Convidamos todas as pessoas a se juntarem a nós na 5ª Edição do Festival Internacional Audiovisual Negro 2024 e a fazer parte dessa corrente de vozes, a assistir, a debater e a se encantar com o "Cinema em Pretuguês".
E que cada sessão seja um abraço, uma descoberta, e que esse festival inspire novos caminhos, novos olhares e um novo ciclo de força para o audiovisual negro.
Sobre a APAN
Criada em 2016, a APAN - Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro - é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, apartidária e com articulação, mobilização, incidência política, ações e representação nas cinco regiões do país. Desde sua criação, a associação defende o fortalecimento das Ações Afirmativas como princípio e estratégia política fundamental para a garantia da inclusão da população negra no setor audiovisual e para o avanço na luta de combate ao racismo no Brasil. A APAN é fruto de uma articulação histórica de cineastas e profissionais do audiovisual brasileiro voltadas a potencializar as políticas públicas e as ações de mercado que fomentem e ampliem o audiovisual negro no país. A APAN, tem como eixo central para sua incidência a articulação política, pautar e tensionar a construção de caminhos para o audiovisual brasileiro atento a um debate racial, de gênero e territorialidade.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
Edição: Nathallia Fonseca