Caso repita a política externa de seu mandato anterior, o novo governo do republicano Donald Trump pode elevar ainda mais a tensão no Oriente Médio, por meio de uma guerra econômica e diplomática contra o Irã, buscando o isolamento do país.
Em seu governo anterior, o republicano autorizou o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, intensificou a venda de armas para a Arábia Saudita e retirou os EUA do acordo nuclear com o Irã.
Em seu segundo mandato, porém, o presidente estadunidense encontrará um cenário diferente na política externa, com um Ocidente "muito mais fraco", avalia Mohammad Marandi, um dos principais analistas políticos iranianos da atualidade.
"O Sul Global, ou as maiorias globais, ficaram mais fortes. Você vê a ascensão do Brics, a derrota da Ucrânia ocidental e como as pessoas em todo o mundo estão enojadas com o regime israelense e os países ocidentais que o apoiam. Você vê como a China está se tornando mais assertiva. [Tudo isso] na cara do Ocidente. Portanto, o Ocidente não está em uma boa situação e, precisa mudar sua política. Teremos de ver se Trump fará isso ou não."
A escalada do conflito no Oriente Médio pelo governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, principal aliado político e militar dos Estados Unidos na região, colocou fervura na relação do Irã com esses dois países. No início de novembro, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, prometeu uma "resposta rígida" a qualquer ataque de Israel e Estados Unidos contra países e grupos que integram o Eixo da Resistência.
Tanto o Hamas na Faixa de Gaza, como o Hezbollah, no Líbano, são apoiados pelo Irã, que também se envolveu em um ciclo de ataques com Israel nos últimos meses, aumentando temores de uma ampliação do conflito no Oriente Médio. Além do Hamas e do Hezbollah, o Irã apoia os rebeldes Houthis no Iêmen e grupos pró-Irã no Iraque, que fazem parte do que Teerã chama de Eixo da Resistência a Israel, que ocupa territórios palestinos desde 1967.
Durante a camapanha eleitoral, Trump prometeu "acabar com a guerra" na Faixa de Gaza o que, na prática, significa o aumento do apoio econômico e militar a Israel, de forma a garantir a sua vitória, com a expulsão da população palestina da Faixa de Gaza e a subsequente ocupação do território pelo governo Netanyahu.
"Na verdade, não faz diferença quem está no poder. O importante são as políticas que são implementadas", aponta Marandi. "No último ano, os Estados Unidos apoiaram o holocausto em Gaza, e agora estão apoiando um ataque genocida ao Líbano. Isso é inaceitável, e Biden e Harris pagaram o preço por esses crimes. Trump ainda não é o presidente, mas ele será julgado com base nas políticas que adotar depois de assumir o cargo novamente."
A ofensiva israelense em Gaza já causou pelo menos 43.469 mortes, em sua maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas. O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou nesta sexta-feira (8) ter contabilizado que 8.119 das mais de 34 mil mortes registradas durante os primeiros seis meses de massacre israelense na Faixa de Gaza - hoje passam de 43 mil - e concluiu que "quase 70% eram crianças e mulheres".
Entre as mortes verificadas, 3.588 eram crianças e 2.036 mulheres. Segundo o relatório, a proporção de mulheres e crianças indica "uma violação sistemática dos princípios fundamentais do direito internacional humanitário, em particular a distinção e a proporcionalidade".
Edição: Leandro Melito